domingo, 31 de janeiro de 2016

O homem sufocado pela mãe


"Nós, homens, dizemos que as mulheres são imprevisíveis e difíceis de entender. Mas é lógico que o “ser homem”, nestes tempos, também é uma incógnita. Tanto é que os relacionamentos afetivos passam por grandes transformações. Os modelos familiares, idem. A humanidade em geral está em busca de novos padrões, já que os antigos, já deram…

Por exemplo, recebo hoje mulheres que são mais ou igualmente provedoras que o homem. Até poucas décadas, este papel era fundamentalmente masculino. Assim como recebo homens que são “donos de casa” exemplares, e cuidam dos filhos com um espírito “materno” real e honesto. Vejo mulheres pragmáticas, dinâmicas, regidas por metas e prazos, guiadas por um senso de lógica e produtividade, enquanto sinto homens aéreos, poéticos, lunares, sentindo o fluxo, vivenciando as emoções em todas nuances, acessando a intuição e deixando-se levar pelo fluxo da vida. O que aconteceu para tantas mudanças?

Quero abordar este tema de forma muito prática, sem entrar em história, sociologia, política, antropologia, etc. Quero falar da psique do homem, e para isso, vou usar meu exemplo pessoal e também a experiência que tenho como terapeuta, certo?

O filhinho da mamãe
Fui dominado por mulheres na minha vida. Desde o início. A princípio, minha mãe, abandonada por meu pai, que arcou com a educação dos dois filhos. Passando por inúmeras dificuldades emocionais, cuidou do jeito que pôde, e tenho que dizer que a infância minha não foi nada fácil. Muita briga, muito abandono, muita irresponsabilidade, muitas fugas… sensação de medo constante. E nos primeiros anos, toda essa cena foi agravada pela disputa constante entre minha mãe e avó paterna, que desejava a todo custo tirar a guarda dela em relação a nós – eu e meu irmão mais velho, alegando maus tratos, distorções de comportamento moral, etc.

Onde estava meu pai? Onde estava a figura do masculino? Estava sempre em busca de outras mulheres e cuidando das próprias coisas. Tanto que, certo dia, um homem tocou a campainha de casa. Eu devia ter uns quatro anos de idade. Abri a porta. Não o reconheci. Era meu pai, mas para mim, era simplesmente um homem.

Finalmente, após anos brigando, fui morar com minha avó paterna. E avô. Vovó dominava a cena. Mandava e desmandava, e meu avô obedecia. Muitas vezes beirando à histeria, vovó tinha um jogo muito peculiar: fazia o que queria, gritava, dava as ordens, e se percebia algo que a contrariava, caía na cama, com dores de fígado e vitimismo profundo, evitando assim que alguém pudesse reagir contra sua autoridade.

Costumo dizer que as vítimas conseguem causar danos mais profundos que as pessoas agressivas, que batem, agridem fisicamente, simplesmente porque não há como reagir contra as vítimas. A vítima é socialmente aceita. Se alguém vê uma vítima apanhando na rua, não irá querer saber que esta vítima provocou o agressor durante vinte anos. Irá defende-la. Se esta vítima mora dentro da sua casa, é sua mãe, pai, avô, avó, marido, esposa ou filho – talvez você mesmo seja a vítima, em vários momentos – então, entende bem o que eu falo. A pessoa cai na cama, doente. Se faz de coitada. Dá um passo e na primeira derrota, justifica que o mundo é ruim. O presidente é culpado. A política econômica… a violência… etc., etc., etc.

Mas meu avô também, de certo modo, era vítima. Quando eu interpelava vovô a respeito dos comandos que achava injustos da vovó, ele dizia: não posso fazer nada! Ela é assim. Vovô era submisso à ela. Atraímos um mesmo modelo para a nossa vida, e todos estão amarrados neste modelo. Assim fui criado. Assim aprendi a ser homem.

Um homem fraco, subordinado às vontades muitas vezes absurdas das mulheres.

Bert Hellinger, o criador da terapia de constelação familiar sistêmica, diz: “A ordem do amor entre o homem e a mulher envolve também uma renúncia, que já começa na infância. O filho, para tornar-se homem, precisa renunciar à primeira mulher da sua vida, que é a sua mãe. E a filha, para tornar-se uma mulher, precisa renunciar ao primeiro homem da sua vida, que é o seu pai. Por essa razão, o filho precisa passar cedo da esfera da mãe para a do pai. E a filha precisa retornar cedo da esfera do pai para a da mãe. Permanecendo na esfera da mãe, frequentemente o filho só chega a ser um perpétuo adolescente e queridinho das mulheres, mas não um homem. E persistindo na esfera do pai, a filha muitas vezes só se torna uma perpétua menina e namoradinha dos homens, mas não uma mulher. Quando um filhinho da mamãe se casa com uma filhinha do papai, com frequência o homem busca uma substituta para a sua mãe e encontra na mulher, e a mulher busca um substituto para o seu pai e o encontro no marido.”

O casamento do filhinho da mamãe
Cresci, entrei na faculdade, larguei faltando alguns meses para concluí-la, fui morar no Japão por três anos e lá reencontrei minha autoestima, que estava bem derrubadinha. Ao retornar, durante uma viagem ao Peru, encontrei a mulher que seria minha esposa e mãe dos meus dois filhos. Uma alemã que eu via como uma pessoa com personalidade fortíssima, e aquilo me atraía. Naquele tempo, aos 27 anos de idade, não fazia terapia. Mas depois, muito tempo depois, fui percebendo que ela possuía características da minha mãe e da minha avó. Bert Hellinger tinha razão: o filhinho da mamãe casou-se com a filhinha do papai. E o que eu buscava na minha mamãe/esposa? Segurança. Carinho. Sexo. Proteção. E ela queria que eu provesse financeiramente o lar. Porém, recém chegado do Japão, sem saber muito bem o que fazer, as coisas não foram fáceis. E ela, alemã, num país estranho, entrou em crise. E muito cedo, poucos meses juntos, minha ex engravidou, da nossa primeira filha. Era o princípio do conflito. Ela exigindo segurança financeira que “o papai” não estava dando. Eu exigindo proteção maternal que “mamãe” não estava dando.

No fundo, estava eu repetindo a história da minha avó paterna. E da minha mãe. Mulheres que não tiveram a segurança financeira dos maridos. E eu, como o “homem” da história, sentindo-me inseguro, agredido, pressionado e abandonado pelas mulheres.

Dezessete anos durou o casamento. E posso dizer que foi um período extremamente difícil, mas extremamente rico em vários aspectos. O meu emocional foi totalmente moído e desfragmentado, e somente então pude ver o quanto eu era um homem frágil, adolescente e carente. E o quanto que isso impedia o meu sucesso profissional e minha capacidade de prosperar. Hoje eu sei: dinheiro? Eu não queria isso! Queria somente uma mamãe para cuidar de mim!

Estava começando a repetir a história do meu pai: ele rodou de mulher em mulher, para após estar destruído pela bebida, retornar à mamãe: minha avó paterna, viúva, que o recebeu de braços abertos. A única mulher na vida do meu pai. A mãe que o sufocou, e sufocou a mim e ao meu irmão. Dando o melhor que ela podia dar, sem dúvida. Vovó fora abandonada pelo pai, e inconscientemente, carregou muito ódio em relação ao masculino. E descontou nas figuras masculinas que passou ao seu lado, castrando-os da forma que pôde.

E isso foi ótimo para mim. Porque descobri, após o divórcio, a minha força. Voltei com tudo à vida, comecei a ser um homem como eu nunca fora. Em todos os aspectos. Acho que um carma foi extinto. Tenho hoje amizade e muita gratidão pela minha ex-esposa. E estou numa nova relação onde, embora tenhamos nuances da questão pai-filha e mãe-filho, sabemos lidar com isso, porque temos um diálogo aberto, e buscamos terapia, trabalhos interiores, etc. Temos muitas coisas a aprender – relacionamento nunca é fácil. Mas estamos atentos, e damos um passo por vez, conscientes de que cada um cuida do próprio nariz. Para construirmos uma vida de casal com consciência, liberdade, diversão e amorosidade. E um pouquinho de responsabilidade também.

No meu trabalho terapêutico, procuro sempre deixar bem clara a necessidade dos filhos afastarem-se (este é um movimento interno) definitivamente dos pais. Com respeito, carinho, mas decisão. E isso não se faz virando as costas – muitos largaram os pais por raiva ou descaso, mas continuam presos a eles: é necessário perceber claramente os jogos de manipulação que estamos envolvidos em relação aos nossos pais, e com muita consciência e sentimento de amor, saber sair disso. O que nos prende aos nossos pais está dentro de nós: são sentimentos e emoções do passado, mal resolvidas. E cabe a nós nos libertar. Porque os pais não fazem estes jogos por maldade, mas porque estão programados, pelos pais deles – seus avós… e os avós, pelos pais deles – os bisavós, e assim por diante. Um homem, para ser homem de verdade, precisa deixar sua mãe. Não deve viver nem confrontando ela, nem querendo ser aceito por ela, nem deixando-se ser manipulado, nem querendo cuidar e fazer tudo por ela. Pode, claro, cuidar financeiramente dela e das necessidades que ela tem, se puder e quiser fazer isso. Mas esse movimento é isento de culpa. De obrigação. É um gesto de absoluta gratidão e desprendimento, que não deve interferir na sua vida pessoal. Caso contrário, é importante buscar ajuda terapêutica. Para se libertar deste emaranhamento, e poder ser autônomo, e forte. Ser um homem de verdade, e não mais um menino mimado."
Alex Possato
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sábado, 23 de janeiro de 2016

Cuidado se você está atraindo parceiros carentes!


"Amar alguém é algo que não se explica. Acontece, simplesmente, não é? Seja por afinidade de temperamentos, atração física, interesses comuns, sintonia de idéias, casualidade, ou até pela curiosidade em relação a diferenças culturais/sociais... não importa! Algo levou você e a pessoa X a escolher viver algo junto, dentre tantas milhares de outras no universo.

Independente do que justifica um casal a ficar junto, um detalhe bem importante que a Constelação Sistêmica Familiar esclarece é que se trata de uma relação entre iguais. Ou seja, é um movimento horizontal entre adultos onde, supostamente, há uma troca e ambos têm algo a oferecer e receber. O que difere completamente da relação entre pais e filhos, onde a criança é frágil, não responde pela própria sobrevivência e depende do adulto para isso. Na ótica da Constelação, dizemos que há na relação pai-filho dois personagens: um maior/grande que é doador; e um pequeno/menor que recebe. Compreender esta simples lógica pode nos ajudar a olhar melhor nossas histórias de amor, especialmente, as que resultaram desastrosas e geraram mais prejuízos do que alegrias... Não é azar no amor, acredite! Se o amor não flui legal para você, deve haver um desequilíbrio no seu sistema familiar de origem e isso está se replicando nas suas relações afetivas, só isso.

Reflita um instante: não é incomum, você ou uma amiga reclamar que tem problemas com a “irresponsabilidade” frequente do parceiro (que pede para ser cuidado o tempo todo, como um filho) ou que a sua ‘cara-metade’ vive em infinita síndrome de carência e manifesta ciúme o tempo todo, sem motivo aparente. Já viveu algo assim?... Pois é... Isto deriva da posição de desequilíbrio que o casal está na relação. De um lado, um se comporta como criança mimada, egoísta e que precisa de alguém para fazer tudo para si, em nome do amor; e o outro, se comporta como o faz tudo, mas que não é reconhecido e está sempre em defasagem em relação ao próximo... Complicado ser feliz a dois, nesta dinâmica, não acha?

O emaranhamento na relação a dois 
Segundo explica a Constelação, alguns princípios fundamentais regem todos os relacionamentos. Um deles é o equilíbrio entre o dar e receber; algo fundamental, numa relação de casal. Pressupõe uma relação ‘ganha-ganha’, que pode acontecer de vários jeitos e dimensões – pode ser uma troca no sentido material, sexual, mental, espiritual, intelectual, entre outras possibilidades. O essencial é que aconteça uma via dupla de troca, onde as duas partes tem a oportunidade de oferecer e, ao mesmo tempo, serem nutridos de volta.

Quanto mais um casal troca, mais forte será o vínculo entre eles, e a relação tende a se aprofundar. Bom para alguns e um pesadelo para aqueles traumatizados e que morrem de medo do amor!... Pois é devido à existência de um medo em relação ao estabelecimento de vínculo, que muitas relações não progridem. Pode ser que o histórico das relações anteriores não tenha sido legal, mas é, sobretudo, na relação com a família de origem (papai e mamãe) que o problema começou e deve ser investigado. Talvez tenha ocorrido abandono na infância, uma perda traumática (mesmo a morte de um parente desconhecido ou aborto, mas que afetou toda a dinâmica do sistema familiar). O fato é que cada pessoa traz para o relacionamento cargas emocionais e energéticas da sua família de origem. Por isso, é essencial ter consciência de como foi (e ainda é) a relação pais-filho, pois isso traz forte impacto na relação homem-mulher/casal.

A criança quando nasce não escolhe ter ou não ligação com os pais; é um fato biológico, inegável e independe de existir amor. Sua vida é o grande presente que lhe foi dado pelos pais (pois é fruto da relação que eles tiveram e da escolha que tiveram de lhe dar à luz). Reconhecer e ser grata por isso é o primeiro movimento capaz de autoregular esta troca de pai-filho. Nós, como filhas/filhos, trazemos internamente o compromisso de honrar a chance que lhe foi nos foi dada e fazer da própria vida algo bacana; seja gerando uma família e descendentes, ou criando um projeto de vida que seja frutífero e gere benefícios à humanidade e/ou ao planeta. Enquanto menores no sistema familiar, temos o desafio de aprender a receber e assumir com gratidão os dons e a missão de vida que nos foi concedida, do jeito como veio, de quem veio, sem falsas idealizações e expectativas.

Entretanto, desarmonias frequentes ocorrem nesta relação, quando a filha/filho querer dar igualmente aos pais, cuidando deles como se fossem seus filhos, ao invés de apenas se manter no seu papel de receptora. O que gera emaranhamentos energéticos complicados, pois rompe com o equilíbrio do sistema. Daí, os pais entram no jogo da carência e tudo se complica. E pior: caso a filha não consiga fazer isso em relação aos pais, ela pode transferir para o casal esta ânsia de compensação, tratando o companheiro como se fosse o seu pai. Daí, todo o sistema fica de cabeça para baixo!

Restabelecendo as trocas positivas
Para restaurar o equilíbrio, um movimento interno deve fluir, conforme indica o mestre Bert Hellinger. O primeiro passo é você se reconhecer pequena e devedora em relação àqueles que lhe deram a vida. Seus pais são os doadores e você agradece internamente por terem lhe trazido à vida, independente de como isso foi feito ou da atitude que tiveram em relação ao fato de serem pais de uma criança.

Já em relação ao seu parceiro amoroso, o movimento para estabelecer as trocas positivas e, assim, viver um relacionamento saudável, começa com o reconhecimento de que vocês são iguais no dar e receber. Não há um mais sábio, capaz ou pronto do que o outro. Respeitar a condição de igualdade é essencial para não desbalancear o sistema da relação a dois (o que, claro, ocorre muitas vezes! Porém, não se torna um mecanismo onde um fica em eterna dívida com o outro; ou há um inocente-bonzinho-carente e alguém que carrega a carga emocional de ser um compulsivo doador, não reconhecido).

À medida em que você se conscientiza disso, assume energeticamente a necessidade de se libertar das carências referentes ao seu primeiro relacionamento com o masculino (na figura do seu pai), uma transformação incrível no padrão começa a ocorrer. Você se sente aliviada, ganha força e pode se reconhecer não mais como a filhinha que busca aprovação..., mas como uma mulher que também tem algo para doar e deseja viver a experiência do amor em casal. O que ocasiona também uma ressignificação na sua maneira de viver o feminino (através da imagem da mãe saudável, que leva dentro de si). Assim, gradualmente, surge o espaço necessário dentro de você para que um novo companheiro se aproxime e uma nova história possa se manifestar. Quem sabe, com final feliz! Simples assim! Que tal tentar?..."

Por Luciana Cerqueira
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Os casais procuram ajuda em suas necessidades, mas freqüentemente com idéias que estragarão qualquer ajuda se forem acolhidas pelo terapeuta. O denominador comum dessas idéias é o abandono da responsabilidade pelo sucesso do aconselhamento. Neste particular, a fantasia usual de um ou de ambos os parceiros é que algo se deteriorou em seu relacionamento e que cabe ao terapeuta, como perito e especialista, repará-lo em sua “oficina”. Ou então o casal procura um juiz para resolver o seu caso, alguém que ouça os argumentos das ambas as partes e dê o seu justo veredicto. Alguns buscam no terapeuta, de um modo mais pessoal, uma autoridade cheia de amor que, à maneira de um aliado, um pai ou uma mãe, saiba o que se deve fazer e se imponha ao outro parceiro.
A montagem da constelação familiar, em sessão de grupo ou na consulta individual, com a preservação da atitude fenomenológica que fundamenta esse trabalho, ajuda o terapeuta a não acolher esses desejos com a intenção de ajudar o casal. Em vez disso, ele deve manter a atitude imprescindível para se alcançar uma solução. Ele entra em sintonia com a alma ou com o campo de relacionamento do casal. Acompanha a vibração do sistema do relacionamento, através da constelação ou de outro método que lhe permita ver e entrar em contato. E faz com que se manifeste, através daquilo que se mostra, algo que seja importante para o casal e o faça avançar. 
Boa Semana!
Tais

domingo, 17 de janeiro de 2016

Abrir-se a um novo parceiro

Leia o relato completo de um trabalho de Constelação Familiar feito a partir de imagens mentais 
"Ano passado uma cliente me procurou para uma sessão de constelação individual com uma queixa comum a muitas mulheres. Embora estivesse solteira há três anos e disposta a conhecer outro homem, não conseguia entender o porquê de sua dificuldade em encontrar um parceiro. Outro fato, que acontecia de forma repetida nos últimos anos, também a intrigava. Os homens pelos quais havia se interessado não estavam disponíveis para um relacionamento, por uma mesma razão: estavam casados.


Nessa situação eu poderia ter feito uma constelação utilizando bonecos ou objetos para representar aspectos e pessoas que tivessem relação com ela e seu problema, mas como essa cliente é bastante visual, decidi trabalhar apenas com imagens mentais. Após conduzi-la a um estado de relaxamento, disse a ela que se colocasse, mentalmente, num espaço de visão interna (o que chamamos de campo mórfico, ou campo de informação). A partir dali pedi que não interferisse nem construísse nada, apenas observasse e relatasse as imagens e movimentos que fossem surgindo em sua mente.

No início ela disse que o campo ao seu redor estava tomado por uma neblina e que seu corpo começou a se movimentar de forma estranha, caminhando em círculos. Após dar algumas voltas sobre si mesma, e sentindo-se um pouco tonta, ela finalmente parou e uma imagem de um tronco de árvore começou a se formar e a se sobrepor à imagem de seu corpo. De repente, o tronco foi se partindo ao meio: o lado direito envergou até cair no chão, enquanto que o lado esquerdo permaneceu em pé, firme, mas com uma imagem ligeiramente apagada, sem nitidez.

Ela foi descrevendo que, sobreposta àquela metade do tronco que
tombou até o chão, havia sua própria imagem deitada de lado e de olhos fechados. Parecia dormir profundamente. Disse que para conseguir um parceiro e ter sucesso nos relacionamentos ela precisaria estar inteira, honrando e integrando o aspecto masculino de sua existência (o pai e a linhagem paterna) – aqui representado pelo lado direito do corpo –, com o aspecto feminino (mãe, linhagem materna) – representado pelo lado esquerdo. E pedi para ela repetir algumas vezes a frase: “Papai, por favor!”

Algum tempo depois surgiu da névoa à sua frente um dos homens casados por quem ela havia se interessado recentemente. Ele veio caminhando em sua direção, olhou alguns instantes para a parte dela que estava deitada e tentou levantá-la pelos braços, mas sem sucesso. Mas ela continuava profundamente adormecida, sem reação. A parte que permanecia em pé continuava olhando com preocupação para a parte deitada. E sentiu o impulso de dizer: “Por favor, preciso de você pra ficar inteira.” O homem então se afastou, virou para o lado e saiu do campo.

Foi então que a parte dela começou, muito lentamente, a abrir os olhos e a se levantar.
Simultaneamente, a imagem sobreposta do tronco de árvore foi se erguendo num movimento forte e contínuo até se juntar com a outra metade. Quando finalmente pôde se fundir por completo, a cliente sentiu uma grande força interna e visualizou que seus pés eram raízes enterradas no chão. “Isso é muito bom”, disse. “Sinto-me realmente forte e muito bem estável nessa posição, mas ao mesmo tempo um pouco presa, paralisada.”

Logo em seguida surgiu à sua frente a imagem de um novo homem, com quem ela tivera alguns poucos encontros e estava em dúvida se deveria seguir adiante. Muito lentamente ele começou a caminhar em sua direção e ela sentiu seu corpo querendo se mover em direção a ele, mas seus pés estavam presos no chão, enterrados como raízes. Percebendo que a cliente estava um pouco ansiosa nesse momento, pedi que ela aguardasse os próximos movimentos, sem intenção e sem querer alterar nada. O homem então se aproximou dela e lhe estendeu a mão. Com esse pequeno e poderoso gesto, ela finalmente pôde dar o primeiro passo. “Agora sinto meus pés como raízes sendo arrancadas da terra.”

Logo ele se juntou a ela e finalmente puderam caminhar lado a lado. Toda aquela névoa que encobria o campo se dissipou e um caminho se abriu diante deles, com um sol brilhando no horizonte. Ela o olhou, sorriu e teve vontade de dizer: “Muito obrigada!” E ali encerramos a constelação.

Ela ficou muito impressionada com as imagens do campo e com o resultado do trabalho e quis fazer várias perguntas: “Mas afinal, o que estava por trás da minha dificuldade em se relacionar? Minha relação com o meu pai? Estava emaranhada com alguém do meu sistema familiar? Alguém do lado paterno? O que simbolizava aquela parte minha que estava deitada no chão de olhos fechados?” De fato, como interpretar tudo isso? Segundo Bert Hellinger, precisamos confiar e nos render plenamente aos movimentos que se revelam e nos atingem de forma irresistível numa constelação. Somos levados, diz ele, por forças criadoras que vão muito além da vontade e intenções pessoais – seja do cliente, do representante ou do facilitador.

Sob a perspectiva das Novas Constelações, essas forças nos levam para além daquilo que nós vivenciamos como problemas e que procuramos resolver e superar do nosso jeito, com nossa consciência disponível no momento. O que toma conta do trabalho de constelação a certa altura é esta outra consciência, uma consciência universal, que leva cada um para além dos limites de sua própria consciência.

É natural termos uma curiosidade irresistível depois de uma constelação. Nossa mente racional inquieta não descansa na tentativa de encontrar explicação para tudo, afim de poder analisar se algo é lógico ou não. Mas precisamos abrir mão de querer entender pela razão, pois teorizar e julgar apenas enfraquece aquilo que é essencial. E o que foi essencial nesse trabalho? Que algo precisava ser visto, reconhecido, liberado e integrado. E isso aconteceu lindamente nessa constelação. A cliente finalmente pôde se abrir e estar inteira para o novo.

Muitas vezes nós facilitadores não temos acesso aos resultados de uma constelação na vida da pessoa constelada. Mas, recentemente, ao revê-la num encontro terapêutico, soube que estava construindo um relacionamento com aquele homem que, gentilmente, conseguiu tirá-la do lugar onde estava. Isso foi um convite para eu compartilhar esse relato."
Alice Duarte
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Muitas pessoas perguntam qual a diferença entre a Constelação em grupo e a Constelação individual e eu respondo que, a princípio, não há diferenças. Digo também que depende muito do tema, da confiança do cliente no terapeuta e do próprio cliente.
Em grupo teremos representando, pessoas desconhecidas e que nada sabem sobre o tema e isso gera confiança. Muitos clientes perguntam como determinado representante pode ter uma postura igualzinho a "fulano de tal", de sua família? Isso é o "campo" que mostra a história passada.
Para entendermos melhor o significado de “campo”, utilizamos as concepções de Rupert Sheldrake, onde ele afirma que algumas capacidades humanas não são paranormais, mas sim capacidades que qualquer ser humano, que faz parte de nossa natureza biológica. Segundo Sheldrake, essas capacidades são amplamente difundidas em todo o reino animal. Fomos nós que com o tempo fomos perdendo e esquecendo estas capacidades que a evolução nos legou.
“Os campos perceptivos constituem uma espécie de campo mórfico. Estes campos perceptivos têm sua raiz no cérebro e são afetados pelos padrões de atividade dentro do cérebro, mas se projetam para fora de modo a nos ligar ao mundo que percebemos ao nosso redor” ( Rupert Sheldrake).
Na Constelação Familiar nos abrimos através de uma percepção ampliada, para que o “campo” do cliente, nos mostre, se revele, o que era antes desconhecido. Este “campo” é o campo energético do sistema familiar dele, sistema este que pode ser o atual ou o de origem, contando aí, toda a ancestralidade da pessoa. 
Todos os segredos são nocivos, nada que aconteceu em alguma geração de nosso sistema familiar fica impune. Alguém um dia irá pagar um preço por isso e como sempre a corda arrebenta na parte mais fraca, as crianças, elas acabam levando toda carga negativa do que estava escondido.
Por isso o cliente que vai fazer uma Constelação não precisa trazer muita informação de sua vida. Basta o terapeuta entrar em sintonia com ele, observar o que vai além das palavras e deixar o “campo” revelar o que precisa ser anunciado para a verdade aparecer e o quebra cabeças ser montado e aí a solução é encontrada. 
A solução é o resultado final de uma Constelação. O que é necessário para a saúde (física, emocional, familiar etc) se restabelecer.
Na constelação individual o terapeuta e/ou o próprio cliente faz o papel de representante, ou usa-se ancoras, papéis , bonecos etc... e o cliente sente, juntamente com o terapeuta, as soluções apresentadas.
Boa semana
Taís

domingo, 10 de janeiro de 2016

Família - prato difícil de preparar.

 "Família é prato difícil de preparar.
São muitos ingredientes.
Reunir todos é um problema...
Não é para qualquer um.
Os truques, os segredos, o imprevisível.
Às vezes, dá até vontade de desistir...
Mas a vida... sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite.
O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares.
Súbito, feito milagre, a família está servida.
Fulana sai a mais inteligente de todas.
Beltrano veio no ponto; é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade.
Sicrano, quem diria? 
Solou, endureceu, murchou antes do tempo.
Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante.
Aquele, o que surpreendeu e foi morar longe.
Ela, a mais apaixonada.
A outra, a mais consistente...
Já estão aí? Todos? Ótimo!
Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados.
Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola.
Não se envergonhe de chorar.
Família é prato que emociona.
E a gente chora mesmo.
De alegria, de raiva ou de tristeza.
Primeiro cuidado:
temperos exóticos alteram o sabor do parentesco.
Mas, se misturados com delicadeza, estas especiarias, que quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar, tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa.
Atenção, também, com os pesos e as medidas.
Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto:
é um verdadeiro desastre.
Família é prato extremamente sensível.
Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido.
Outra coisa:
é preciso ter boa mão, ser profissional.
Principalmente na hora que se decide meter a colher.
Saber meter a colher é verdadeira arte.
Às vezes, o ídolo da família, o bonzinho, o bola cheia que sempre ajudou, azedou a comida só porque meteu a colher.
O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita.
Bobagem!
Tudo ilusão!
Família é afinidade, é à Moda da Casa.
E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.
Há famílias doces. 
Outras, meio amargas.
Outras apimentadíssimas.
Há também as que não têm gosto de nada. Seria assim, um tipo de Família Dieta, que você suporta só para manter a linha.
Seja como for,
família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo.
Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.
Enfim, receita de família não se copia, se inventa.
A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia a dia.
A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel.
Muita coisa se perde na lembrança.
O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer.
Se puder saborear, saboreie.
Não ligue para etiquetas.
Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro.
Aproveite ao máximo.
Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete!"
Família:
Feliz quem tem, sabe curtir, aproveitar e valorizar.....!
Trechos do livro "O Arroz de Palma", de Francisco Azevedo
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Os pais vêm primeiro e os filhos vêm depois. Na prática quer dizer que os pais são grandes e os filhos são pequenos. A relação dos pais é a prioridade numa família e os filhos vêm depois para completar o sentido da união do casal. Os pais dão aos filhos e os filhos recebem.
Quando os filhos se sentem maiores, mais importantes e mais capazes que os pais e se portam como se os pais fossem incapazes isso fere esse princípio. A alma do filho sente um desconforto que se manifesta em forma de sofrimento autoimposto.
A arrogância dos filhos acaba sendo sentida por estes numa vida com fracassos, doenças e destinos difíceis.
Na medida que o filho exige dos pais o que acredita que não recebeu isso cria uma desordem na hierarquia, pois o filho se sente no direito de reivindicar o amor dos pais. Com o tempo passa a não querer mais receber o que os pais têm a dar e se torna amargo e duro consigo.
E assim, essa desrodem se estende no contexto familiar, gerando os insucessos e a desarmonia. Pense nisso. Como está sua relação familiar e acima de tudo, com seus pais?
Boa semana!
Tais

domingo, 3 de janeiro de 2016

Passagem do ano

 
 O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com sinfonia
e coral,

Que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.

O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e sua memória,
um olho e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus...

Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte,
Mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
E de copo na mão
Esperas amanhecer.

O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles... e nenhum resolve.

Surge a manhã de um novo ano.
As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.

Carlos Drummond de Andrade em  "A rosa do povo".
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Vamos dividir nosso dia em três partes iguais: 8 h para trabalhar, 8 h para dormir e 8 h para fazer o que você quiser.
Então, o que você quer? E o que você quer é o que você faz? E o que você faz é o que precisa ser feito?
Traduzindo nosso ano:
24 horas X 30 dias X 12 meses=8.640 horas
8.640 horas X 60 = 518.400 minutos
518.400 minutos X 60 = 31.104.000 segundos

O que você faria
            em 8.640 horas?

Um ano contado em horas, e a reflexão é:
Como estamos administrando nosso tempo?
Tempo é Vida!
Aproveitar bem o tempo é aproveitar bem a nossa própria vida, o presente mais valioso que recebemos de Deus através de nosso pais. Há os que acreditam que tempo é dinheiro, mas o tempo é muito mais valioso que dinheiro. Perdendo dinheiro agora, no futuro poderemos recuperá-lo, mas o tempo perdido jamais voltará. Vamos viver agora com o máximo aproveitamento do tempo!
Rir alegremente em todas as oportunidades que tivermos é aproveitar o tempo. Pensar e falar em coisas boas, belas e positivas, também. Conversar com amigos dando-lhes atenção; orar para os que necessitam; trabalhar em benefício do próximo, aceitar tudo o que nos advém, como é... tudo isso significa aproveitar muito bem o nosso tempo.
Vale aqui a reflexão sobre como administraremos o nosso tempo em 2016.
"Não pensas que todo aquele que se prepara seja pessoa de pouca fé. Há o viver em que, sem se estar preparado, está-se apreensivo pelo futuro; e também há o viver em que, sem apreensões pelo futuro, naturalmente se está preparado". 
Eu aproveitei bem o meu tempo selecionando um texto, escrevendo algumas palavras para meu blog e agradeço a todos vocês por esta oportunidade. Espero que você tenha aproveitado seu tempo também, lendo-o.
Sonhe bem alto e aproveite todo o seu tempo para concretizá-lo!
Muito obrigada
Tais