domingo, 31 de dezembro de 2017

Como fazer uma reflexão de final de ano saudável


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Analisar o ano que passou e se preparar para o próximo é um hábito benéfico para a saúde emocional e física.

Geralmente no final de um ano completa-se um ciclo, e naturalmente ficamos felizes por termos vencido mais uma etapa e temos "esperança" que o próximo ano nos reserve sempre dias melhores. Essa expectativa de felicidade foi construída desde o homem primitivo com a finalidade de aumentar nossas chances de sobreviver. Os rituais de final de um ciclo, ou de final de ano, são muito antigos na história humana. O nosso cérebro tem processos automáticos que rejeitam o sofrimento de dor e buscam o prazer.

Nos sentirmos felizes ou termos tal expectativa faz com que depositemos esse desejo no próximo ciclo. Segundo disse o psicólogo e escritor americano Robert Wright, num artigo escrito para a revista Time: "As leis que governam a felicidade não foram desenhadas para nosso bem-estar psicológico, mas para aumentar as chances de sobrevivência dos nossos genes a longo prazo". Logo, o final de ano é um destes momentos de reforço da alegria e de reforço da esperança.

A felicidade não é, portanto, um momento mas sim a consequência de nossa forma de viver ou de enfrentar a vida

No final de um ciclo geralmente fazemos um "fechamento de contas", um "balanço", daquilo que nos havíamos proposto e não conseguimos, o que queríamos e não alcançamos, o que tínhamos e perdemos - inclusive entes queridos. Então, devido a diversos motivos, nesta época também existe uma cobrança excessiva, acompanhada de frustração e sensação de fracasso. Há muitos que se sentem solitários, angustiados, deprimidos e com uma falsa sensação de que todos demais estão felizes. Além disso, este "clima artificial" de alegria exagerada no final do ano pode ser extremamente enganoso e é em grande parte criado pela sociedade de consumo. Comemorações, festas nas empresas, festas com amigos, festa com parentes, presentes e presentes, viagens, gastos... Deixar-se levar por este clima de alegria artificial não é saudável.

Não leve um saldo negativo para o próximo ano
Recomendo a meus pacientes para não acumularem assuntos não resolvidos deixando-os para um outro momento. Temos que tentar resolver as dificuldades a cada dia, pois se não o fizermos corremos o risco de no final do ano eles pesarem muito mais na balança que os assuntos bem resolvidos.

Os planos que não deram certo devem ser revistos de maneira tranquila, com o objetivo de identificar as falhas e não de se culpar. Uma vez identificadas as falhas, busque uma solução, que pode ser inclusive um pedido de ajuda para outra pessoa ou para um grupo, ou, até mesmo, a modificação do objetivo original.

Permita-se ser feliz, independente da época do ano
É muito comum que as pessoas se façam perguntas ao refletir sobre o ano que passou. Acredito que não é possível montar um roteiro de como deve ser esse questionamento interior, pois esta é uma questão muito pessoal. Mas creio ser importante que ela pergunte para si mesma se conseguiu ser feliz.

Um caminho para uma reflexão honesta de fim de ano, assim como os planos para o próximo período, é procurar ser feliz não só nesta época de fim de ano, mas sempre. A pesquisa interior que cada indivíduo pode e deve fazer para buscar ser feliz, e para tal primeiramente consigo próprio, com os que o rodeiam, trabalhando as perdas e dificuldades e transformando-as em lições e crescimento pessoal.

Mas, atenção, é importante não ter a presunção de querer definir o que é felicidade. Gosto da ideia compartilhada por alguns pesquisadores que colocam a felicidade como a soma de três pilares: prazer, envolvimento e significado. Vamos analisar um pouco melhor estes três pontos:

Prazer: pode parecer simplista analisar o prazer, mas ele tem diversas dimensões. A primeira lembrança que normalmente se evoca em relação ao prazer se relaciona ao prazer físico, ligado à satisfação dos instintos. Algumas pessoas, inclusive, priorizam até doentiamente esta forma de prazer - que não é somente o sexual. Contudo, existem outras dimensões do prazer, pois não somos somente um "hominis natura", ou seja, não somos somente instinto. O prazer também tem outras dimensões, como a dimensão afetiva demonstrada no afeto ou no amor aos filhos, afeto ao companheiro(a), afeto aos necessitados (que é um amor altruísta) etc.

Envolvimento: esse conceito seria o equivalente a "participar intensamente de determinado objetivo". Há pessoas que apresentam uma facilidade natural em se envolverem ou "darem tudo de si" em determinada ou até mesmo em qualquer atividade. Vivem de uma maneira extremamente intensa empenhando uma energia que parece ser inesgotável. Sobre este assunto, a pesquisadora I. Pollard estudou a atividade cerebral de monges em estado de meditação através de Pet Scan e verificou que áreas cerebrais específicas se tornavam iluminadas ao Scan quando os Monges atingiam o estado de Bondade Universal ou Alegria Plena, que é o que eles estavam buscando. Neste estado eles estão tão absortos que não percebem o mundo exterior e perdem a noção de tempo. Este estado também pode ocorrer de maneira menos intensa nas situações de grande envolvimento, e mesmo em situações comuns como tocar um instrumento, pintar um quadro, realizar uma pesquisa científica e fazer uma oração.

Significado: desde os tempos antigos, o ser humano procura através da religião respostas para o significado da existência. Segundo o sociólogo e filósofo francês David E. Durkheim, no homem primitivo havia uma noção não muito precisa de que existia algo superior à individualidade. Esta coisa seria a força da sociedade anterior, que sobrevivia e à qual, sem saber, rendiam culto. Se o termo for tomado num sentido amplo, pode-se compreender que esta força era o deus adorado em cada culto totêmico. Posteriormente a noção primitiva, a concepção de divindade evolui com a própria evolução do ser humano chegando-se às Cosmovisões atuais oferecidas pelas principais religiões. Mas a religião oferece muito mais do que respostas quanto ao significado da existência. Diversas pesquisas demonstram o poder benéfico da religião na vida das pessoas, como um estudo publicado por Jeff Levin, um epidemiologista da religião, que apresentou os seguintes resultados: as pessoas que assistem regularmente a serviços religiosos têm taxas mais baixas de doenças e de mortalidade do que aquelas que não frequentam regularmente esses serviços ou que não os assistem e as pessoas que relatam uma afiliação religiosa apresentam taxas mais baixas de doenças cardíacas, câncer e hipertensão, que são as três principais causas de morte nos Estados Unidos.

O significado da vida pode também ser buscado por outros caminhos. O filósofo alemão Martin Heidegger enfatiza o processo ou mecanismo de "afastar-se de si próprio", que é feito imperceptivelmente quando somos contaminados em nossa essência por valores, verdades, desejos e necessidades que não são nossos, e em determinado momento não conseguimos mais nos reconhecer e perdemos o nosso significado. Este mecanismo, infelizmente, é muito utilizado na sociedade de consumo atual. O psiquiatra e psicanalista Carl Gustav Jung, que fundou a psicologia analítica, nos aponta outro caminho, o de nos "apoderarmos de nós mesmos", nos tornarmos pessoa. Naturalmente não utilizei os termos filosóficos em Heidegger, nem os psicoanalíticos em Jung, apenas quis transmitir a ideia de buscarmos sempre a nós mesmos, termos um encontro feliz conosco.

Tente encontrar um equilíbrio
A mensagem que deixo para o início de ano, é o desejo que alcancem o equilíbrio destes três pontos: o prazer que não escraviza, ao contrário delicia; o envolvimento que não esgota, mas energiza; e o significado da existência que nos tira das trevas, e como a luz nos ilumina o caminho.
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Psiquiatria - CRM 31656/SP
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A chegada do final do ano nos convida a refletir sobre o período que se passou e o que está por vir.

Este é o momento de repensar a própria vida e avaliar os pontos que desejamos mudar no ano que se inicia. Este processo de reflexão possibilita que o indivíduo se reorganize para desfrutar de maior equilíbrio nesta nova etapa que está por vir.

Quando se deseja repensar a própria vida muitos fatores podem ser considerados, mas há três áreas de grande importância: vida afetiva, vida profissional e relação consigo mesmo. A análise da vida afetiva e familiar nos leva a considerar a qualidade das relações que estabelecemos com aqueles que nos cerca.

Cabe ainda avaliar a relação que você estabelece consigo próprio. Você está satisfeito com a pessoa que é? Quais são suas maiores virtudes? Quais defeitos você deseja superar? Como sua aparência física te faz sentir? Você deseja alterar sua imagem atual? Quais fatores têm dificultado para que você alcance as transformações que deseja? Estas perguntas permitem que a pessoa reflita sobre seus hábitos e se esforce para alterar as atitudes que lhe tem trazido sofrimento.

Por fim, o final do ano propicia que o indivíduo reavalie seus projetos pessoais e que busque as transformações almejadas. Reconhecer a necessidade de mudança e acreditar na capacidade de alcançá-la é um grande passo para que se possa viver de forma mais satisfatória no ano vindouro.
Meu imenso abraço à todos vocês!
Gratidão
Tais

domingo, 24 de dezembro de 2017

É tempo de fazer a diferença, de fazer o bem!

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A história real que me fez pensar no poder de fazer o bem sem olhar a quem, inclusive para a saúde emocional.

Diz o ditado popular: "fazer o bem sem olhar a quem". No mundo atual, marcado pelo individualismo e pelo egoísmo endêmico, fazer o bem lembra campanhas publicitárias que atrás do slogan escondem diversos interesses da economia de mercado, onde o que realmente importa são os resultados ou, em outra linguagem, "lucrar sem se importar com quem", portanto a qualquer preço.

"Quando praticamos atos de bondade e conseguimos amar ao próximo é porque já estamos amando a nós mesmos"

O significado real do indivíduo, sua história, seus valores e sentimentos não tem nenhum sentido na sociedade atual. Ela é totalmente impessoal e só enxerga metas a serem alcançadas, recordes a serem superados, capacidades sempre aferidas - tal qual engrenagens que só se curvam ao Poder e ao Lucro.

Neste cenário, contemplado pelas mais sórdidas manifestações de "impunidade à ganância", que vitima a todos nós em nosso país, a atitude de uma pessoa fez a diferença! Alguém fez a diferença por fazer o bem! O fato me comoveu a ponto de escrever sobre ele.

Uma história pessoal
Estava em meu consultório atendendo a meus pacientes quando sou interrompido pelos insistentes chamados de meu celular. Atendi. Na ligação uma voz feminina me falou: "Dr. Pérsio, estou com uma paciente sua que está apresentando uma crise emocional muito séria. Está chorando há tempo, tanto que sequer conseguiu ligar para o senhor. Liguei então para o número de seu consultório me dado por ela, mas sua secretaria informou que só haveria horário no final da próxima semana. Me desculpe a intromissão, sei que deve estar atendendo, mas peguei com sua paciente seu número de celular e estou lhe pedindo ajuda pois ela está muito mal e estou preocupada com ela."

Neste momento lhe perguntei quem é a paciente, ao que me respondeu: "é a Sra. C., como posso ajudá-la?? Respondi-lhe: "você já ajudou, passe por favor a ligação à Sra. C.". Falei com a paciente, a orientei medicamentosamente para aquele momento e reservei o primeiro horário de atendimento no dia seguinte.

No dia seguinte no primeiro horário atendi à Sra. C., que ainda se encontrava deprimida, mas aliviada da crise pela orientação medicamentosa do dia anterior. No decorrer da consulta, não consegui segurar minha curiosidade, e perguntei à paciente: "Quem foi aquela mulher que lhe ajudou ontem?", e ela finalmente me revelou: "foi minha gerente do banco".

Realmente fiquei espantado e tornei a perguntar: "Sua gerente de banco? Como aconteceu?" A paciente me contou que tinha ido à agência regularizar alguns dados, e como já vinha ocorrendo há uma semana, começou a chorar descontroladamente, sem identificar nenhuma razão para tal, e nesse momento foi socorrida por sua gerente de conta. Não importa neste relato o caso clínico da paciente, mas a atitude de sua gerente que a socorreu.

Movida por um ímpeto de coragem alicerçada na bondade, a gerente se despiu da personagem do mundo financeiro, preocupada em bater metas, vender produtos, atingir os objetivos impostos pelo banco, e se tornou simplesmente ser humano. Que transformação surpreendente! Pode parecer simplista à primeira vista, mas isso ocorreu dentro de um dos ícones da economia de mercado, um banco, uma atitude que destoa do padrão "automatizado" de atendimento quase robótico. Ela largou tudo, deixou tudo de lado e, numa atitude ousada, se tornou pessoal, se tornou pessoa e estendeu a mão de bondade ao próximo. Ainda ecoa em minha mente a voz marcada pela educação - que me pediu desculpas pela "invasão" na ligação - voz de preocupação altruísta com o outro, voz suave que transcendia bondade.

Reflexão
Bondade é justamente isso, dar-se espontaneamente para o outro com a finalidade fazer o bem, sem esperar nada em troca. O exemplo de amor ao próximo dado por esta gerente me comoveu e inspirou a escrever este texto. Espero que esta breve comunicação contamine a você também, e que todos nós sejamos contagiados pelo sentimento de amor e por atos de bondade. Quando praticamos atos de bondade e conseguimos amar ao próximo é porque já estamos amando a nós mesmos. Meu desejo é que sejamos mais felizes individualmente e como sociedade.

Faça a diferença faça o bem!


Escrito por Persio Ribeiro Gomes de Deus
Psiquiatria - CRM 31656/SP
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A melhor mensagem de Natal é aquela que sai em silêncio de nossos corações e aquece com ternura os corações daqueles que nos acompanham em nossa caminhada pela vida.

Agradecer aos nossos antepassados e a origem de TUDO.
Abraços calorosos e os melhores desejos.
Tais

domingo, 17 de dezembro de 2017

Final de ano e os filhos: importantíssima reflexão

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Final de ano é hora de colocar na balança as conquistas e o que ficou por trabalhar. Nas escolas é o momento dos conselhos de classe, relatórios e boletins. Chegou a hora, enfim, das decisões importantes.

Se as avaliações ocorreram processualmente, ao longo do ano letivo, família, escola e aluno podem olhar para os resultados como uma consequência natural de suas ações.

No entanto, quando no balanço de fim de ano observa-se que as coisas na vida escolar do aluno não ocorreram como deviam, um sentimento de fracasso toma conta de pais e professores e uma pergunta inevitavelmente se coloca: afinal, de quem é a culpa?

Antigamente, não havia dúvida a esse respeito: pais e mestres, cientes de seu dever cumprido, castigavam e reprovavam as crianças e os jovens, sem maiores discussões. Aqueles que insistiam em ser maus alunos, muitas vezes, eram retirados da escola por seus familiares e colocados no mercado de trabalho, para exercer funções condizentes com o grau de escolarização que haviam conseguido atingir. Ou as escolas os expulsavam.

Nos dias atuais, no entanto, nos parece que o desempenho escolar preocupa mais as famílias (por não terem cumprido corretamente o seu papel, sendo assim, reprovados, socialmente, na função paterna e materna) e as escolas (por não terem conseguido ensinar adequadamente, apesar das inúmeras revisões de planejamento, das diversas formas de intervenções individualizadas, das reuniões com os especialistas, etc.), do que os próprios alunos que, em tese, deveriam ser os maiores interessados.

Desse modo, enquanto os adultos ficam à procura de motivos para descobrir quem é o culpado, algumas crianças e jovens lavam as mãos, retirando-se de cena, como se aquela situação não tivesse nada a ver com eles, com sua postura frente aos estudos e ao futuro.

Esse quadro remete provavelmente à nossa dificuldade em permitir que as crianças e os adolescentes sofram as consequências de suas ações que, muitas vezes, implicam perda, sofrimento e dor.

Decidir sobre a aprovação ou reprovação de um aluno não é tarefa fácil para ninguém. Até porque, nos dias atuais temos claro que o processo de aprendizagem é algo complexo que não deve ser medido somente pelas notas obtidas nas provas.

No entanto, como foi dito no inicio do texto, se o processo de avaliação foi pautado em ações do cotidiano escolar, deixando claro para o aluno o que precisava aprender e produzir ao longo do ano letivo, ele poderá perceber que, apesar dos pais e dos professores estarem envolvidos e desejando sinceramente auxiliá-lo nessa etapa de vida, há uma parte nesse caminho que só ele pode realizar.

Carla uma exuberante adolescente de 15 anos, muitos amigos, garota popular, agenda lotada com baladas e eventos. No decorrer do ano letivo, esse excesso de exuberância e diversão, começou a atrapalhar sua vida escolar: lições não entregues, trabalhos negligenciados, notas baixas nas provas.

A escola, percebendo, que essa euforia de Carla poderia lhe acarretar sérias consequências, passou a sinalizar tanto para ela quanto para os seus pais a necessidade de se colocar limites para que lhe sobrasse energia para os estudos.

Nessas conversas podia-se observar a dificuldade que seu pai e sua mãe tinham em contrariá-la em seus desejos adolescentes, sempre tão fortes e urgentes:

…. como assim? É a festa da minha melhor amiga;

… todo mundo vai, mano! Só vocês que não me deixam;

…não estou entendendo…vocês vão me impedir de ir nesse lugar maravilhoso???? Nunca mais vai rolar isso na minha vida!!!

…mãe, hoje não vou estudar, lembra? Eu falei sim! Combinei com todas as minhas amigas que a gente ia ver a roupa para a festa…claro que eu avisei…tenho culpa que você não presta atenção.

Como previsto, Carla ao finalizar o ano, pegou muitas recuperações e estava na eminência de ser reprovada. Os pais mais do que depressa providenciaram uma agenda lotada de aulas particulares. Em algumas matérias, no entanto, não obteve a nota necessária, indo para conselho de classe, sendo reprovada pela maioria dos seus professores.

A reação tanto dos pais quanto da menina, diante de tal resultado, foi de surpresa, indignação e vergonha. O pai e a mãe, por sua vez, ao verem a filha entristecida queriam arrancá-la desse estado emocional o mais rápido possível, desse modo, foram à escola conversar com o coordenador e o diretor, na busca aflita de reverter esse quadro; posto que não aguentavam ver a filha naquele estado de tristeza. Optaram, então, por uma reavaliação em outra instituição que a promoveu para o ano seguinte.

Será que tirá-la rapidamente da dor e da tristeza foi a melhor solução? Será essa uma forma adequada de nós adultos ajudarmos as crianças e adolescentes a se implicarem em sua própria vida e com as consequências de seus atos?

No sensível filme da cineasta Anna Muylaert, A que horas ela volta?, exibido nas telas de cinema, em 2015, Fabinho um adolescente pertencente a uma família abastada, ao não passar na primeira fase do vestibular, apesar de todas as condições externas favoráveis para obter sucesso nessa empreitada, diante de seu sofrimento, os pais aliviam a frustação do filho ofertando-lhe um intercambio fora do país.

Temos assistido cada vez mais cenas parecidas como essa mostrada no filme, pois vivemos um bombardeio midiático que busca enaltecer a necessidade de se evitar qualquer vestígio de infelicidade ou frustração de nossas vidas ou da dos nossos filhos. Somos escravizados, assim, pela tirania dos nossos desejos, que nem sempre consideram a realidade, nos tornando seres humanos frágeis, insatisfeitos e pouco resilientes. Seres humanos com pouco espaço interno para pensar, refletir e construir conhecimentos, atos, esses, pessoais e intransferíveis, tão necessários para o enfrentamento complexidade da vida.



Maria Cristina Labate Mantovanini e Patricia Torralba Horta
https://reflexaoedigestao.wordpress.com
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Questões profundas..como as crianças e jovens podem descobrir quem são sem a ajuda dos pais e professores?
A criança descobrirá a si própria se o ambiente no qual ela vive ajudá-la a fazê-lo. Se os pais e professores estiverem realmente preocupados que essa jovem pessoa descubra quem ela é, eles não a forçarão; criarão um ambiente no qual ela poderá vir a se conhecer.
Se sentirem que é importante para a criança descobrir sobre si mesma e que ela não o conseguirá se for dominada por uma autoridade, vocês não ajudariam  a formar um ambiente propício? Trata-se, novamente, da conhecida atitude: diga-me o que fazer e eu farei: Não falamos: "Vamos resolver juntos." O problema de como criar um ambiente no qual a criança possa ter o conhecimento de si mesma preocupa todos - pais , professores e as próprias crianças. Mas o autoconhecimento não pode ser imposto, a compreensão não pode ser forçada;  e se isso for um problema vital para vocês, para pais e professores, então juntos criarão escolas adequadas. 

Mas lembremos: a educação inicia-se em casa.
A função da educação é ajudá-los desde a infância a não imitar alguém, mas, sim, a ser vocês mesmos o tempo todo. E isso não é fácil de ser feito. Se são feios ou bonitos, invejosos ou ciumentos, sejam sempre o que são, porém com consciência. Ser vocês mesmos é muito difícil, porque se consideram desprezíveis, e pensam que se não puderem simplesmente transformar o que são em algo nobre seria maravilhoso; mas isso nunca acontece. porém se olharem para o que realmente são e compreenderem isso, então ocorrerá nessa compreensão uma transformação. 

Portanto a liberdade não está em tentar ser algo diferente, em fazer aquilo que gostariam, em seguir  um exemplo de tradição, de seus pais, do seu guru, mas em compreender o que vocês são a cada momento.
Essas mudanças inicia-se nos pais, e que, por consequência, manifestar-se-á nos filhos. Afinal os filhos são filhos de quem? De que família? De que histórias?
Pensemos ... 
Boa semana
Tais


domingo, 10 de dezembro de 2017

Perder pais nos torna mais velhos.



"Minha mãe morreu. Repito a frase de Mersault sem a indiferença da personagem de Camus. Pelo contrário. O redemoinho de emoções foi inédito na minha vida. Uma dor psíquica e física, um encolhimento da percepção do mundo e fechamento em torno de uma cela de chumbo.

Eu havia sofrido muito, há sete anos, com a partida do meu pai. Meu coração sangrou por anos. O tempo fez a dor sair da posição de protagonista e aninhar-se nos bastidores. Ainda choro, especialmente quando leio uma carta dele ou vejo uma foto. Hoje meu pai dialoga comigo no silêncio e, de quando em vez, até sorrio pelas memórias.

A data do falecimento dele era o horizonte maior da minha possibilidade trágica. O gráfico acaba de se ampliar. Meu coração sangrou naquele dezembro de 2010. Agora perdi minha mãe. Parece que perdi o coração, que ele foi enterrado, que o próprio ato de sentir estava ligado a ela.

Revivo sensações antigas. Perder pais nos torna mais velhos. É, de fato, o início da vida adulta. Acabo de ficar órfão total. Não ser mais filho muda nossa posição na ordem do mundo. A fila andou. A quem recorrer com a certeza do amor incondicional?

Explico melhor. Nunca tive qualquer medo de morrer. Testei o princípio muitas vezes em acidentes e situações de risco. Parece-me natural encerrar a vida como ser biológico que sou. Um dia, meu diligente bisavô faleceu. Era um homem trabalhador e muito respeitado. Estudei-o na árvore genealógica da família, mas seu passamento há 85 anos não deixou rastros fora de arquivos e lápides.

Sei que a morte da minha mãe, a minha ou de qualquer pessoa passará por completo. Sempre entendi e aceitei o rito de Quarta-feira de Cinzas: sou pó e ao pó retornarei. Diria até que me conforta não ser imortal e, um dia, cansado, encerrar o combate. Já escrevi que a beleza da flor natural é seu caráter efêmero. A fealdade da rosa de plástico está na sua durabilidade e em sua tentativa de emular a vida pulsante. A flor artificial é um pastiche, pobre coitada. A vida eterna seria insuportável. Nunca tive medo da morte. Lembrando o bom Epicuro, preciso honestamente viver e honestamente morrer. De resto, nunca encontrarei a morte: enquanto eu for, ela não será, quando ela surgir eu deixarei de ser, dizia o filósofo em carta a Meneceu.

Sobre o que choro? A viagem no trem da vida está ficando com menos passageiros conhecidos. Os que embarcaram na mesma estação estão partindo. Os Karnais que vieram ao mundo na década de 1990 ou no século em curso têm sobrenome, genética, olhos, idiossincrasias e outras coisas absolutamente da família. Porém, pertencem a outro mundo, com outra história, e apresentam um futuro distinto. São hoje o que fui para meus tios e avós: sangue e sobrenome, mas extrato de outra cepa e broto de outra rama. Os jovens trazem vida, porém outra vida, desconhecida e nova, desligada dos liames geracionais da minha.

Reclamo dos lugares vazios no comboio biográfico. Sinto a força do nada que se amplia. Nunca mais abraçar minha mãe. Nunca mais! Que ideia avassaladora! O corvo de Poe abre a asa fúnebre da memória. O lugar dela à cabeceira da sala de jantar para sempre reclamará a ocupante usual. Parece que continuo a apresentar uma peça em um imenso palco e a cada ano sai alguém do elenco.

Tudo remete à memória dela. Estou escrevendo em uma cadeira de avião. Aos 4 anos, voei pela primeira vez, no colo de Dona Jacyr. Lembro-me perfeitamente da cena e tudo parecia seguro porque os olhos azuis de minha mãe sorriam. Antes, nada poderia me atingir, agora tudo pode. Fragilizei-me. Diminuí.

Quando as doenças tomaram minha mãe, nós a cercamos de cuidados intensos como ela sempre prodigalizara a todos. Os últimos anos foram felizes, entremeados pelo lobo sorrateiro da fragilidade física. Todos os sonhos foram cumpridos. Todos os destinos foram visitados. Como muitas mães, ela viu os filhos crescerem e acompanhou, emocionada, a chegada dos netos. Ela saiu deste mundo tendo experimentado a felicidade.

A lição é sempre a mesma: faça com seus pais em vida o que você deseja. Não aumente a dor da morte com a pungência do remorso. Só temos tempo hoje. Depois passa. Consegui dizer infinitas vezes que a amava. Alegro-me de ter demonstrado com meu coração, meu cérebro, meu tempo e minha carteira que ela era fundamental. Sem ao menos esse consolo, seria insuportável o momento. Na UTI, faltando poucas horas para o fim, pude enunciar as únicas coisas importantes: dizer obrigado e que eu também a amava.

Esta é uma coluna melancólica. Não poderia escrever outra agora. Sempre soube que o luto seria intenso porque celebrava o vivido entre nós. A dor da perda é a alegria da vida com sinal trocado. Muito amor gera também ausência que punge. Pior seria não ter amor a perder e nenhuma lembrança a celebrar. Nós superaremos a trilha escura porque Dona Jacyr Karnal criou filhos fortes. Nós continuaremos a andar no mundo. O sol surgirá sempre, indiferente a nossas tragédias pessoais. A noite cobrirá o que nos é caro. Entre um crepúsculo e outro, vivi o privilégio de ter minha mãe.

O desejo tradicional é equivocado: os mortos sempre repousam em paz. Nada mais os aflige. A paz é uma luta para os vivos. Espero reencontrar a minha. Bom domingo para todos que têm mães ao seu lado ou na memória.

Leandro Karnal, O Estado de S.Paulo -03 Dezembro 2017
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Uma bela reflexão...
Bom dia!
Tais

domingo, 3 de dezembro de 2017

Como Ajudar? O posicionamento e o papel do terapeuta de Constelação Familiar.


Constelação Familiar é uma terapia breve criada pelo alemão Bert Hellinger nos anos 70. Esta técnica revolucionou o trabalho da psicoterapia. Ela se faz em apenas uma sessão, onde o cliente escolhe um tema a ser “trabalhado” e o terapeuta (Ajudante) através dos “representantes” (pessoas aleatórias que estão no grupo) monta o sistema familiar ancestral do cliente. Neste campo (onde é estabelecida a Constelação) observamos onde estão os “bloqueios” que estão impedindo o cliente a fluir. Os bloqueios sempre aparecem onde percebemos excluídos naquele sistema familiar. Entendemos como excluídos, pessoas que por um motivo ou por outro estão à margem deste sistema.

Neste artigo vamos nos deter a ver o papel do terapeuta numa Constelação Familiar.

Estamos numa profissão em que lidamos com o ser humano num processo de Ajuda, de colaboração ao outro; e muitas vezes nos pegamos num papel de achar que temos a resolução daquela problemática em nossas mãos, o que é um erro. Vejamos um trecho escrito pelo Bert Hellinger que nos mostra como o terapeuta de Constelação Familiar deveria se basear, chama-se, Sabedoria.

…O sábio concorda com o mundo tal como é,

Sem temor e sem intenção.
Está reconciliado com a efemeridade
E não almeja além daquilo que se dissipa com a morte
Conserva a orientação, porque está em harmonia,
E somente interfere o quanto a corrente da vida o exige.
Pode diferenciar entre:
É possível ou não, porque não tem intenções.
A sabedoria é o fruto de uma longa disciplina e exercício,
Mas aquele que a possui, a possui sem esforço.
Ela está sempre no caminho e chega à meta,
Não porque procura,
Mas porque cresce…”

Ajudar é uma arte que pode ser aprendida. Também faz parte dela uma sensibilidade para compreender aquele que procura ajuda, portanto a compreensão daquilo que lhe é adequado, daquilo que se ergue acima dele (o cliente) mesmo, para algo mais abrangente. Muitas vezes a solução de uma Constelação, e o processo de ajuda do terapeuta está na sabedoria de perceber o que é melhor e o que a “alma” está precisando ou necessitando como experiência.

Esta técnica serve à alma e não ao ego. Na maioria das vezes o que o cliente busca é muito mais profundo do que ele fala e pede. Na verdade, o terapeuta precisa aprender a desenvolver habilidades para conseguir entrar no campo da Constelação e ver e dar o que de fato àquela alma necessita.

Estas habilidades são descritas como:

Observação, percepção, compreensão, intuição e sintonia.

Observação: Olhar além do que está vendo, ver detalhes de forma aguçada e exata, onde nada escapa.

Percepção: Ela é distanciada do objeto de observação. Percebemos simultaneamente os detalhes e o conjunto. O terapeuta deve estar dentro do campo mas não envolvido com ele.

Compreensão: A compreensão necessita da observação e da percepção. Compreensão é entender não com a mente mas com a alma, com a essência, sem julgamento podemos mergulhar no essencial para o cliente.

Intuição: É quando nos abrimos para além da compreensão. É muitas vezes o que nos conduz para o próximo passo.

Sintonia: Ela é um nível de vibração, onde eu me “afino” com a vibração do cliente, e com tudo que vem dele, principalmente sua ancestralidade.

Para que aconteça o desenvolvimento de uma Constelação Familiar, o terapeuta além de necessitar se abrir para o desenvolvimento dessas habilidades descritas acima, ele deve respeitar ordens que o Bert Hellinger acredita que seja a base para o terapeuta de Constelação, o que ele denominou ordens da ajuda.

Ordens da ajuda são, portanto, leis ou princípios que devem presidir nossos comportamentos como terapeutas. São elas:

1º ordem: Dar apenas o que temos – Tomar aquilo que somente necessitamos. Não agir – Mostrar o que está ali.

2º ordem: Só ajudar quando o cliente permitir.

3º ordem: Se colocar no lugar de terapeuta e nunca dos pais do cliente. Dar aos pais do cliente, portanto, um lugar de respeito.

4º ordem: Não olhar só para o cliente, mas sim para todos, daquele sistema. O cliente não deve ser visto com um ser isolado.

5º ordem: Estar a serviço da reconciliação – Sobretudo com os pais.

Para isto o terapeuta necessita principalmente de romper com preconceitos, julgamentos, conceitos conhecidos e pré determinados, indignação moral em todos os níveis e condenação.

Isso faz você estar capacitado não só, para ser um terapeuta de Constelação para a ajuda, mas antes de tudo, um ser humano mais capacitado para a vida.
Celma Nunes Villa Verde Terapeuta de Constelação Familiar
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Você está pronto para as “Novas Constelações?”

"Numa “Constelação Familiar Tradicional”, o cliente escolhe um tema que esteja o afligindo naquele momento em sua vida, porém nas “Novas Constelações” não há um pedido, não necessitamos de um motivo aparente para constelar. Neste caso, o que é importante vem à luz. Assim, configuramos um representante para a pessoa (cliente) e vemos o que acontece, sem nenhuma palavra, estamos em outro nível dimensional, onde não queremos nada, onde não temos nenhuma intenção. Em pouco tempo tudo vem à luz e se torna claro, sem se falar nada. Chamamos de movimento das forças criadoras. Sem pergunta, sem objetivo, os representantes sendo levados para outro nível paradimensional. Quando o cliente está em paz, terminamos o trabalho sem dizer nada.

Para onde nos leva esta força? Para várias possibilidades.

Nas “Novas Constelações”, o problema principal que estava inconsciente para a pessoa, se revela, é trabalhado, e assim, ela pode seguir em frente.

A pergunta que cabe aqui é: o que acontece com o terapeuta? Como fica o ego do terapeuta diante da única verdade que é a de revelar o campo e se retirar, diante da impotência de tal revelação sem poder sequer traduzir esta imagem que se revela ali. Terá que estar muito maduro e muito à serviço de uma força maior.

E o cliente? Está pronto e maduro para se entregar a uma escolha desta?"                                                                  (Celma Nunes Villa Verde)

Nem sempre o terapeuta está pronto... mas tudo está certo! Cada um tem seu momento...assim como o cliente também sempre encontra o terapeuta que ele necessita.
Nesta seara o processo de auto conhecimento é uma premissa importantíssima para a qualificação do terapeuta, pois sem isso não partiremos para algo mais profundo.
Boa semana
Tais