"Não gosto de escrever sobre ou em datas especiais, mas desta vez falo da singular criatura que é a mãe da gente, e dessa mais singular ainda relação entre nós e ela. Entre ela e nós? Há discrepâncias iniciais: o que sentimos e pensamos não coincide, em geral, com o que ela sente e pensa. Um dos dramas humanos é a distância entre a intenção de quem disse a apalavra ou fez o gesto, o olhar, a quem os recebeu e tantas vezes interpretou erradamente, guardando mágoas dos quais o causador nunca teve a menor ideia, muito menos intenção.
A intensidade com que sentimos e cultura caracterizam e oneram as relações humanas, sobretudo essa, de mães e filhos, pode ser pungente. Algumas brincadeiras bobas não são tão bobas: " mãe de menos, fica revoltado". Peso excessivo se coloca sobre os ombros de mãe, e de pai também. Se uma boa família, isto é, razoavelmente saudável, em que corra maias forte o rio o rio da alegria e do afeto do que o da frieza e do rancor, tende a produzir indivíduos emocionalmente mais saudáveis, a regra tem muitas exceções. Boas famílias podem conter filhos neuróticos, violentos, drogados, e famílias disfuncionais podem produzir gente equilibrada, positiva e produtiva.
Partindo do princípio de que relações são complicadas, ter um filho ( a mais incrível experiência humana) , ter de (ou querer) criá-lo para que seja feliz ( seja lá o que isso significa), cuidar de sua saúde, seu desenvolvimento, dar-lhe afeto, bom ambiente, encontrar o dificílimo equilíbrio entre vigiar (pois quem ama cuida) e liberar ( para que se desenvolva), é tarefa gigantesca. Que a mais simples mãe do mundo pode realizar sem se dar conta, e na qual a mais sofisticada mãe pode falhar de maneira estrondosa, dando-se conta disso, ou jamais pensando nisso.
Nesse universo de contradições, pressões, exigências, variedades e ansiedade em que andamos metidos, qualquer tarefa fica mais difícil, que dirá a de manter, concreta e emocionalmente, uma família numa relação boa dentro do possível. Os compromissos de pai e de mãe se avolumam, as necessidades e exigências de filhos e filhas se multiplicam, as ofertas se abrem como bocas devoradoras, o stress, a pressa, a multiplicidade de tudo, nos deixam pouco tempo físico para conviver com a alegria ou escutar com atenção, e pouca disponibilidade psíquica: também pais e mães estão aflitos.
Se antes o pai chegava em casa à noite, cansado, querendo jantar, ler o jornal, olhar um pouco os filhos e a mulher descansar, hoje chegam exaustos os dois: a mãe, além disso, pela constituição biopsíquica com que a dotou a mãe natureza (para a preservação da espécie), e pela culpa que a nossa cultura impõe (ou é uma culpa natural e inevitável), chega duplamente sobrecarregada. Incluam-se aqui as tarefas que parecem banais, como olhar roupa, comida, questões escolares dos filhos, embora hoje uma parcela crescente de pais tenha entendido que, não sendo retardados nem deficientes físicos, ( ou mesmo sendo), podem assumir e curtir esses pequenos grandes trabalhos.
A mãe da gente é aquela que nos controla e assim nos salva e nos atormenta: e nos aguenta mesmo quando estamos mal-humorados, exigentes e chatos, mas também algumas vezes perde a calma e grita, ou chora. Mãe da gente é aquela que nos oprime e nos alivia por estar ali; nos cuida, às vezes demais, e se não cuida a gente faz bobagem; é a se queixa de que lhe damos pouca bola, não ligamos para seus esforços,e, mais tarde, de que quase não as visitamos; é aquela que só dorme quando sabe que a gente está em casa, e chegou bem; a que levanta da cama altas horas para pegar a gente numa festa quando o pai não está ou não existe. ou já fez isso vezes demais.
A mãe da gente é o mais inevitável, inefugível, amável, às vezes exasperante e carente ser que, seja qual for a nossa idade, país, etnia ou classe social ou cultura, nos fará a mais dramática e pungente falta quando um dia nos dermos conta de que já não temos ninguém a quem chamar de mãe."
Lia Luft - Revista Veja
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Neste domingo especial não poderia deixar de falar sobre ela: Mãe.
Fui remetida para o colo de minha
mãe com esse texto, e felizmente, ainda a tenho por aqui.
Desejo que cada um de vocês, mesmo àqueles que já não têm sua mãe por perto, que a tomem no coração e façam uma grande reverência à ela. Afinal, a nossa vida existe graças à ela e ao nosso pai. Sem eles não existiríamos...e isso já é uma grande dádiva...independentemente de como vivem ou viveram-um dia eles se amaram e nos fizeram.
Quando já tentamos de tudo em nossa vida e mesmo assim não conseguimos resultados, resta-nos a opção de beber na fonte. Nossos pais são a fonte, do jeito que eles são, não podemos mudar isso.
Partindo do princípio que somos 50% mãe e 50% pai, se não "tomamos " nossa mãe, falta-nos 50%...e a vida fica pela metade.
Em cada um de nós existe uma parte deles , e isto é inegável.
Um lindo domingo em homenagem a ela
Tais
Concordo que ter filhos e cuidar deles é uma tarefa gigantesca. è um universo de contradições...mas ter uma mãe para dizer que a ama é muito bom!
ResponderExcluirObrigada pela oportunidadew de ler aqui este artigo lindo!
Me emocionou muito pela simples constatação e que, mesmo sendo mãe, tia esposa, e sendo feliz... não tenho ninguém para chamar de mãe. Senti uma solidão enorme e então, orei pela minha mãe que me deu valores que nunca vou esquecer.
ResponderExcluirCara Maria...Como não tens mãe?????
ExcluirClaro que tens...àquela que te deu a vida, e apenas não está aqui fisicamente. Reverencie-a sempre , mas com a certeza de que tens mãe sim!
Um abraço querida e fique bem com sua mãezinha que lhe deu o bem mais precioso que tens: a vida!
vale a pena ler este texto
ResponderExcluirJa li este texto umas 4 vezes. A cada leitura , compreensão de mais um pedacinho... Obrigada
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