"Quando dizemos “Isso é meu direito” ou “Tenho direito a isso”, tomamos posse de algo como se nos pertencesse.
Consideramos como propriedade nossa aquilo que adquirimos com nossos esforços ou com nosso dinheiro e o reivindicamos diante de outras pessoas. Esse direito é protegido por uma ordenação jurídica que regula a convivência pacífica, no que toca às relações de propriedade.
Esse direito, porém, é muito frágil. Quando uma tempestade atinge a casa que adquirimos e destrói o seu telhado, percebemos quão pouco ela nos pertence. Quando outras pessoas passam por minha casa, ela também lhes pertence. A admiração deles nos alegra, pois não podemos e não queremos ter a casa exclusivamente para nós.
Observamos o mesmo nas pessoas que adquirem uma coleção de quadros. Só desfrutam realmente dela quando também é vista por outras pessoas. Por isso, muitas vezes providenciam logo o acesso do público a essa coleção.
Seja como for, toda reivindicação de direitos cessa com a morte.
No convívio humano, o intercâmbio entre o dar e o tomar é regido pela necessidade de equilíbrio. Por conseguinte, quando fazemos algo por outros ou lhes damos alguma coisa, esperamos que nos retribuam, pelo menos com reconhecimento e gratidão. Sentimo-nos no direito de reivindicar alguma coisa. Quando esse direito não é reconhecido, sentimos isso como uma injustiça. E a outra pessoa também sente que infringiu uma regra básica da convivência. A reivindicação de uma parte é sentida como direito, e a recusa da outra em satisfazê-la é experimentada como injustiça.
É estranho que as pessoas reivindiquem direitos sobre seus conhecimentos e mesmo sobre suas opiniões, como se devessem ser respeitadas como propriedade sua. É o que se poderia chamar de “mania de ter direito”.
Essa atitude pode ser comparada à de uma criança que, ao ver o mar pela primeira vez, enche de água seu baldinho e o leva aos seus pais, dizendo: “Agora o mar é meu”.
Nem mesmo com cem mil baldinhos, pertencentes a outras tantas pessoas, tirariam qualquer coisa do mar. Quem possui o mar mais profundamente, mesmo sem tocá-lo é aquele que, diante dele, permanece em contemplação e sem desejo de posse."
Bert Hellinger
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Direitos e deveres andam juntos e levam ao equilíbrio. o que desequilibra é o querer sem dar em troca.
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