A solidão é um estado mental em que você está constantemente sentindo falta do outro; a solitude é um estado mental em que você está constantemente deliciado consigo mesmo.
A solidão é infeliz. A solitude é um estado muito agradável.
A solidão está sempre preocupada, sentindo falta de alguma coisa, ansiando e desejando algo; a solitude é um profundo preenchimento sem sair para fora, imensamente contente, feliz, celebrativo.
Na solidão você está descentrado; na solitude você está centrado e enraizado.
A solitude é bela, tem uma elegância à sua volta, uma graça, um clima de imensa satisfação.
A solidão é mendiga; ela gira em torno da medicância e nada mais, não há graça em sua volta e, na verdade, ela é feia.
A solidão é uma dependência; a solitude é pura independência. Na solitude, a pessoa se sente como sendo o próprio mundo, a própria existência.
Ora, se você entrar em um relacionamento quando estiver se sentindo solitário, então explorará o outro. O outro se tornará um meio para satisfazê-lo; você usará o outro, e todos se ressentem por serem usados, pois ninguém está aqui para se tornar um meio para uma outra pessoa. Todo ser humano é um fim em si mesmo, e ninguém está aqui para ser usado como um objeto; todos estão aqui para serem venerados como reis. Ninguém está aqui para preencher as expectativas de uma outra pessoa; todos estão aqui para serem simplesmente o que são.
Dessa maneira, sempre que você entra em qualquer relacionamento a partir da solidão, o relacionamento já está arruinado. Mesmo antes de ele ter começado, já está arruinado; mesmo antes do nascimento, a criança está morta. Ele irá criar mais infelicidade para você.
E lembre-se, se você vive em função da sua solidão, cairá em um relacionamento com alguém que está no mesmo apuro, pois ninguém que está vivendo em solitude será atraído por você; você estará muito abaixo dessa pessoa. No máximo ela pode sentir compaixão por você, mas não pode amá-lo. Quem está no auge de sua solitude somente poderá ser atraído por alguém que também está vivendo na solitude.
Assim, sempre que vive em função de sua solidão, você encontra uma pessoa do mesmo tipo , encontra seu próprio reflexo em algum lugar. Dois mendigos se encontrarão, duas pessoas infelizes se encontrarão. E lembre-se: quando duas pessoas infelizes se encontram, não acontece uma simples adição, mas uma multiplicação. Elas criam muito mais infelicidade uma para a outra do que poderiam criar em sua solidão.
Primeiro fique sozinho, primeiro comece a desfrutar a si mesmo, primeiro ame a si mesmo, primeiro se torne tão autenticamente feliz que não importa se ninguém vier. Você está repleto, transbordante; se ninguém bater à sua porta, está perfeitamente bem, você não está sentindo falta de nada, não está esperando que alguém venha e bata à porta. Você está em casa; se alguém vier, bom, belo; se ninguém vier, isso também é bom e belo. Depois, entre em um relacionamento, pois agora você caminha como um mestre, e não como um mendigo; agora você caminha como um imperador, e não como um mendigo.
E a pessoa que vive em sua solitude sempre será atraída por uma outra pessoa que também está vivendo em sua solitude de uma maneira bela, porque semelhante atrai semelhante.
Quando dois mestres de seus seres e de suas solitudes se encontram, a felicidade não é apenas somada, mas multiplicada e se torna um imenso fenômeno de celebração. E eles não exploram, mas compartilham; eles não usam um ao outro; pelo contrário, tornam-se um só e desfrutam a existência que os circunda.
Duas pessoas solitárias estão sempre se encarando, se confrontando; duas pessoas que conhecem a solitude estão juntas e encaram algo mais elevado do que ambas. Sempre dou este exemplo: dois amantes comuns que são solitários sempre se olham; dois amantes verdadeiros, em uma noite de lua cheia, não se olham, mas podem se dar as mãos e olhar a lua cheia no céu. Eles não se olham, mas estarão juntos olhando uma outra coisa. Às vezes eles ouvirão juntos uma sinfonia de Mozart, Beethoven ou Wagner; às vezes ficarão sentados ao lado de uma árvore e desfrutarão o magnífico ser da árvore os envolvendo; às vezes ficarão sentados perto de uma cachoeira escutando a música selvagem que está continuamente sendo criada ali; às vezes, ao lado do oceano, estarão olhando para a mais distante possibilidade que os olhos podem enxergar.
Sempre que duas pessoas solitárias se encontram, elas olham uma para a outra, pois estão constantemente em busca de maneiras e meios de explorar a outra, de como usar a outra, de como ser feliz por meio da outra. Mas duas pessoas profundamente satisfeitas consigo mesmas não estão tentando usar uma à outra; em vez disso, tornam-se companheiras de viagem e caminham em uma peregrinação. O objetivo é superior, é distante; seu interesse comum as une.
Normalmente o interesse comum é o sexo. O sexo pode unir duas pessoas momentânea e casualmente, mas muito superficialmente. Já os amantes verdadeiros têm um grande interesse comum. Não é que não haja sexo; poderá haver, mas como parte de uma harmonia superior. Ao escutar uma sinfonia de Mozart ou Beethoven, eles podem se aproximar tanto que podem fazer amor um com o outro, mas na harmonia maior de uma sinfonia de Beethoven. A sinfonia era a coisa real, e o amor acontece como parte dela. E, quando o amor acontece espontaneamente, sem ser procurado, sem ser pensado, e simplesmente acontece como parte de uma harmonia superior, ele tem uma qualidade totalmente diferente de si. Ele é divino, e não mais humano.
A palavra happiness (felicidade, em português), vem da palavra escandinava hap. A palavra happening (acontecer, em português) também vem da mesma raiz. Happiness (felicidade) é aquilo que happens (acontece). Você não pode produzi-la, não pode comandá-la, não pode forçá-la. No máximo você pode estar disponível a ela. Sempre que ela acontece, acontece.
Dois amantes verdadeiros estão sempre disponíveis, mas nunca pensam a respeito, nunca tentam encontrar a felicidade. Então eles nunca ficam frustrados, porque sempre que acontece, acontece. Eles criam a situação; na verdade, se você estiver feliz consigo mesmo, você já é a situação, e, se a outra pessoa também estiver feliz com ela mesma, ela também é a situação. Quando essas duas situações se aproximam, uma situação é criada. Nessa situação maior muito acontece e nada é feito.
O ser humano não precisa fazer nada para ser feliz, apenas fluir e se entregar.
Dessa maneira, a questão é: “Antes de se envolver em um relacionamento, a pessoa deveria primeiro entrar em acordo com a própria solidão? Sim, absolutamente sim. Precisa ser assim: do contrário você ficará frustrado e, em nome do amor, fará uma outra coisa que de maneira nenhuma é amor.”
(Alegria - a felicidade que vem de dentro – Osho)
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