domingo, 28 de julho de 2019

As feridas emocionais

As feridas emocionais se propagam através dos laços familiares

As feridas emocionais se estendem através dos laços familiares de forma quase implacável. São como uma sombra que se camufla nas palavras, no modelo educacional, nos silêncios, nos olhares e nos vazios. Até que alguém maduro e consciente detém o processo para dizer basta e fugir dessa teia de aranha.


Todos nós, em algum momento de nossas vidas, já lançamos uma pedra na superfície de um lago ou um rio. Imediatamente, quando esta cai e afunda, é gerada uma perturbação. As partículas de água variam a sua posição inicial e desenha-se na superfície o que se conhece como frentes de ondas.

Cada um tem a sua história, cada um sabe quanto lhe doem as suas feridas, seus vazios, seus cantos quebrados…

Se o impacto foi muito forte, serão geradas muitas ondas. São como o eco de um grito silenciado, como a própria metáfora de uma ferida emocional, a mesma que impacta sobre o membro de uma família para depois se estampar no restante das gerações com maior ou menor intensidade.

Foi Oscar Wilde quem uma vez disse que poucas esferas eram mais misteriosas e herméticas do que as famílias. Trancados no isolamento dos próprios lares, quase ninguém sabe com plena ciência o que acontece entre essas quatro paredes onde uma ou duas gerações de pessoas compartilham um espaço em comum e os mesmos códigos.

As feridas de uns impactam sobre os outros como ondas invisíveis, como fios que movem fantoches e como ondas carregadas de raiva que corroem as rochas das praias. Então, vamos falar de uma coisa complexa, dolorosa, e às vezes dilacerante.

A íntima arquitetura das feridas emocionais
Quando falamos da origem dessas feridas emocionais que são transmitidas ao longo dos laços familiares é comum pensar em fatos como abusos sexuais, violência física ou a perda traumática de um ser querido. De forma semelhante, também não podemos descuidar dos conflitos bélicos e do impacto que, por exemplo, terão todas as crianças refugiadas que a sociedade está descuidando nos limites de nossas fronteiras.

Contudo, mais além destas dimensões já bem conhecidas de todos, também se abrem “lacerações” emocionais causadas por outras dinâmica, por outros processos talvez muito mais comuns que as apontadas anteriormente. 
Ter crescido sob uma criação baseada no apego inseguro ou em um contexto baseado na contenção emocional gera, sem dúvida, diversas feridas e inclusive transtornos emocionais. 
Fazer parte de uma família onde a ira sempre está presente é outro responsável. São contextos onde abundam os gritos, as censuras entre os seus membros, a toxicidade emocional, o desprezo e a desvalorização constante. 
Outro aspecto que pode ocasionar um grande impacto no seio de uma família é o fato da mãe ou o pai viver mergulhado em uma depressão crônica e não tratada. A impotência, os códigos de comunicação e as dinâmicas estabelecidas entre pais e filhos deixam marcas permanentes. 

“As feridas emocionais são o preço que todos temos que pagar para sermos independentes.”-Haruki Murakami-

Os traumas e a epigenética
Conrad Hal Waddington foi um biólogo do desenvolvimento, geneticista e embriologista que criou um termo tão interessante quanto impactante. Falamos da epigenética, a ciência que se encarrega de estudar o conjunto de processos químicos que modifica o DNA sem alterar a sua sequência, e onde os traumas têm, sem dúvida, uma grande importância. Por exemplo: 
Sabe-se que quando uma criança está rodeada de um entorno de confusão, caos emocional e vulnerabilidade, experimenta níveis exorbitantes de estresse. 
Imediatamente, seus mecanismos cerebrais, endócrinos e imunológicos reagirão para encontrar um necessário equilíbrio, mas a longo prazo, ficarão saturados até desenvolver sérios efeitos secundários implacáveis: aumento do cortisol no sangue, taquicardia, enxaquecas, dermatite e até asma. 
Sabe-se, por exemplo, que a expressão do genoma, isto é, o fenótipo, mudará segundo as experiências estabelecidas com o ambiente (nutrição, hábitos, estresse, depressão, medos…) 

Desta forma, todas estas mudanças epigenéticas irão se refletir também nas novas gerações, a ponto do trauma pontual em uma pessoa afetar até 4 gerações posteriores.
As feridas emocionais e a sua abordagem

Já ouvimos falar que a dor faz parte da vida, que o sofrimento nos ensina e que é preciso perdoar para avançar. Na verdade, todas estas ideias têm importantes nuances que é preciso detalhar e inclusive reinterpretar.

Vejamos alguns aspectos em detalhe.

Não é preciso sofrer para aprender; de fato, o verdadeiro aprendizado nos é dado pela verdadeira felicidade. É ela quem coloca os fundamentos de um apropriado equilíbrio emocional, e ela também que nos coloca em contato com aquilo que realmente é significativo para nós. É por essas coisas que vale a pena lutar.

Não deixe que as suas feridas transformem você em alguma coisa que VOCE NÃO É.

Por outro lado, perdoar é uma opção, mas nunca uma obrigação. A reconciliação mais importante que teremos que realizar é com nós mesmos. Uma ferida emocional nos transforma em uma coisa que não nos agrada: em alguém que sofre, que se enxerga como frágil, pouco habilidoso, em alguém cheio de ira e rancor e que ainda é prisioneiro de quem o prejudicou. Devemos aprender a nos curar, a reconciliar-nos com nosso ser ferido para fortalecê-lo, cuidá-lo e atendê-lo…


Por fim, e não menos importante, é preciso dispor de estratégias adequadas e protocolos para detectar logo cedo as feridas emocionais das crianças. As escolas deveriam disponibilizar mecanismos práticos para detectar o quanto antes esses hermetismos ou essas condutas desafiadoras que com frequência escondem dinâmicas familiares problemáticas ou disfuncionais.


Não podemos esquecer que, apesar de nenhum de nós poder escolher nossos pais ou família em que nascemos, todos temos o pleno direito de ser felizes, de levar uma vida digna e com um adequado equilíbrio psicológico e emocional. Devemos lutar por isso.
Imagens cortesia de Balbusso Anna e Elena.

********** 
Podemos observar nas Constelações, que uma família se comporta como se tivesse uma alma em comum. Por isso há uma compensação. Se, por exemplo, , um membro da família é excluído (independente dos motivos...), um outro, para compensar, assume o seu destino. Na família, atua, portanto, uma alma em comum, pode-se também dizer uma consciência em comum.

Muitas vezes as feridas emocionais são carregadas por muitas gerações, até que seja feita a inclusão...
O conhecimento da causa das doenças nas famílias e de sua cura provêm das constelações familiares. Através delas foi possível entender que muitas doenças estão relacionadas com emaranhamentos nos destinos de outros membros da família.
Bom dia e boa semana.
Tais

domingo, 7 de julho de 2019

Adeus às etiquetas


"Sou "a louca" das caixinhas. Coleciono diversos tipos, adoro quando descubro novos modelos e raramente me desfaço de alguma. Minhas caixas já entram em casa com plano de carreira: de tempos em tempos eu troco de prateleira, armário ou cômodo, dando a elas as novas funções. E assim organizo o lar e a vida, separando objetos e assuntos em categorias distintas. Se para você isso remete a uma rotina militar, pode ser que esteja dando as caixinhas um uso equivocado. Elas servem para guardar objetos, não pessoas. Minha necessidade de ordenar o entorno serve para dar espaço as desordens essenciais, como música alta enquanto lavo a louça, a bagunça dos gatos na sala, um convite inesperado para jantar. Organizo minha vida em caixas, mais me recuso a entrar nelas. Embora eu saiba que o mundo insiste em tentar fazer isso com a gente.

A caixa dos bem-sucedidos, a caixa dos fracassados; dos gordos, dos magros; dos homens ou das mulheres. Homo e heteroafetivos, da esquerda e da direita, negros e brancos. O mundo reserva a mesma caixa para quinta tem tatuagem, piercing ou alargador. Outra para os esportistas; uma diferença para os sedentários. Velhos de um lado, jovens do outro. Veganos acima, carnívoros abaixo. Em que caixa mantemos aqueles que vivem nos enviando em caixas?

Só há uma atitude mais grave. Quando nós mesmas tentamos nos enquadrar. Em nome de um grupo ao qual acredito pertencer, empobreço minhas diferenças, escondo peculiaridades e não mais me reconheço. Escolho vontades, respondo a chamadas que não são para mim. E me vejo de forma tão limitada que perco melhor de mim, desconstruindo minha lista de incoerências bem combinadas.

É impossível colocar as pessoas em caixas porque são bem mais do que supomos. Conheço mulheres tatuadas, cheias de filhos e casadas há décadas. E evangélicos gays, roqueiros que adoram sertanejo, mal humorados crônicos que também são bobos de plantão. Encaixotar afetos e pessoas é perder o melhor delas. Da mesma forma tentar enquadrar-se em determinados perfis é recusar o presente do auto conhecimento.

Para corroborar a lógica das caixinhas, somos viciadas em construir ilusões nas redes sociais. E depois, na realidade, nos tornamos vítimas do mesmo recurso, como se mudássemos de papel. Basta um passeio pelo Instagram para voltar acreditar no saldos bancários positivos e barrigas negativas que desfilam à minha frente. Do lado de cada tela, vislumbro minha imagem no fundo do poço, estropiada. E continuar dividindo o mundo entre bem e o mal, o preto e o branco. Perco os meios tons. Ler o jornal, um livro ou um post não deveria servir para perder perpetuar o encaixotamento, assim para desconstruir, confrontar, ativar o fermento que faz crescer e saía da casca.

Fã de uma caixinha como eu, a japonesa Marie Kondo criou o método de organização que prioriza o descarte. Ela nos orienta a energia não as peças a serem descartadas, mais as que ficaram. A pergunta que se deve fazer é: "isso me faz feliz? ". Sua filosofia é simbólica e transformadora porque pode ser estendida à vida. É bem vivida essa revisão periódica de carreira, amigos, relações afetivas escolhas. O que vale manter, o que pede desapego?

É a hora de descartar as formas limitadas de ver as coisas. Hora de demolir esse enquadramento imaginário que esconde o que sai do controle e do compreender que ser gente é imbatível. A vida é boa demais para ser curtida em pedaços. Neste mundo repleto de modelos vazios, a verdade tem um poder transformador. Não há nada que a desbanque."
Cris Guerra
**********
Neste pensar fora da caixa eu incluiria o cliente que acha que a única coisa que resolve a sua vida é fazer terapia toda semana...e, as vezes, anos a fio...
Aí aparecem as Constelações Familiares, onde tanto a permissão como as mudanças, dependem do sistema dele e do quanto está disposto a fazer aquilo que é prioritário/necessário para o momento e, muitas vezes, com uma constelação tudo se modifica e novas necessidades surgem.

O facilitador das constelações é o ultimo dentro da escala da vida do cliente. Ele é só instrumento do sistema, onde o que lhe cabe é a percepção do essencial dentro daquilo que se mostra...
Isso requer humildade do terapeuta, pois às vezes aquilo que o "campo" mostra não é o que o cliente quer ...e nem o que o facilitador poderia, eventualmente, "achar" que seria a solução.

Porem o  facilitador preparado sabe que ele não deve"achar nada", e que o sistema do cliente é que mostra as soluções.O essencial aqui é estar vazio de ideias, julgamentos ou soluções imaginárias.
Então , as alternativas para quem realmente quer mudanças estão aí...mas precisa primeiro querer. E todos os caminhos são válidos... o importante é dar o primeiro passo... e querer... e buscar!

Vamos pensar fora da caixa? Vamos reavaliar nossas caixas? Esta semana poderá ser altamente produtiva.
Bom dia 
Tais