Antigamente, quando o carnaval tinha lança-perfume da Rhodia
(chamada Rodouro) e era vendida na porta do clube, a coisa era mais organizada.
As pessoas esperavam pelo carnaval. Hoje tem carnaval todo dia. Naquele tempo,
já dizia Jesus a seus discípulos-foliões, todo mundo trabalhava os outros 361
dias do ano. Ou estudava. Então, quando chegava o carnaval, o negócio era pra
valer. Homem vestido de mulher era o mínimo que se permitia.
O evento – sim, era um evento – começava meses antes. Os
compositores, os melhores compositores brasileiros, faziam as músicas “para o
próximo carnaval”. Os cineastas brasileiros faziam os musicais da Atlântida
para lançar as pérolas. Quando chegava fevereiro todo mundo já sabia “de cor e
salteado” umas dez delas. Cidade Maravilhosa, Olha a Cabeleira do Zezé, Pierrô
Apaixonado, Chiquita Gonzaga, lá da Martinica, Letra Ó, De Caniço e Samburá,
Coração Corinthiano.
E, em função das músicas, se faziam os blocos para o clube.
Famílias se reuniam, se organizavam, bolavam os figurinos, gastavam uma “nota
preta”.
Nos dois sábados que antecediam as quatro noites, tínhamos o que
era chamado de “pré”. Não, não tinha nada a ver com cheque-pré. O baile
pré-carnavalesco já vinha embutido no preço das mesas para as quatro delirantes
noites. Era o aquecimento, o treino, o bate-bola, o bate-coxa.
As pessoas cheiravam (lança) e caiam no meio do salão e aquilo
era uma festa, não era uma droga. Outras bebiam e iam regurgitar lá na
varanda. E depois, é claro, tinha uma bela duma sopa de cebola que ia até lá
pelas oito da manhã. Sendo que no sábado e na terça tinham as matinês para a
“gurizada”. E os jovens pais aproveitam para colocar os filhos nos ombros e
cairem na gandaia naquele calor carnavalesco.
Namoros começavam naqueles dias. Outros, terminavam por causa de
algum rapaz ou moça da capital que vinham cativar a caipirada. E quem “animava”
os bailes eram grandes orquestras com mais de quarenta músicos. Orquestras que
eram contratadas a preço de ouro um ano antes.
O carnaval era uma coisa séria, minha senhora. Hoje todo dia é
dia de carnaval. Mas sem ter lança-perfume para jogar na bundinha das meninas,
não tem a menor graça.
Agora quando chega o carnaval as pessoas procuram uma praia para
descansar do carnaval que foi o ano todo. Onde já se viu?
E eu, como
atualmente moro numa praia, estou pensando – seriamente – em cair na gandaia
daqui a pouco. Vestir uma camisa listrada e sair por aí, “botando bezerro,
botando pelo ladrão, deitando o verbo, destripando o mico, deitando carga ao
mar, falando aos peixes”.
Revista Voguerg
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Semana de festas...se não brincando carnaval, pelo menos assistindo-o . Festa que orgulha os brasileiros , que divulga o país lá fora...porém artificial, sem a pureza do passado.
Mas em todas as épocas existem suas graças...e vamos lá...pois é Carnaval!
Bom descanso !
Tais
É, carnaval, festa esperada. Continuando no saudosismo, onde foram parar a mulatas lindas?
ResponderExcluirEscola e samba virou malabarismo, aula de ginástica, passos de balé, bronzeado de laboratório e silicone até nos pés.
nem cheque frio para quarta de cinzas existe mais.
Carnaval é dentro da gente...o ano inteiro. Vamos colocar ordem nessa casa...rsrsrsrsrsr
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