"Até mais de uma década atrás, eu era, como a grande maioria da nossa sociedade, totalmente ignorante no que diz respeito ao aborto, numa perspectiva sistêmica.
Somente com a entrada da Constelação Familiar na minha vida, pude começar a perceber os efeitos que um aborto causa para o próprio feto, para os pais e para toda a família.
Quando tive a oportunidade de reviver dezenas de casos de aborto - inclusive alguns meus - através das Constelações Familiares pude sentir o quanto aquelas "almas" ainda estavam ligadas a seus pais. No meu caso particular, pude sentir cada uma delas e pude finalmente me reconciliar com as mesmas e, por conseguinte com o meu próprio coração.
Caso você tenha provocado algum aborto, aproveite a leitura desse artigo para incluir esse ser abortado no seu coração e curar assim essa ferida que provavelmente ainda está aberta no seu peito.
Bert Hellinger, o criador da Psicoterapia Sistêmica Fenomenologia, conhecida também como Constelação Familiar Sistêmica, não tem nenhuma vinculação religiosa, mas é a meu ver um ser religioso que busca a espiritualidade em cada fenômeno que a ele se apresenta. Ele teve "insights" preciosos a respeito do aborto e suas consequências.
Tomei conhecimento das Constelações Sistêmicas através de uma amiga - a terapeuta alemã Mimansa que desde cedo vem acompanhando o trabalho de Bert Hellinger e suas descobertas incrivelmente reveladoras. Tive a oportunidade de trazer a Mimansa para dar seu primeiro workshop em Fortaleza em 1997. E fiz minha formação básica com outro alemão – o médico e psicoterapeuta Bertold Hulsamer, entre 1999 e 2000, na Índia. Tive também a felicidade de ser o primeiro constelador a atuar aqui no Nordeste do Brasil.
Quando vi pela primeira vez a colocação nas Constelações de filhos abortados, pude perceber que o mal maior é causado não somente pelo ato de abortar, mas pela exclusão e tentativa de esquecimento daquele filho rejeitado.
Os pais, principalmente a mãe, ficam ligados sistemicamente a esse filho abortado, até mesmo negando a sua existência, inconscientemente eles estão conectados ao mesmo. E o que é mais grave, os pais olham na direção dos filhos mortos prematuramente e inconscientemente dizem: "eu sigo você meu filho querido". Isso significa que eles iniciam uma caminhada na direção à morte, ao fracasso, à doença ou à separação.
Os filhos vivos por sua vez, sentem a "ausência" dos pais e percebem inconscientemente que um deles, ou os dois, querem desaparecer. O olhar dos pais fica perdido no horizonte. Então, por amor, os filhos vivos dizem internamente: "Antes eu do que você, querido pai ou mãe".
E se esse desejo inconsciente de substituir os pais na caminhada em direção à morte não for interrompida, pode ocasionar uma seqüência de mortes e/ou doenças, geração após geração, até o momento que tudo isso seja trazido à luz. E esse padrão destrutivo será interrompido quando pudermos incluir no coração todos os que morreram, foram excluídos ou esquecidos, inclusive os filhos abortados.
Bert Hellinger em seu livro "A fonte não precisa perguntar pelo caminho" nos elucida essa questão do aborto: "Crianças abortadas têm sempre um efeito especial para seus pais. Nisso existe, frequentemente, a dinâmica de que a mãe ou o pai dessa criança abortada queira segui-la, também, na morte. Ou expiam, quando mais tarde não se permitem estar bem, por exemplo, não têm ou não encontram mais outro companheiro. Ou, se têm um relacionamento, se separam. Isso seria muito pior para a criança abortada se soubesse do efeito do seu destino".
Em outro parágrafo Bert fala da reconciliação e da cura: "A dor e o amor reconciliam a criança com o seu destino".
Nas minhas palavras: É necessário assumir a dor e a responsabilidade ou sentimento de culpa para que o amor suprimido volte a fluir na interação com o filho abortado e na vida dos sobreviventes. Toda essa compreensão me ajudou a curar feridas de peso e culpa que eu carregava sobre mim. Os passos que dei são os mesmos que qualquer pessoa pode dar: reconhecer os abortos, incluir meus filhos abortados no coração; reverenciar a mãe ou o pai e assumir a sua parte da responsabilidade.
Pude, durante e depois de cada vivência, sentir o amor expandindo em meu coração, uma leveza e um desprendimento que invadiu todo o meu ser.
Bert também nos dá dicas preciosas de como continuar nosso processo de cura, ele diz: "E é importante que a força que vem da culpa possa fluir para algo bom em homenagem a essa criança, por exemplo, no cuidar generosamente de outros. Isso atua de volta na criança. Então a criança não se foi. É acolhida novamente pelos seus pais, participa de sua vida e fica reconciliada. Isso seria uma boa solução para todos".
Namastê!
Guilherme Ashara
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Quando se sente amor, pelas crianças abortadas, aceitando-as e dando um lugar, abrem-se as portas da liberação para o abortado, para seus pais e irmãos. É um ato de amor de valor imensurável.
Caso você tenha fracassos, depressão, ou sentimentos que levam à autodestruição, busque um terapeuta que trabalhe com Constelações Familiares e comprove o quanto de cura pode se alcançar. É bem verdade que muitas pessoas procuram soluções mágicas e instantâneas...mas não funciona assim!
É necessário processar internamente tudo que foi "constelado", e, aos poucos, ir sentindo aquilo que deve ser "olhado", "tratado"e modificado por si mesmo(a).
Boa semana
Tais
Que texto amoroso!
ResponderExcluirObrigado