Virtude é sinônimo de poder. A virtude do veneno é matar, a da faca é cortar, do remédio, curar. E do homem? Agir bem. Sabemos disso. Agindo bem temos o máximo de poder possível. É pela virtude que chegamos às alegrias humanas. O autor do livro, André Comte-Sponville, reconhece que teve muito trabalho para escolher sobre quais virtudes discorreria e, após eliminar algumas e fundir umas com as outras, chegou a um total de dezoito.
São elas: a polidez, a fidelidade, a prudência, a temperança, a coragem, a justiça, a generosidade, a compaixão, a misericórdia, a gratidão, a humildade, a simplicidade, a tolerância, a pureza, a doçura, a boa-fé, o humor e o amor. Elas não devem ser cultivadas isoladamente, mas em conjunto. Existem virtudes mais fracas que outras, algumas servem de passagem para as demais, e o amor, que substituiria a todas tem o problema de ser a única virtude a não depender da nossa vontade. Analisemos cada uma delas."
Fernando Nogueira da Costa - Economista - Professor UNICAMP
Esta é e não é uma virtude. Quantas vezes não temos vontade de socar a cara de um canalha polido, preferindo mesmo que ele fosse mais grosseiro e mal-educado? Então, porque dizemos que ela é uma virtude? Porque a moral começa pela educação. A polidez é uma aparência de virtude. A educação para o ético começa pelo estético. Os pais sabem disso. Por isso ensinam boas maneiras aos filhos pequenos, dizendo que é feio fazer tal e tal coisa. É pela polidez, portanto, que entramos para o reino das virtudes.
A fidelidade
O segundo passo na entrada da verdadeira humanidade é aprender a se empenhar em manter a palavra dada, o compromisso em meio ao rio do tempo que leva embora todas as lembranças. Pois é pela memória que se fixa o espírito no homem. Sem ela viveríamos na improvisação e não seria possível uma cultura. Mas não deve ser cega e obstinada, pois a fidelidade deve ser à verdade da qual o espírito se tornou amante, e não à sua mera aparência, que pode, inclusive, contrariá-la com o passar do tempo.
A prudência
A prudência é a virtude instrumental que serve a todas as outras, pois não tem um objeto próprio, mas apenas escolhe os meios para alcançá-los. Ela existe porque o futuro é incerto e as condições da vida devem ser avaliadas para se agir. Nenhuma virtude pode prescindir da prudência que, no entanto, não pode subsistir isoladamente.
A temperança é a moderação dos desejos sensuais para deles desfrutar de modo mais puro e completo. Quem não usa de temperança se torna escravo de seus desejos. O corpo não é insaciável: a insaciabilidade é uma doença da imaginação que nos condena sempre a achar que nunca se está satisfeito levando-nos a infelicidade, pois ao desejo do intemperado nunca haverá vinho bastante, nem sexo bastante. É difícil de ser cultivada, porque devemos controlar fortemente nossa vontade. E esta quer sempre ir adiante.
A coragem
É a mais universalmente louvada das virtudes, o que não quer dizer muita coisa, pois neste caso é louvada também pelos estúpidos e pelos malvados. Mas a coragem que deve ser considerada como virtude é aquela desinteressada, altruísta ou generosa. Como ela supõe um esforço, toda virtude é coragem. Por isso o epíteto “covarde” é a mais grave das injúrias, referindo-se ao menos virtuoso dos homens. Chamamos de coragem intelectual à firme disposição de não ceder ao medo e se submeter unicamente à verdade.
A justiça
É a única virtude absolutamente boa. Todas as virtudes anteriormente mencionadas – coragem, temperança, prudência, por exemplo – podem ser utilizadas para o mal, e neste caso não seriam virtudes. A justiça é o horizonte de todas as virtudes e a lei de sua existência. Ela se situa no duplo respeito à legalidade e à igualdade entre os indivíduos. Mas se se opõem estas duas, é preferível combater a legalidade, que pode ser injusta. A justiça só existe e só é um valor, inclusive, quando há justos para defendê-la. Ela não dispensa , portanto, as demais virtudes, como a prudência, a coragem, a tolerância, etc. É, como diz Aristóteles, a mais completa das virtudes.
A generosidade
Esta virtude só brilha por ser demasiadamente rara neste mundo onde impera o egoísmo. Ela é a primeira virtude que imita o amor, do qual se distingue por ser fruto da vontade, diferentemente deste. Nós amamos a idéia do amor, mas somos incapazes de amar, por isto procuramos ser generosos. Amar o amor é regozijar-se com a idéia de que o amor existe, ou existirá. Também é esforçar-se por fazê-lo advir. Isto é a própria generosidade: esforçar-se por amar e agir em conseqüência disso.
A compaixão
A compaixão é a simpatia na dor ou na tristeza do outro. Não significa aprovar e compartilhar as razões de quem sofre, mas simplesmente se recusar a ver outro sofrer. Podemos sentir compaixão até pelos animais, o que é a única prova clara da superioridade humana em relação ao restante da natureza. Ela é uma virtude que nos leva ao amor, embora ainda não o seja. Deve ser cultivada exatamente por isso.
A misericórdia
Esta é a virtude do perdão. Não significa esquecer o mal que nos foi feito, o que a prudência impede, mas cessar de odiar. Ela compreende que se o outro é mau, está enganado ou dominado por paixões. Devemos nos recusar a compartilhar do ódio que o outro sente, evitar somar egoísmo ao seu egoísmo e cólera à sua violência. Por fim, devemos aprender a perdoar a nós mesmos, que muitas vezes nos odiamos e precisamos cessar de nos odiar.
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Gostou?
Como é bom ler uma compilação bem escrita, não? Ela aguça a vontade de ler o livro na íntegra.
Semana que vem publicarei a parte final e indicarei na web o link para a leitura do mesmo.
Boa semana
Taís
Um pouco de virtude sempre temos, o ideal é aperfeiçoarmos e a leitura é o melhor caminho. Obrigado pelas informaçoes, também fiquei interessada em ler o livro.
ResponderExcluirAbraço
Eunice
Maravilhoso, Taís! Obrigada por compartilhar! Adorei!
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