O Paradoxo
"Rejeitar algo só serve para que esse algo cresça.
Temer algo é atrair esse algo.
Somente o assentimento (reconhecer e dizer sim)(*) nos libera das cargas e permite que se inicie a mudança.
Como entender esse Paradoxo?
Nossa vida é energia, é movimento e mudança. Se fluímos com esse movimento, vamos para mais vida. Se nos opomos a ele, a mudança não chega, a estamos bloqueando.
Contudo, uma forte influência sistêmica nos leva a imitar o que já existe. O sentimento de culpa nos impede de sermos autênticos: como vou me atrever a abandonar a tradição?
Além do mais, nossa mente tem medo de mudança: agarra-se ao conhecido e quer repeti-lo várias vezes. Estamos continuamente freando a corrente viva da vida com nossos medos, ilusões,
frustrações... Nos custa reconhecer que a vida está nos falando através das provas, problemas, conflitos ou acidentes. Cada dificuldade é necessária para que dela germine algo novo. Mas, para que dê seus frutos, temos que aceitar vivê-la...
Para que nossos problemas nos falem, primeiro temos que aceitá-los. Aceitar todos os limites que configuram nosso destino. Somente, então, a vida voltará a seguir seu fluxo.
No problema, está a solução, está a vida!
O que é o Destino do ponto de vista das Constelações?
Nossas vidas estão determinadas pelo nosso sistema familiar e pelos outros sistemas a que pertencemos. Uma observação sistêmica a qual não podemos ignorar é a seguinte: os menores (que vieram depois, descendentes)(*) têm que terminar o que seus maiores (que vieram antes, ascendentes, antepassados)(*) não terminaram. Toda emoção segue um ciclo que permite acabar em paz e adaptado a um nível mais alto da realidade. Se um enfrentamento não chegou à reconciliação, se não se agradeceu um favor, se não se terminou de chorar um morto, um descendente terá que viver este mesmo conflito, até que se resolva. Nosso destino está marcado por várias fidelidades a ancestrais que não acabaram algo. E seus conflitos serão nossos conflitos, mesmo que nos neguemos a assumi-los.
A cada dia nosso destino varia, se torna mais fácil quando assumimos algo e piora quando o rejeitamos.
Por isso que o primeiro requisito antes de se configurar uma constelação é assentir ao que nos toca e nos responsabilizarmos pelas consequências de todos os nossos atos, emoções e pensamentos.
O que constelar?
O que é o essencial para mim atualmente?
No caminho da vida que sigo, o que é que realmente preciso?
O que é que tento várias vezes e não consigo?
Existe um padrão de repetição em minha vida, nas minhas atitudes, nas minhas escolhas?
Algo aconteceu, algo que não posso integrar?
A constelação não vai
além do que a pessoa oferece. No equilíbrio entre dar e receber, a pessoa assume e agradece sua vida tal como ela é, e a vida irá lhe presentear com uma mudança. A mudança será proporcional ao que nós liberarmos por amor!
O constelador não é o curador; ele apenas se coloca a serviço do seu destino, do seu sistema familiar e da energia, permitindo que outras forças (movimento do espírito, forças de cura, ressonância etc.) trabalhem fazendo emergir uma nova realidade da sua própria vida
Esse movimento de cura respeita o livre arbítrio da pessoa e não irá além do quanto ela se rende ao amor, à aceitação e ao respeito.
Por outro lado, não existe cura individual: a cura é de todos. A solução é necessariamente uma solução boa para todos. Por isso, não podemos esquecer os detalhes do que queremos conseguir. Somente as forças de cura sabem qual pode ser a solução boa para nós. E nossa abertura à vida, tal como ela é, irá permitir que se desenvolva uma solução totalmente inesperada e boa para todos.
Os que querem controlar o curso de sua vida, o fazem durante um período e logo o controle necessariamente lhes escapará; e irão viver a polaridade do seu controle.
O constelador não vai se fazer de pai nem de mãe, não é um protetor, nem é um mago: não pode mudar meu destino, nem me liberar de minhas responsabilidades ou de minhas culpas.
Tampouco vai poder transformar meus sonhos em realidade. Só vai se centrar, permitindo que o cliente se conecte com seu próprio centro vazio. Aí reside toda a cura!
Na Nova Constelação Familiar, veremos um fenômeno duplo:
Diante do cliente e do constelador vão se manifestar as dinâmicas ocultas que governam a vida do cliente como membro de distintos sistemas.
Os pequenos (descendentes)(*) estão a serviço dos maiores (ascendentes)(*). Nós, os vivos, estamos a serviço dos mortos. Assim que aceitamos esta hierarquia e este serviço, os mortos passam a nos ajudar, permitindo que nossa vida tome um novo rumo.
Aparecem as desordens dos campos(1) (relação de casal, relação com os filhos, relação com os pais etc.) aos quais o cliente está vinculado.
E começa a se manifestar um movimento de reconciliação(2) entre os ancestrais, que vai até onde a atitude interna do cliente o permita.
E, por sua vez, este movimento de reconciliação libera o cliente de sua intrincação (emaranhamento)(*).
O que ocorre entre cliente e ancestrais é totalmente circular, sistêmico.
O cliente está conectado com o campo energético no qual se desenvolve a constelação. O cliente está em interação recíproca com esse campo. Guiado pelo constelador, irá fazendo, internamente, afirmações curadoras, reconhecendo, sem medo, o que existe (sigo você na morte, pago por você etc.) e tomando decisões conscientes (me despeço de você, deixo a culpa com você, honro você etc.) que irão atuar sobre o desenvolvimento da constelação, pois o movimento do espírito mostra o caminho ao cliente, mas não o obriga a tomá-lo se ele não se decide por isso.
Quando acaba a constelação, o constelador se retira e se esquece, deixando o cliente com toda sua força e sua nova autonomia, totalmente aberto à vida e à sua nova consciência."
Brigitte Champetier de Ribes
Tradução: Eliana Medina, Ana Laura Gortari e Judit Miriam Scheinik