Toda vez que deparo no meu caminho com uma pessoa soberba, egoísta, prepotente, arrogante, invejosa - ufa! - conto até dez e tento entender o que há com aquela criatura; que caminhos a trouxe à vida adulta e por que age daquela maneira. Se não parar para refletir, sentirei ódio e repugnância. Então, respiro fundo.
São assim por quê? Uma maneira de se proteger do mundo, talvez. Ou, por que são analfabetos emocionais e não cresceram na sentimentalidade. Para não invocá-las, me pergunto: o que ela sabe mais do que eu sobre a morte? Volto a sentir pena.
A primeira vez que ouvi dizer sobre inteligência emocional foi em 2001. Uma amiga me contava que, numa cidade vizinha, havia um curso nos finais de semana sobre inteligência emocional. Três anos depois fui convidado a participar de um desses cursos, já com outro nome, mas tudo igual ao que me contaram sobre inteligência emocional. Foi uma sacudida geral nas emoções – choro e ranger de dentes. Na época, eu passava por um processo terapêutico e pouco do que ouvi lá me acrescentou. Mas valeu também pelas amizades que fiz.
Anos mais tarde, assistindo uma palestra, fui entender que inteligência emocional era uma maneira atual para definir maturidade. E tudo o que buscamos, em comunhão com nossa verdade, é sermos mais maduros, mais tolerantes às dificuldades e frustrações do mundo ao nosso redor. Num caminho evolutivo de nós, na mente e no espírito.
Não há maturidade sem a vivência; deixar a vida passar e transpassar sobre si, como uma serpente que desliza sobre nosso dorso, sem medo da picada; ou, como a água que corre pelos menores veios e vãos – deixar a vida acontecer com dores e alegrias. Para a maioria, a maturidade virá com o fundo do poço, onde só há uma alternativa: voltar à superfície; não há maturidade sem o aprendizado dos tropeços e quedas. Enquanto não encaramos, vamos fazendo repetições, continuamente no analfabetismo do autoconhecimento. Durante a palestra, identifiquei muitas pessoas com quem convivi; por vezes, baixei os olhos, porque me vi também... Tento me corrigir sempre. Afasta-me Deus dessa tolice.
Pessoas analfabetas emocionais – tolos emocionais – são, na maioria, seres difíceis de lidar, destemperados; egoístas, intolerantes, de estopim curto; de dedos que acusam com respostas agressivas; malcriadas diante das adversidades; sem autocríticas e desonestas intelectualmente; gritando com tudo e com todos. Alguém que não se habita; uma casca rígida com interior oco. Foi a definição que traduzi. Alguém conhece esse ser?
Hoje, trocaria o termo inteligência emocional por sabedoria emocional. A inteligência já é dada a todos nós, para aprendermos matemática, física e outras ciências; mas a sabedoria é adquirida com as experiências ao longo da vida. Sabedoria é facultada àqueles que buscam o conhecimento, neste caso das emoções, em si. A sabedoria requer prudência, juízo, bom senso, razão e retidão.
A maior cantora brasileira que ouvi – a exemplo de Marilyn Monroe – morreu aos 36 anos de idade. Segundo relatos, Elis Regina morreu depois de fazer uma combinação de cocaína e álcool. Lembro-me dos noticiários da época, dizendo que, ela havia terminado um namoro com um advogado, desconhecido; mas, por quem estava apaixonada. Ela não suportou o fim da relação e fez a tal mistura que levou à morte. Elis era uma mulher inteligente, astuta, respeitada no meio artístico, de gênio forte muitas vezes, mas de inegável talento. Ela não teve sabedoria para lidar com o revés da vida; não teve sabedoria para aceitar as frustrações e derrotas; tentou desviar a dor do seu caminho e tropeçou com a morte.
Lupicínio Rodrigues escreveu estes versos: “Esses moços, pobres moços. Ah, se soubessem o que sei. Não amavam. Não passavam. Aquilo que já passei...”. Esta música vem a mim como uma resposta de quem, na sabedoria, já amadureceu e agora quer resgatar outros moços que não querem enxergar, muitas vezes, o óbvio da vida: não pise em casca de banana, você irá cair! Eu trocaria na letra, “pobres moços” por “tolos moços”. É tolice viver na repetição dos erros; enxergar a casca de banana e continuar pisando. Imaturos criam sofrimento para si; sentem prazer em sofrer e vão arrastando quem está por perto, para o seu buraco.
Já me deparei com alguns tolos emocionais por aí; com algumas tolas eu tentei conviver mais de perto. Acho difícil sustentar relações com pessoas egoístas. Só existe egoísmo no mundo, porque existe generosidade, disse o psicanalista Flávio Gikovate. Há que ter resignação, abandono dos prazeres; desligar a TV, deixar o futebol, fechar o romance que se lê, calar-se e viver para dedicar às suas necessidades - como um serviçal. Apagando os incêndios dos sofrimentos que constrói. Alguém está disposto?
Não acredito no amor incondicional como se apregoa por ai, na forma como é romantizado. O amor incondicional e atemporal só existe nos graus de parentescos e afinidades por pai, mãe, filhos e irmãos. O outro amor – por alguém – só tem validação por meio de troca. Eu darei à medida que receberei. Ou, eu retribuirei na mesma medida. Por isso, muitas relações não duram. Há pessoas que só querem receber, e quando mais você dá; mais ela cobra. Uma hora, a prateleira estará vazia, não haverá mais “mercadoria” para doar. O tolo emocional é avesso em fazer cortesias sentimentais. Tolos não mudam; sim, querem que o mundo mude em seu favor. Também não se veem e não se colocam no lugar do outro, abnegando as emoções alheia. Penarão nas suas relações humanas por não saber doar-se na medida em que recebe.
13 de janeiro, praticamente início de ano - um bom dia para filosofar. Enquanto tomávamos uma cerveja num fim de tarde num quiosque à beira mar, um amigo me contou um adágio japonês: há pessoas que são lagoa e há pessoas que são rio. A lagoa, você a vê, aparentemente calma, serena e bonita, emanando paz... Mas, quando você arremessa uma pedra e ela chega ao fundo, uma argila, em forma de lodo, se desprende da sua profundeza e torna aquela água cristalina, barrenta e turva. A aparente calmaria e beleza não reflete o que guarda lá na alma - a falsa aparência. Por outro lado, existe aquela pessoa que é como rio; está sempre em movimento; sua água é corrente, cristalina e rasa; num sentido único da vida. É possível ver seu fundo limpo – ver os pés. Quando arremessamos uma pedra é levada imediatamente – sem ressentimento.
Pessoas maduras, quando têm que escolher, não escolhem um rio de lágrimas para chorar; nem um caminho de sofrimento para atravessar. Vão pelos atalhos mais simples que a vida mostrar. No final da jornada, todos nós chegaremos ao mesmo ponto e, só então, entenderemos o que a morte nos reserva. Fim do mistério.
Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista
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O destino do homem não é algo imposto pelo exterior. O homem possui dentro de si a capacidade de dominar o destino e tornar-se tanto poderoso como fraco. Mesmo que surja algum obstáculo, isso nada mais é do que um esmeril destinado a nos polir. Se o diamante bruto não fosse submetido ao atrito do polimento externo, não poderia manisfestar o brilho deslumbrante que encerra dentro de si. No homem também acontece o mesmo. Se não existisse alguma exercitação ou polimento, perderia a oportunidade de manisfestar a força que existe no seu interior.
Taís
ResponderExcluirmuito bom! bjs
Achei bastante profundo o texto desta semana.Prefiro estes àqueles muito tecnicos... Me fez repensar algumas coisas do meu jeito de ser. Obrigada
ResponderExcluirThais vc não tem interesse de fazer um grupo aqui em Camboriú para Constelação Familiar? Tem algumas amigas da Lê com interesse, inclusive ela.
ResponderExcluirTenho sim Vera. Me ligue para combinarmos. Agradeço
ExcluirSeu blog "virou " o meu vício...chega domingo e fico esperando o email avisando da nova publicação...............Obrigaduuuuuuuuuuuuuuuuu
ResponderExcluirOba...que coisa boa! Obrigada pelo estímulo.
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