sábado, 22 de novembro de 2014

A Indignação


"Quando nos tornamos indignados sobre uma situação qualquer, parece que estamos do lado do bem e contra o mal, do lado da justiça e contrário à injustiça. Parecemos então ser aquele que intervém entre o agressor e sua vítima de modo a impedir um mal maior. Contudo, pode-se também intervir entre eles com amor, e isso seria, com certeza, melhor. Assim, o que o indignado quer? O que ele realmente obtém?

O indignado se comporta como se ele próprio fosse uma vítima, embora não seja. Ele assume o direito de exigir uma reparação do agressor embora nenhuma injustiça tenha sido feita, pessoalmente a ele. Ele assume a tarefa de advogado das vítimas, como se ele tivesse dado a ele o direito de representá-las; e fazendo assim, deixa as verdadeiras vítimas sem direito.

E o que faz o indignado com esta pretensão? Ele toma a liberdade de fazer coisas más aos agressores sem medo de qualquer consequência ruim para sua própria pessoa; pois suas más ações parecem estar a serviço do bem, e assim elas não temem qualquer punição. De modo a manter sua indignação justificada, tal pessoa dramatiza tanto a injustiça sofrida pelas vítimas quanto as consequências das ações da parte culpada. Ela intimida as vítimas a verem a injustiça pelo mesmo modo com ela mesma vê. De outro modo, caso as vítimas não concordem, tornam-se suspeitas e alvo de uma indignação justificada, como se elas mesmas fossem agressores.

Da perspectiva da indignação é difícil para as vítimas deixar seu sofrimento ir embora, e é difícil para os agressores deixarem sua culpa ir embora. Se às vítimas e aos agressores for permitido encontrar uma resolução e uma reconciliação por seus próprios meios, elas podem se permitir, uma a outra, um novo começo. Mas se a indignação entra em cena, tal resolução é muito mais difícil, pois o indignado, geralmente, não fica satisfeito até que o agressor tenha sido completamente destruído e humilhado, mesmo que isto, ao ser feito, intensifique o sofrimento das vítimas.

A indignação é em primeiro lugar uma questão de moralidade. Isto quer dizer que o indignado não está realmente preocupado em ajudar outra pessoa, mas comprometido com uma certa demanda para a qual ele se proclama o executor. Deste modo, ao contrário de alguém que ama, tal pessoa não conhece nem contenção, nem compaixão.

"Nós estamos liberados do mal quando podemos, serenamente, deixá-lo ir."
Bert Hellinger
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O perdão e a gratidão é o antídoto mais perfeito que a Natureza nos proporcionou contra a doença, os sofrimentos e as infelicidades. Isso é muito simples quando conseguimos compreender... e todas as outras ilusões são dissipadas após essa compreensão.
Por que os seres humanos nunca estão satisfeitos? Não é porque buscam a felicidade e acham que por meio de uma mudança constante serão felizes? 
Saem de um emprego para outro, de um relacionamento para outro, de uma religião ou ideologia para outra, achando que por intermédio desse movimento contante encontrarão a felicidade; ou, então, escolhem uma estagnação da vida e permanecem nela. Certamente o contentamento é algo bem diferente. Ele acontece somente quando vocês se veem como são, sem qualquer desejo de mudança, sem qualquer condenação ou comparação - que significa que vocês apenas aceitam o que veem e vão dormir...
Mas quando a mente não fica mais comparando, julgando e avaliando - portanto, apta para ver o que acontece a cada momento sem desejo de mudar -, nessa percepção está o eterno.
Sempre com a busca interna...pois sem ela achamos que sabemos tudo! Tenho refletido sobre isso...
Taís

4 comentários:

  1. Linda reflexão, ponderada, mas continuo insistindo na indgnação. Entendo ser ela a não aceitação do que se nos apresenta como perfeito e acabado. Isso ê o conceito do outro, talvez, pretensiosamente melhor. Quero mais de quem ter o poder de dar. Em todos os níveis do poder. Quanto mais conquista, quanto mais poder, mais tem que ser doado. A indignação é o alimento da doação, do que pode ser feito.



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    1. Releia este trecho:
      O indignado se comporta como se ele próprio fosse uma vítima, embora não seja. Ele assume o direito de exigir uma reparação do agressor embora nenhuma injustiça tenha sido feita, pessoalmente a ele. Ele assume a tarefa de advogado das vítimas, como se ele tivesse dado a ele o direito de representá-las; e fazendo assim, deixa as verdadeiras vítimas sem direito.
      A cada leitura pode-se descobrir mais uma reflexão. Muito obrigada!

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  2. Perfeito. Obrigada pelo texto!

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  3. Também gostei muito. O que limpa a alma?

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