“As ordens do amor são princípios desenvolvidos por Bert Hellinger, a partir da observação. Ainda que sejam estranhas à Psicologia, por causa da tradição psicológica, poderão ser absorvidas com o passar do tempo porque em toda evolução ocorrem quebras de tradições.
1. Todos de um sistema familiar tem o direito de pertencer. Isso não é uma decisão consciente, é um fato: a pessoa tem o mesmo sangue, ou tiveram relações sexuais ou teve filhos juntos. Se alguém do sistema familiar é excluído, o sistema familiar tenta corrigir isso nas gerações seguintes, através da identificação ou do “emaranhamento” de alguém do sistema.
2. Existe uma hierarquia natural em um sistema familiar: o primogênito é sempre o primeiro gerado (nascido ou não), o segundo filho é o segundo, e assim por diante. Os cônjuges, se houver mais de um, vêm na ordem que apareceram. Isso não tem a ver com a forma de eles olharem a própria história: se casou com X primeiro e depois com Y, X vem primeiro e Y vem depois. Ponto final. Os pais nascem antes dos filhos e os pais deles nasceram antes deles. É a ordem.
Em vidas problemáticas, os comportamentos que estão na superfície são as águas brancas turbulentas sobre um rio que flui forte em baixo, caoticamente, uma corrente sistêmica mais profunda e constante, que flui sempre na mesma direção. Essa corrente profunda é feita daquilo que recebemos da mãe e do pai. Vibramos a frequência da mãe e do pai desde que nascemos. Não há escolha. Não há escape. A nossa vida se originou da deles e dançamos a música que eles dançaram.
Aceitar que a nossa vida veio de seres imperfeitos, nos libera de culpá-los e nos habilita a receber o amor, a vitalidade e o nosso direito de nascença. O mais importante é que nos conectemos a eles de uma forma que permita que o amor flua muito além deles e que ele também nos alcance.
Nem todo sistema familiar está fora de ordem mas muitas pessoas com dificuldade nos relacionamentos pessoais ou nas relações de trabalho, carregam alguma confusão sistêmica sobre a simples ordem de “quem veio primeiro." Sem reconhecer quem eram, as pessoas seguiram uma consciência grupal e se deram mal.
A nossa "consciência" individual (nosso sentimento pessoal de culpa ou inocência) é baseada na necessidade de pertencer ao grupo. É algo atávico. Pelo bem da sobrevivência, a prioridade é proteger os laços com nosso grupo, o nosso lugar na comunidade.
Se o grupo disser que devemos excluir um membro da família, a fim de pertencermos, o excluiremos; e até nos sentiremos bem e sem culpa, fingindo que a pessoa não faz mais parte da família. Sentimo-nos bem porque estamos de acordo com o grupo, sem medo de sermos excluídos ou de nos afastarmos dele. Trocamos o que é verdadeiro pelo pertencimento.
Cuidado com a sua rejeição do filho homossexual, da filha dependente química, do primo que cumpre sentença na prisão, da enteada que você expulsou porque não é a sua filha, do irmão que abraçou uma religião que você não gosta, da ex-esposa que você tirou o direito de mãe porque a denegriu para o juiz lhe dar guarda exclusiva, do filho que você rejeitou para se casar de novo, do pai que você largou porque ele se perdeu na vida. Tais comportamentos voltam, nesta ou nas próximas gerações e com os seus descendentes de sangue.
A dinâmica sistêmica transgeracional é uma ordem superior de amor que insiste que todos tenhamos um lugar. Há ocasiões em que nos sentimos com um conflito interno porque o sistema familiar exige que neguemos a inclusão da extensão da alma da família real. A pessoa que foi internada, a ovelha negra, os filhos da amante, a que se casou fora da raça ou cultura. Há uma ordem maior que exige que tais membros da família voltem para casa. Todo mundo tem o direito de pertencer.
Essa tal consciência pessoal tem motivado a maioria das atrocidades, cometidas em nome de uma "boa consciência": genocídios, perseguição, de grupos ou indivíduos. Só porque seguiam suas crenças. Cuidado com o governo que você apoia. Será que ele inclui todos ou tenta cortar pessoas da nação, lhes privando de fazerem parte de um plano governamental benéfico? Os dias são ruins mas as pessoas podem torna-los piores. Quantas gerações serão necessárias para se purgar todo o mal que foi feito?
Quando vemos as maneiras pelas quais os indivíduos, gerações depois, se identificam com aqueles vitimados pelo sistema familiar, notamos quantos paralelos surpreendentes podem ser criados na vida das pessoas! Hoje você pode estar sofrendo pelas ações dos seus antepassados. O seu país também.
Há também aquelas poucas aves raras que escutaram um chamado mais elevado de "consciência" e conseguiram algo maior, mais universal e abraçaram uma outra agenda mesmo sob risco de serem excluídas e, às vezes, perderem até a própria vida.
Hellinger afirmou que há menos pressão e mais fluxo, quando as pessoas são respeitadas e reconhecidas dentro da ordem, conforme venho expondo. Existem muitos facilitadores focados em aprender a facilitar a constelação sistêmica familiar mas eles precisam, antes de qualquer coisa, reconhecer a posição do cliente. A integridade do sistema do cliente deve ser apoiada no espaço da constelação, de forma que o cliente consiga obter força e se curar, levando isso para o seu contexto sistêmico de família.
“As crianças fazem de tudo para salvar a mãe e o pai. Elas querem substituir a mãe e o pai e dizem: "É melhor que eu adoeça no seu lugar, minha mãezinha". Ou "É melhor que eu morra no seu lugar, mãezinha". Mas as tentativas de ajudar a salvar os pais sempre fracassam. Mesmo assim, elas não desistem: crescem, querem ajudar outras pessoas, do mesmo jeito que queriam ajudar os seus pais quando eram crianças. Vivem procurando pessoas necessitadas de ajuda e desenvolvem um relacionamento esquisito com a pessoa que querem ajudar.
Hellinger afirmou que o constelador não pode ser uma criança que tenta mudar o destino de uma pessoa. Quem se comporta como uma criança e quem deve se comportar como mãe ou pai? O cliente ou o facilitador? Se for o facilitador, a relação terapêutica só pode falhar. Quando queremos alcançar a força para ajudar, temos, primeiro, que desistir de ajudar os nossos pais, olhar para eles e lhes dizer: "Você são grandes e eu sou pequeno. Eu os honro e continuo sendo o filho de vocês”. Assim, a criança consegue se separar dos pais e quando crescer, vai ajudar os outros e ela não precisa mais se comportar como uma criança. O constelador diz ao cliente: "Você é grande e eu sou pequeno", olhando não só para o cliente, mas para os pais dele, respeitando-os."
Os pais vêm primeiro e o filho vem em segundo lugar, porque os pais chegaram primeiro e os filhos depois. Se um cliente nos pede ajuda, entramos nesse sistema. Quem vem primeiro? Os pais e depois o cliente, claro!. Por último vem o constelador. Tem constelador que se acha ótimo e se comporta de maneira superior: ele primeiro, depois o cliente e então os pais do cliente. Está tudo errado. Vai dar errado.
O sistema familiar é um sistema fechado: nascido nele, nunca poderá ser diferente do que ele é. Isso foi traçado desde quando aquele determinado espermatozóide fertilizou aquele óvulo. Esse é o “ponto de origem” objetivo, quer você goste ou não.
Ter uma mãe não significa que alguém tenha sido nutrido ou "criado" por essa pessoa. Ter um pai não significa que alguém tenha sido nutrido ou "criado" por ele. Alguns tiveram destinos muito difíceis quando crianças, foram abusados ou foram negligenciados. Mas se a pessoa está viva, alguém contribuiu para isso. É, portanto, a vida aquilo que eu reconheço quando não há mais nada sobrando. No fim, a herança maior é a de se estar vivo.
Se alguém é incapaz de ser grato pela própria vida, viverá com raiva, inconscientemente punindo os pais terríveis com a sua própria vida terrível. Volta e meia, isso aparece nas constelações e a pessoa precisa agradecer pelo dom da vida, pois ela é a única realidade verdadeira que permite alguém ficar de pé, e fazer algo de bom, apesar de a vida ter sido ruim no passado.
Quantas famílias têm um segredo sobre um membro da família e que não é realmente um segredo? Isso gera uma tremenda tensão no sistema familiar: um filho, fruto de um caso de amor, que não é contado no rol de filhos. Tal exclusão é só o começo de um compromisso inconsciente multi geracional de lembrar e perpetuar a tradição de exclusão dessa família. É um fato que será repetido de novo e de novo, através das gerações, até que a essência da dinâmica e das crianças excluídas tenha sido colocada no lugar.
Muitos sofrem porque, em algum momento, lhes foi pedido que concordassem com a mentira de não terem pais: “eu não tenho pai” ou “não tenho mãe”. Mas todos os seres humanos, biologicamente, têm uma mãe e tem um pai. Para que o amor flua, os pais dão vida aos filhos e estes a obtém deles.
Para o amor fluir entre casais, deve haver um equilíbrio entre o dar e o receber. Para que esse amor flua, é preciso reconhecer o fluxo da vida.
Mas isto é uma conversa para outro dia.”
Autor: Miguel Mello
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Essas Ordens descritas acima regem TODOS os relacionamentos: empresariais, familiares, governamentais... e todo tipo de relação terapêutica.
Como um profissional desta área pode direcionar seu cliente para uma solução que ele "acha" ser a melhor?
O cliente deve seguir as Ordens do Amor, para que sua vida flua, ou seja: Pertencimento, Ordem e Hierarquia ( já muito discorridas neste blog).
Observo quase sempre uma desordem nas relações, ao atender meus clientes. Mas, partir do momento que o ele as compreende e passa a adota-las em sua vida ( mesmo que doa, que seja difícil etc...) tudo passa a fluir com mais rapidez. E aí tem uma nova armadilha - o cliente acredita que a constelação vai fazer mágica e resolver tudo....
Não!!!!!! A constelação mostra o essencial, aquilo que está encoberto...mas a "tarefa" da mudança e o olhar é do cliente- e apenas dele!
As constelações podem ser individuais e em grupo, e é uma forma de terapia breve para mostrar aquilo que está agindo no contexto e apontar as ordens que foram ou estão sendo quebradas. A solução é mostrada ao cliente, através do campo, do seu sistema... mas a decisão para segui-las ou não, é do cliente.
Bom dia e boa semana.
Taís