"Amar alguém é algo que não se explica. Acontece, simplesmente, não é? Seja por afinidade de temperamentos, atração física, interesses comuns, sintonia de idéias, casualidade, ou até pela curiosidade em relação a diferenças culturais/sociais... não importa! Algo levou você e a pessoa X a escolher viver algo junto, dentre tantas milhares de outras no universo.
Independente do que justifica um casal a ficar junto, um detalhe bem importante que a Constelação Sistêmica Familiar esclarece é que se trata de uma relação entre iguais. Ou seja, é um movimento horizontal entre adultos onde, supostamente, há uma troca e ambos têm algo a oferecer e receber. O que difere completamente da relação entre pais e filhos, onde a criança é frágil, não responde pela própria sobrevivência e depende do adulto para isso. Na ótica da Constelação, dizemos que há na relação pai-filho dois personagens: um maior/grande que é doador; e um pequeno/menor que recebe. Compreender esta simples lógica pode nos ajudar a olhar melhor nossas histórias de amor, especialmente, as que resultaram desastrosas e geraram mais prejuízos do que alegrias... Não é azar no amor, acredite! Se o amor não flui legal para você, deve haver um desequilíbrio no seu sistema familiar de origem e isso está se replicando nas suas relações afetivas, só isso.
Reflita um instante: não é incomum, você ou uma amiga reclamar que tem problemas com a “irresponsabilidade” frequente do parceiro (que pede para ser cuidado o tempo todo, como um filho) ou que a sua ‘cara-metade’ vive em infinita síndrome de carência e manifesta ciúme o tempo todo, sem motivo aparente. Já viveu algo assim?... Pois é... Isto deriva da posição de desequilíbrio que o casal está na relação. De um lado, um se comporta como criança mimada, egoísta e que precisa de alguém para fazer tudo para si, em nome do amor; e o outro, se comporta como o faz tudo, mas que não é reconhecido e está sempre em defasagem em relação ao próximo... Complicado ser feliz a dois, nesta dinâmica, não acha?
O emaranhamento na relação a dois
Segundo explica a Constelação, alguns princípios fundamentais regem todos os relacionamentos. Um deles é o equilíbrio entre o dar e receber; algo fundamental, numa relação de casal. Pressupõe uma relação ‘ganha-ganha’, que pode acontecer de vários jeitos e dimensões – pode ser uma troca no sentido material, sexual, mental, espiritual, intelectual, entre outras possibilidades. O essencial é que aconteça uma via dupla de troca, onde as duas partes tem a oportunidade de oferecer e, ao mesmo tempo, serem nutridos de volta.
Quanto mais um casal troca, mais forte será o vínculo entre eles, e a relação tende a se aprofundar. Bom para alguns e um pesadelo para aqueles traumatizados e que morrem de medo do amor!... Pois é devido à existência de um medo em relação ao estabelecimento de vínculo, que muitas relações não progridem. Pode ser que o histórico das relações anteriores não tenha sido legal, mas é, sobretudo, na relação com a família de origem (papai e mamãe) que o problema começou e deve ser investigado. Talvez tenha ocorrido abandono na infância, uma perda traumática (mesmo a morte de um parente desconhecido ou aborto, mas que afetou toda a dinâmica do sistema familiar). O fato é que cada pessoa traz para o relacionamento cargas emocionais e energéticas da sua família de origem. Por isso, é essencial ter consciência de como foi (e ainda é) a relação pais-filho, pois isso traz forte impacto na relação homem-mulher/casal.
A criança quando nasce não escolhe ter ou não ligação com os pais; é um fato biológico, inegável e independe de existir amor. Sua vida é o grande presente que lhe foi dado pelos pais (pois é fruto da relação que eles tiveram e da escolha que tiveram de lhe dar à luz). Reconhecer e ser grata por isso é o primeiro movimento capaz de autoregular esta troca de pai-filho. Nós, como filhas/filhos, trazemos internamente o compromisso de honrar a chance que lhe foi nos foi dada e fazer da própria vida algo bacana; seja gerando uma família e descendentes, ou criando um projeto de vida que seja frutífero e gere benefícios à humanidade e/ou ao planeta. Enquanto menores no sistema familiar, temos o desafio de aprender a receber e assumir com gratidão os dons e a missão de vida que nos foi concedida, do jeito como veio, de quem veio, sem falsas idealizações e expectativas.
Entretanto, desarmonias frequentes ocorrem nesta relação, quando a filha/filho querer dar igualmente aos pais, cuidando deles como se fossem seus filhos, ao invés de apenas se manter no seu papel de receptora. O que gera emaranhamentos energéticos complicados, pois rompe com o equilíbrio do sistema. Daí, os pais entram no jogo da carência e tudo se complica. E pior: caso a filha não consiga fazer isso em relação aos pais, ela pode transferir para o casal esta ânsia de compensação, tratando o companheiro como se fosse o seu pai. Daí, todo o sistema fica de cabeça para baixo!
Restabelecendo as trocas positivas
Para restaurar o equilíbrio, um movimento interno deve fluir, conforme indica o mestre Bert Hellinger. O primeiro passo é você se reconhecer pequena e devedora em relação àqueles que lhe deram a vida. Seus pais são os doadores e você agradece internamente por terem lhe trazido à vida, independente de como isso foi feito ou da atitude que tiveram em relação ao fato de serem pais de uma criança.
Já em relação ao seu parceiro amoroso, o movimento para estabelecer as trocas positivas e, assim, viver um relacionamento saudável, começa com o reconhecimento de que vocês são iguais no dar e receber. Não há um mais sábio, capaz ou pronto do que o outro. Respeitar a condição de igualdade é essencial para não desbalancear o sistema da relação a dois (o que, claro, ocorre muitas vezes! Porém, não se torna um mecanismo onde um fica em eterna dívida com o outro; ou há um inocente-bonzinho-carente e alguém que carrega a carga emocional de ser um compulsivo doador, não reconhecido).
À medida em que você se conscientiza disso, assume energeticamente a necessidade de se libertar das carências referentes ao seu primeiro relacionamento com o masculino (na figura do seu pai), uma transformação incrível no padrão começa a ocorrer. Você se sente aliviada, ganha força e pode se reconhecer não mais como a filhinha que busca aprovação..., mas como uma mulher que também tem algo para doar e deseja viver a experiência do amor em casal. O que ocasiona também uma ressignificação na sua maneira de viver o feminino (através da imagem da mãe saudável, que leva dentro de si). Assim, gradualmente, surge o espaço necessário dentro de você para que um novo companheiro se aproxime e uma nova história possa se manifestar. Quem sabe, com final feliz! Simples assim! Que tal tentar?..."
Por Luciana Cerqueira
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Os casais procuram ajuda em suas necessidades, mas freqüentemente com idéias que estragarão qualquer ajuda se forem acolhidas pelo terapeuta. O denominador comum dessas idéias é o abandono da responsabilidade pelo sucesso do aconselhamento. Neste particular, a fantasia usual de um ou de ambos os parceiros é que algo se deteriorou em seu relacionamento e que cabe ao terapeuta, como perito e especialista, repará-lo em sua “oficina”. Ou então o casal procura um juiz para resolver o seu caso, alguém que ouça os argumentos das ambas as partes e dê o seu justo veredicto. Alguns buscam no terapeuta, de um modo mais pessoal, uma autoridade cheia de amor que, à maneira de um aliado, um pai ou uma mãe, saiba o que se deve fazer e se imponha ao outro parceiro.
A montagem da constelação familiar, em sessão de grupo ou na consulta individual, com a preservação da atitude fenomenológica que fundamenta esse trabalho, ajuda o terapeuta a não acolher esses desejos com a intenção de ajudar o casal. Em vez disso, ele deve manter a atitude imprescindível para se alcançar uma solução. Ele entra em sintonia com a alma ou com o campo de relacionamento do casal. Acompanha a vibração do sistema do relacionamento, através da constelação ou de outro método que lhe permita ver e entrar em contato. E faz com que se manifeste, através daquilo que se mostra, algo que seja importante para o casal e o faça avançar.
Boa Semana!
Tais
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