Uma pessoa que não consegue estar só consigo mesma nunca vai conseguir estar com alguém, pois não tem individualidade. Uma pessoa sem individualidade é incapaz de estar junto de outra. O motivo? Existem vários. Para começar, ela sempre está com medo de que, caso se aproxime demais de alguém, vá perder a si mesma. Como ainda não está inteira, como ainda não tenho assim mesmo, ela só consegue ter uma coisa: medo.
É por isso que as pessoas temem o amor, e se apavoram com um amor profundo. Elas têm medo de se aproximar demais porque sentem que, caso façam isso, poderão ser dissolver no outro - o medo é esse. Pode ser que o outro as domine, que ele se torne o centro da vida delas, que elas sejam possuídas por ele - esse é o medo.
Apenas quem conhece a beleza de estar só é capaz de se aproximar tão intimamente quanto possível de outra pessoa, pois não sente medo. Ela sabe que é alguém, o seu próprio ser está integrado. Em seu interior já existe algo que atingiu a realização; afinal, se não fosse assim, ele não conseguiria estar só.
Existe ainda um segundo aspecto: quando uma pessoa não consegue estar só, permanece sempre dependente do outro. Ela se apega ao outro de todas as formas possíveis - pois morre de medo de ser abandonada, e assim, tem que enfrentar a solidão. Assim, ela se apega ferrenhamente e explora o outro como pode, criando todo tipo de amarras em volta dele.
Porém, sempre que tentamos possuir o outro, ao mesmo tempo somos possuídos por ele. É uma via de mão dupla. Quando você transforma o outro num escravo, ele faz a mesma coisa com você. Quando tem muito medo que a outra pessoa abandone, você se dispõe a fazer todo tipo de concessões, você aceita qualquer coisa.
É isso que acontece com todos os maridos esposas. Eles se submetem a esse jogo de concessões, vendem a própria alma, e tudo por uma única razão: não conseguem estar sós. Temem que a mulher os deixe, que o marido as abandone e... então, o que será? A simples ideia de que isso possa acontecer é assustadora demais, já os apavora.
A capacidade de estar só é a capacidade de amar. Pode soar paradoxal, mas não é. Isto é uma verdade existencial: apenas as pessoas que são capazes de estar sós são capazes de amar, de compartilhar, de mergulhar até o âmago mais profundo de outra pessoa - tudo isso sem possuir o outro, sem tornar-se dependente dele, sem reduzir-lo a um objeto, sem fazer dele um vício. Elas dão liberdade absoluta outro, pois sabem que, se ele partir, continuarão felizes como eram. A sua felicidade não pode ser tirada pelo outro, pois não foi dada por ele.
Agora, se é assim, porque então essas pessoas desejariam estar juntas? Simples - porque já não é uma necessidade, é um luxo. Procure compreender. O amor de pessoas autênticas é um luxo, e não uma necessidade. Elas adoram compartilhar: elas já trazem tanta alegria dentro desse que desejam que toda essa alegria também se derrame em outra pessoa. Elas sabem levar a vida com a mesma alegria de quem toca um instrumento solo.
O flautista sabe muito bem como se alegrar tocando sua flauta sozinho. Porém, se ele cruzar com algum tocador de tabla (instrumento de percussão indiano) pelo caminho - um solista que também esteja realizado com seu instrumento -, os dois vão se divertir imensamente juntos, tocando e criando uma bela harmonia entre a flauta e a tabla. Ambos vão se alegrar, ambos vão compartilhar a riqueza que trazem dentro de si, derramando a um no outro.
Mas a sensação diante desta independência é: "Você aparenta ser tão feliz consigo mesmo, parece que não se importa com ninguém". Mas se somos tão conscientes, tão amorosos, não paramos de interferir na vida alheia?
O amor nunca interfere; o amor sempre da a mais absoluta liberdade, se algo não traz liberdade significa que não é amor. Aquilo que sentimos como indiferença, não é indiferença, e aos poucos nos daremos conta disso. As pessoas não são indiferentes, pelo contrário, elas são muito amorosas, atenciosas... No entanto, pessoas conscientes não interferem, não se impõe umas às outras. Não são carentes, possessivas, nem se apegam ferrenhamente a alguém.
As pessoas precisam ser verdadeiras. Se sentirem-se bem juntas, ótimo. Mas, caso sintam que não estão crescendo mais, que não estão amadurecendo, é melhor dizer adeus.
Nesse caso ela se afastarão com toda a gratidão, pois compartilharam algo muito bonito, algo de que vão se lembrar com carinho pelo resto da vida - mas elas sabem que chegou a hora de partir. Viveram com alegria, e agora se despedem com alegria; sua amizade permanece intacta. E pode ser até que, um dia, elas se reencontrem, que vivam juntos de novo. Pois elas não se ferem, não deixam cicatrizes uma na outra - cada uma respeita a liberdade da outra.
Indivíduos que são capazes de estar sós e, ao mesmo tempo, de estar com alguém - que tem capacidade de tocar um instrumento solo e, também, de tocar numa orquestra. Essas são as pessoas maduras, conscientes, prontas a viver um relacionamento verdadeiro.
Osho - Vivendo perigosamente - a aventura de ser quem você é.
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