domingo, 27 de maio de 2012

O amor na psicoterapia fenomenológica


O que é psicoterapia fenomenológica?
A fenomenologia é um método filosófico. "Para mim a fenomenologia quer dizer: "Eu me exponho a um contexto sem compreendê-lo. Eu me exponho a esse contexto sem a intenção de ajudar e também sem a intenção de provar algo. Eu me exponho a ele sem medo do que poderá vir à luz. Tampouco tenho medo de que algo assustador venha à tona. Eu me exponho , à tudo, assim como se apresenta." 
      Diante de uma constelação, eu olho para todos, também para os ausentes. Tenho todos na minha frente. E, então, me exponho a esse quadro, de repente reconheço o que está por trás do fenômeno.
Vou dar um exemplo: Em uma  Constelação, posso ver que uma criança foi dada à uma outra família. É algo que não é visível. Está por trás do fenômeno. Isso pode ter acontecido muitas gerações atrás, e nem é de conhecimento do cliente. Ali se concentra algo que é essencial para o comportamento das pessoas dessa família. O essencial não é visível. Aparece subitamente através da observação dos fenômenos. E vem à luz. Essa é uma abordagem, fenomenológica.
O amor
Para trabalhar com Constelações faz-se necessário:
  1. Amar as pessoas cujas verdades quero conhecer. Aceitá-las seja qual for o destino delas, sua família, seus problemas.
  2. Ter um certo distanciamento. Quem se precipita nesse trabalho - e muitos dos que querem ajudar se precipitam nesse trabalho - não conseguem perceber nada.
A grande intimidade que decorre desse tipo de percepção só é possível à distância. Ela não é possível quando se está próximo. Ela não tem intenções pessoais e só leva em conta o que existe e o que surte efeito. Nada mais.
*************
Quando estou frente a uma Constelação ( seja em grupo ou individual), se não conheço esta pessoa, é mais  fácil olhar com amor. Amar não significa que eu queira alguma coisa dela, mas que eu o aceito tal como ela é. As vezes me perguntam se não preciso uma entrevista anterior para que eu saiba de que se trata o tema que ela quer constelar. Sempre respondo que quanto menos informação melhor, pois consigo ir para o real, sem estar contaminada com as histórias.
Quem olha para as flores, por exemplo, acha que todas as flores são belas, seja ela como for. Isso acontece também com os seres humanos. Isso é amor: o reconhecimento do que é belo e bom, tal como é.
Espero ter passado aqui nestas poucas linhas, o que é o trabalho fenomenológico.
As constelações são trabalhos pontuais , eu diria até, um tipo de Terapia Breve.
Participem dos grupos, conheçam, sintam a maravilha que é poder olhar para o mundo de uma forma totalmente diferente , muito mais amorosa e simples.
Boa semana.
Tais

domingo, 20 de maio de 2012

A arte de se libertar

O texto é um pouco longo...mas muito especial. Uma análise que percorre toda a linha de raciocínio e mostra  o caminho para  desenvolvermos  a compreensão ... Sem paradoxos! 
Ou com muitos paradoxos dentro da nossa leitura de mundo.
Tais


Muitas vezes um simples pedido de desculpas é capaz de desarmar a fúria de alguém.Basta lembrar aquela típica situação de trânsito: um motorista entra de repente na pista ao lado sem sinalizar, dando uma bela fechada em quem estava por ali. Ele pede desculpas. O atingido, que provavelmente ja tinha uma reclamação na ponta da língua, fica desarmado, esquecendo o xingamento.
As relações humanas são todas interligadas por fios invisíveis, em que uma ação gera uma reação e assim vai formando uma cadeia boa ou ruim de acontecimentos. Se um pedido de desculpas pode ser tão eficiente, do outro lado da história temos o ato de compreender. 
Gostaria, aliás, de inserir algo aqui. Compreender é diferente de perdoar. Este é arrogante, deixando-nos acima do outro e provocando uma situação de eterna dívida, pois quem perdoa, a princípio, está acima. Cria um desequilíbrio... A princípio parece apenas uma questão de nomenclatura...mas não é! Procure, em suas relações, perceber como é quando diz: "Eu te perdoo" ou "Eu te compreendo". Perceberás imediatamente a diferença - experimente!!!!
Mas voltando , o problema é que a compreensão pode ser um quebra-cabeça complicado de montar porque envolve muitas peças. Encaixar cada peça na posição adequada depende da excelência de cada jogador.
Há quem misture peças de vários quebra-cabeças da vida e ainda assim deseje construir uma compreensão que faça sentido. Mas tudo funciona segundo uma determinada lógica. Compreender é uma função que pode ser exercida  apenas pelo sujeito atingido. Não adianta a família toda querer entrar no jogo. Também não dá para achar que é possível terceirizar a compreensão, sair comercializando compreensão por aí em troca de dinheiro ou mesmo uma pilha de rezas. Fato é que, sem trabalho interno, o ciclo não se fecha, as peças não se encaixam.
Outra dificuldade é conseguir compreender, atitude absolutamente pessoal e intransferível. Há quem  demore a compreender, reclamando por justiça. Mas muitos confundem justiça com vingança, apesar de serem coisas bem diferentes. A vingança costuma vir misturada com o ódio em uma combinação corrosiva (às vezes muito bem disfarçada). Diferentemente, a justiça, quando verdadeira, vem misturada com amor. Basta lembrar as broncas ou corretivos que os pais , às vezes dão nos filhos. Conclusão: a vingança não se encaixa no processo de compreensão.
Não desejar vingança, porém, não significa que a compreensão  deve ser mole como gelatina e distribuída sem critério, Deixando que tudo volte a ser como era. Isso porque compreensão não deve ser confundido com falta de autoestima e de auto confiança. Nas relações amorosas, compreender tudo o tempo todo sem pontuar questões, sem exigir retratação ou mudança de postura, pode ser uma prática de criar tiranos debaixo do próprio teto. Relacionamentos desequilibrados entre pais e filhos ou entre casais existem aos montes. "Nenhum amor verdadeiro se encontra na condescendência a na bondade que tudo pode compreender, mas sim essa ideia errada é como um veneno entorpecente que apenas debilita, cansando  o espírito , e por fim produz a paralisia completa..."(Abdruschin - Na luz da Verdade).
Mas afinal, no meio de tantas peças soltas, o que há de bom em compreender e ser compreendido? Compreender pode cortar a cadeia negativa que une ambos os lados. Por um lado se liberta o agressor e de uma carga repleta de maus pensamentos e maus sentimentos. Por outro lado, quem cometeu o erro e está buscando reparação também tem seu caminho suavizado, ganha fôlego para recomeçar. Vale lembrar que concordar não significa concordar com o que ocorreu, nem tampouco significa que precisa haver uma reconciliação completa entre as pessoas. Não é também uma forma de esquecer tudo, mas é uma maneira de não cultivar o revanchismo e o mal-estar. É uma escolha por libertação.
A compreensão é um quebra-cabeça complicado, mas, quando as peças se encaixam, autor e atingido podem libertar-se de culpas e dores. E, cá entre nós, quem quer ficar amarrado em uma história ruim o resto da sua existência? Não há nada pior do que aquelas pessoas que ficam remoendo algo antigo e não conseguem se libertar da carga pesada. Há bagagens velhas que não trazem proveito nenhum para o presente e para o futuro, mas pesam insistentemente em ombros já cheios de responsabilidades. Refletir é importante e gera aprendizagem, ao passo que remoer acontecimentos traz amargura e causa envelhecimento precoce. Apesar das dificuldades vale o esforço para libertar-se das bagagens antigas. Assim será possível seguir, e até mais jovem, para a construção de uma nova história.
Periódico do Graal da Terra (com adaptações)- ano 12 nº 32

**************


domingo, 13 de maio de 2012

A mãe da gente

"Não gosto de escrever sobre ou em datas especiais, mas desta vez falo da singular criatura que é a mãe da gente, e dessa mais singular ainda relação entre nós e ela. Entre ela e nós? Há discrepâncias iniciais: o que sentimos e pensamos não coincide, em geral,  com o que ela sente e pensa. Um dos dramas humanos é a distância entre a intenção de quem disse a apalavra ou fez o gesto, o olhar, a quem os recebeu e tantas vezes interpretou erradamente, guardando mágoas dos quais o causador nunca teve a menor ideia, muito menos intenção.
      A intensidade com que sentimos e cultura caracterizam e oneram as relações humanas, sobretudo essa, de mães e filhos, pode ser pungente. Algumas brincadeiras bobas não são tão bobas: " mãe de menos, fica revoltado". Peso excessivo se coloca sobre os ombros de mãe, e de pai também. Se uma boa família, isto é, razoavelmente saudável, em que corra maias forte o rio o rio da alegria e do afeto do que o da frieza e do rancor, tende a produzir indivíduos emocionalmente mais saudáveis, a regra tem muitas exceções.  Boas famílias podem conter filhos neuróticos, violentos, drogados, e famílias disfuncionais podem produzir gente equilibrada, positiva e produtiva.
      Partindo do princípio de que relações são complicadas, ter um filho ( a mais incrível experiência humana) , ter de (ou querer) criá-lo para que seja feliz ( seja lá o que isso significa), cuidar de sua saúde, seu desenvolvimento,  dar-lhe afeto, bom ambiente,  encontrar o dificílimo equilíbrio entre vigiar (pois quem ama cuida) e liberar ( para que se desenvolva), é tarefa gigantesca. Que a mais simples mãe do mundo pode realizar sem se dar conta, e na qual a mais sofisticada mãe pode falhar de maneira estrondosa, dando-se conta disso, ou jamais pensando nisso.
      Nesse universo de contradições, pressões, exigências, variedades e ansiedade em que andamos metidos,  qualquer tarefa fica mais difícil, que dirá a de manter, concreta e emocionalmente, uma família numa relação boa dentro do possível. Os compromissos de pai e de mãe se avolumam, as necessidades e exigências de filhos e filhas se multiplicam, as ofertas se abrem como bocas devoradoras, o stress, a pressa, a multiplicidade de tudo, nos deixam pouco tempo físico para  conviver com a alegria ou escutar com atenção, e pouca disponibilidade psíquica: também pais e mães estão aflitos.
      Se antes o pai chegava em casa à  noite, cansado, querendo jantar, ler o jornal, olhar um pouco os filhos e a mulher descansar, hoje chegam exaustos os dois: a mãe, além disso, pela constituição biopsíquica com que a dotou a mãe natureza (para a preservação da espécie), e pela culpa que a nossa cultura impõe (ou é uma culpa natural e inevitável), chega duplamente sobrecarregada. Incluam-se aqui as tarefas que parecem banais, como olhar roupa, comida,  questões escolares dos filhos, embora hoje uma parcela crescente de pais tenha entendido que, não sendo retardados nem deficientes físicos,  ( ou mesmo sendo), podem assumir e curtir esses pequenos grandes trabalhos. 
      A mãe da gente é aquela que nos controla e assim nos salva e nos atormenta: e nos aguenta mesmo quando estamos mal-humorados, exigentes e chatos,  mas também algumas vezes perde a calma e grita, ou chora. Mãe da gente é aquela que nos oprime e nos alivia por estar ali; nos cuida, às vezes demais, e se não cuida a gente faz bobagem; é a se queixa de que lhe damos pouca bola, não ligamos para seus esforços,e, mais tarde, de que quase não as visitamos; é aquela que só dorme quando sabe que a gente está em casa, e chegou bem; a que levanta da cama altas horas para pegar a gente numa festa quando o pai não está ou não existe. ou já fez isso vezes demais.
      A mãe da gente é o mais inevitável, inefugível, amável, às vezes exasperante e carente ser que, seja qual for a nossa idade, país, etnia ou classe social ou cultura, nos fará a mais dramática e pungente falta quando um dia nos dermos conta de que já não temos ninguém a quem chamar de mãe."
 Lia Luft - Revista Veja
**********
Neste domingo especial não poderia deixar de falar sobre ela: Mãe.
Fui remetida para o colo de minha mãe com esse texto, e  felizmente, ainda a tenho por aqui.
Desejo que cada um de vocês, mesmo àqueles que já não têm sua mãe por perto, que a tomem no coração e façam uma grande reverência à ela. Afinal, a nossa vida existe graças à ela e ao nosso pai. Sem eles não existiríamos...e isso já é uma grande dádiva...independentemente  de como vivem ou viveram-um dia eles se amaram e nos fizeram.
Quando já tentamos de tudo em nossa vida e mesmo assim não conseguimos resultados, resta-nos a opção de beber na fonte. Nossos pais são a fonte, do jeito que eles são, não podemos mudar isso. 
Partindo do princípio que somos 50% mãe e 50% pai, se não "tomamos " nossa mãe, falta-nos 50%...e a vida fica pela metade. 
Em cada um de nós existe uma parte deles , e isto é inegável.
Um lindo domingo em homenagem a ela
Tais

domingo, 6 de maio de 2012

Sofro e não o porquê...



Na terapia Familiar Sistêmica, trata-se de averiguar se no sistema familiar ampliado existe alguém que esteja "emaranhado" nos destinos de membros anteriores dessa família. Isso pode ser trazido à luz através do trabalho das constelações familiares. Trazendo-se à luz os emaranhamentos, a pessoa consegue se libertar mais facilmente deles.
O que são "emaranhamentos"?
Emaranhamento significa que alguém na família retoma e revive inconscientemente  o destino de um familiar que viveu antes dele. Se, por exemplo, numa família,  uma criança foi entregue para adoção, mesmo numa geração anterior, então um membro posterior dessa família se comporta como se ele tivesse sido entregue. Sem conhecer esse emaranhamento não poderá se livrar dele. A solução segue o caminho contrário:a pessoa que foi entregue para adoção entra novamente em jogo. É colocada, por exemplo, na constelação familiar. De repente, a pessoa que foi excluída da família passa a ser uma proteção para aquela que estava identificada com ela. Quando essa pessoa volta a fazer parte do sistema familiar e é honrada, ela olha afetuosamente para os descendentes.
Obviamente existe uma consciência de grupo que influencia todos os membros do sistema familiar. A este pertencem os filhos, os pais, os avós, os irmãos dos pais e aqueles que foram substituídos por outras pessoas que se tornaram membros da família, por exemplo, parceiros anteriores (maridos ou mulheres) ou noivos(as) dos pais. Se qualquer um desses membros do grupo foi tratado injustamente, existirá neste grupo uma necessidade irresistível de compensação.Isso significa que a injustiça que foi cometida em gerações anteriores será representada e sofrida posteriormente , por alguém da família para que a ordem seja restaurada no grupo. É uma espécie de compulsão sistêmica de repetição.Mas esta forma de repetição nunca coloca nada em ordem. Aqueles que devem assumir o destino de um membro excluído da família são escolhidos e tratados injustamente pela consciência de grupo. São,  na verdade, completamente inocentes. Contudo, pode ser que aqueles que se tornaram realmente culpados, porque abandonaram ou excluíram um membro da família, por exemplo, sintam-se bem. A consciência do grupo não conhece justiça para os descendentes, mas somente para os ascendentes. Obviamente, isso tem a ver com a ordem básica dos sistemas familiares. Ela atende à lei que  aquele que pertenceu uma vez ao sistema tem o direito tem o mesmo direito de pertinência que todos os outros. Mas quando alguém é condenado ou expulso, isso significa: "Você tem menos direito de pertencer ao sistema do que eu". Essa é a  injustiça expiada através do emaranhamento, sem que as pessoas afetadas saibam disso.

Semana que vem continuarei escrevendo mais alguns assuntos elucidativos das Constelações Familiares.
Por hoje creio que o conteúdo está com muitas informações para serem processadas internamente em cada um.
Desejo uma semana com reflexões profundas acerca de seu sistema familiar e sobre as exclusões que são tão comuns em todas as famílias. Podemos olhar para isso com amor e respeito ao pertencimento a que todos temos direito. Bom dia!
Tais