domingo, 26 de janeiro de 2014

Como seria apagar uma lembrança?



"Nesta semana, assisti com a família ao filme "Brilho eterno de uma mente sem lembranças". Um clássico do cinema que conta a história de um casal que, como todos, vive uma fase difícil de um relacionamento que também já passou pela fase de intensa paixão, sonhos e muita vontade de fazer dar certo.

O sucesso da trama se deve a muitos detalhes de como ela foi criada. A história é entremeada por uma ficção científica, isto é, a possibilidade de realizar um desejo que, certamente, muitos de nós já tivemos: poder apagar uma lembrança ruim. Pelo menos ruim num determinado momento.

E quem já não teve de lidar com lembranças difíceis de digerir? Quem já não sofreu e chorou ao reviver internamente um amor que acabou, ou um relacionamento que, como no filme, entrou em crise e a paixão cedeu lugar à impaciência, intolerância, desentendimentos e desencontros?

Sim, em alguns momentos, é mesmo bastante dolorido relembrar. É muito angustiante não saber como parar de lembrar e lembrar e lembrar... daquela pessoa, daquele beijo, daquele tempo em que tudo era felicidade. Para lembrar que agora já não é bem assim. Que virou tensão, confusão, chatice.

E a polêmica estava armada. Na sala, ainda com o filme inacabado, cada um dava a sua opinião. Um dizia que seria ótimo poder apagar algumas lembranças. O outro dizia que não, que as lembranças são todas importantes e ainda bem que não podem ser apagadas. E o outro ficou em dúvida. Será? Será mesmo que até as lembranças ruins têm alguma função?

Eu, em particular, imediatamente me lembrei (e que bom poder lembrar!) do querido Evandro Mesquita, vocalista da ótima banda de rock Blitz, que fez muito sucesso nos anos 80, quando cantava a música "O romance da Universitária Otária" e num dos versos, repetia "Todo mundo quer ir pro céu, mas ninguém quer morrer".

É isso que penso. A gente quer só a parte boa da vida. Só o que nos convém. Só o que não dói. Só o prazer. Em princípio, essa ideia pode mesmo parecer bem interessante. Mas sabemos que não é assim que o ser humano funciona. Aliás, não é assim que a natureza funciona. O que é vivo precisa, essencialmente, da adversidade, da superação. O crescimento é filho da aprendizagem. E não há lição sem nenhuma dor.

Sim, claro, muito melhor que nossa intenção seja viver com prazer. Mas não pode ser, de modo algum, viver em função de evitar a dor. Não faz sentido apagar o que, em algum momento, parece-nos ruim. São as percepções de cada instante vivido que nos fazem enxergar a beleza de toda a história.

E isso também me faz lembrar da brilhante sensibilidade do poeta Rainer Maria Rilke ao dizer "Se você leva embora meus demônios, estará levando também meus anjos". Pois bem, quem continua desejando eliminar o que lhe parece chato, ruim, dolorido e angustiante neste momento, deve estar preparado para a inevitável perda do que poderia se transformar no maior tesouro de uma vida inteira.

Numa das últimas cenas do filme, as falas dos personagens centrais, vividos por Jim Carrey e Kate Winslet, fica claro que mais do que as lembranças, que podem mesmo por quaisquer razões se esvaírem de nossa memória, o que importa são os sentimentos - inapagáveis, posto que são vivos, mutantes e em constante reciclagem.

Hoje amor, amanhã dúvida, depois mágoa, depois saudade. E num outro dia qualquer, acorda amor, mais uma vez... e mais forte do que nunca! Amor por si, pelo outro, pelo mesmo, pelo novo. E se tiver coragem, desejo que você se lembre de tudo o que conseguir! E que haja lágrimas e sorrisos. Que haja história pra contar. Que haja vida pra brotar e amor pra recomeçar!"
Rosana Braga

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Todas as experiências nos proporciona crescimento.
Todos os acontecimentos da vida, mesmo os mais difíceis e desafiadores são, acredite, oportunidades de crescimento. Ainda que a princípio nos recusemos a aceitar isto, mudar este olhar para o que nos acontece, fará uma enorme diferença na forma como iremos viver.
Existem pessoas que só veem a culpa do outro, nunca a sua.
Se passamos pela experiência, seja ela agradável ou não, a responsabilidade é sempre compartilhada.
Às vezes é muito difícil aceitar que somos responsáveis...principalmente se perdemos algo...mas SEMPRE somos responsáveis/coniventes.
O trabalho da terapia muitas vezes é voltado para isto e a partir do momento em que o cliente consegue perceber sua conivência, geralmente algo debloqueia e aí recomeça o seu crescimento pessoal.
Ao invés de nos considerarmos uma vítima injustiçada do destino, podemos escolher nos tornar agentes de nossa própria transformação.
Pense nisso!
Tais

domingo, 12 de janeiro de 2014

Um Band-Aid na alma




"Não gosto de escrever sobre datas marcadas, mas às vezes acontece. Em cada virada de ano somos sacudidos por sentimentos positivos e negativos quanto a essas festas que para muitos são tormento. Vale a história do copo meio cheio ou meio vazio. Para alguns é um tempo de melancolia: choramos os que morreram, os que nos traíram, os que foram embora, os desejos frustrados, os sonhos perdidos, a fortuna dissipada, o emprego ruim, o salário pior ainda, a família pouco amorosa, a situação do país, do mundo, de tudo. Muitos acorrem aos consultórios de psicólogos e psiquiatras: haja curativo para nossa mágoa e autovitimização.

    Se formos mais otimistas, encararemos o ano passado, a vida passada, o eu que já fomos como transições naturais. Não é preciso encarar a juventude, os primeiros sucessos, o começo de uma relação que já foi encantada, como perda irremediável: tudo continua com a gente. Em lugar de detestar estes dias, podemos inventar e até curtir qualquer celebração que reúna amigos ou família. Não é essencial ser religioso: se os sentimentos, a família, as amizades, a relação amorosa forem áridos, invocar Deus não vai adiantar. Mas celebrar é vital - e nada como algumas datas marcadas para lembrar que a vida não é apenas luta; é também a possível alegria. Não ser precisa ser com champanhe caro nem presentes que vão nos endividar pelo ano inteiro: basta algum gesto afetuoso verdadeiro, um calor humano que abrande aquelas feridas da alma que sempre temos.

    Quanto aos projetos, é melhor evitar aquela lista de impossíveis. Importa cuidar da relação, ser mais gentil com os pais e menos crítico com os filhos, falar mais com os amigos, sair da redoma da amargura e abrir-se para o outro. Ser fiel, ser sincero, ser bondoso: a primeira coisa num namorado ou namorada, eu dizia sempre a meus filhos e hoje digo aos meus netos, é que seja uma boa pessoa, leal, gentil. O grosseiro é inadmissível. O ignorante é uma tristeza. O falso, cínico ou infiel, é bom manter longe. Mas, ainda que sem brilho, um bom amor, um bom amigo, um bom pai e mãe, um bom filho, fazem a festa.
    
    O resto são castanhas e espumantes, ou - para quem não bebe - qualquer coisa que faça cócegas no coração. Que faça sorrir. Mesmo para os descrentes, nestes dias algo mágico circula por este mundo nem sempre bonito nem bom. Mas, se nosso projeto for o eterno perder 10 quilos, conseguir (isso não se consegue, acontece...) uma namorada gostosa ou um marido rico - ou, quem sabe, uma parceria carinhosa -ganhar na loteria, vingar-se dos desafetos e mostrar quem é o bom, é melhor esquecer: não valerão a pena a festa nem o ano novo, pois vai ser tudo mentira, oco e vazio.

    Também é aconselhável deixar um segundo plano nestas a ideia de consertar o país: não vamos reinventar a democracia, a Justiça, a igualdade, a honradez e o bem estar geral. Não vamos evitar o desperdício de dinheiro nosso, o abandono dos flagelados, o horror das prisões, as falhas na Justiça, a violência, a insegurança, enfim, deixa pra lá.

    Vale mandar um pensamento e, se for o caso, uma oração aos que vivem privações emocionais ou materiais, que trabalham além do humanamente suportável, que perderam o amor de sua vida ou um filho amado, que foram esquecidos e decepcionados, que nesta data não vão escutar nem uma voz cálida ao telefone. E, para as nossas dores pessoais inevitáveis, a gente inventa um metafórico curativo para que o coração se comova, o sorriso se abra, o abraço encerre aqueles a quem dedicamos - e nos dedicam - algum afeto verdadeiro. Repito que valem todos os projetos e afetos, banais ou ousados, mas possíveis. Podem ser pequenos, como um Band-Aid: apesar dos nossos defeitos, a boa vontade, a gentileza, a licença que daremos para agradecer o dom da vida hão de nos iluminar melhor do que as antigas velas ou as modernas luzinhas.
    Vamos nos permitir, sobretudo, a alegria perdida no cansaço de tanta correria: Ela ainda existe: sabendo procurar, a gente a encontra."
Lia Luft - Artigo publicado em edicao impressa de Veja

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Ola leitores queridos…
Ja em um Ano Novo. Tudo passa muito rapido e pensar de uma outra forma pode ser mais proveitoso.
Houve um tempo em que eu imaginava que as festas de final de ano so seriam bacanas, se houvessem grandes comemoracoes, festas, brilhos… hoje vejo que estar em familia (por menor que ela seja neste momento) vale muito mais! 
Desejo que este artigo tao bem escrito pela autora seja realmente um band-aid em suas almas como foi para minha.
Bom Ano Novo para todos.
Tais