"Cresci ouvindo que meu pai não prestava. Inclusive pessoas da própria família dele, como vovó e vovô, desciam a lenha no papai. Sim, ele teve algumas relações. E deixou seus filhos e outras mulheres pelo caminho. Mas quando um filho aprende que seu pai não presta (poderia ser minha mãe, que por sinal, foi execrada também pela família), este sente a dor nele mesmo. Eu não presto, pensava. E realmente me senti muito mal, durante toda minha infância e adolescência. Baixa autoestima que avançou pela juventude.
O julgamento que adquiri em relação ao meu pai, foi ensinado quando eu era criança, e não tinha nenhum senso crítico para barrar o que me falavam como verdade. Lógico que tive minhas dores em relação ao meu pai, mas vou dizer que nenhuma delas tinha a ver com o perfil namorador dele. Sentia a falta da presença. Dos conselhos. Da proteção. Do sustento.
Quando fazemos terapia, em algum momento iremos começar a entender: existe a nossa dor - verdadeira e real - e existem as crenças que nos induziram a acreditar. A terapia nos auxiliará a separar o que é dos outros, do que é nosso.
Em posse somente das minhas dores, já consigo lidar com mais maturidade. O problema não fica tão pesado. Foi o que aconteceu comigo. Aprendi a olhar como adulto para a história do meu pai. Mesmo aprovando algumas coisas e reprovando outras, o vi como ser humano. Um homem inteligente e hábil. Mas também frágil, deficiente em diversos aspectos, que não tinha condição emocional de cuidar nem de si, nem das famílias que ele fez. Homem que encontrou também mulheres fortes em parte, e frágeis em outras partes.
E assim é a vida. E assim é minha família. Sem laços cor-de-rosa. Nem glamour. Nem satanização. Uma família como outra qualquer."
Alex Possato
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"Olhe para seu pai e perceba: há um convite na sua mão estendida. Pais nos levam para o mundo, apresentam oportunidades, complementam nossa coragem quando necessário. Nos fazem seguir em frente.
Pais são nosso símbolo máximo de autoridade, e talvez por isso, muito incompreendidos e julgados, para que possam nos prover de segurança e disciplina.
Nos permitem crescer, mesmo que para isso arrisquem o papel de heróis, que nós filhos, tão infantis no nosso amor, desejamos.
Pais são heróis, mas não pelos motivos que acreditamos. Em tudo que fazem há uma disposição para cuidar, prover e ajudar a crescer. São heróis por suportarem o limite que precisamos, mas não queremos enfrentar. Se aceitarmos, teremos o melhor ambiente para crescer. Se não, a vida o fará com menos carinho.
Um pai e uma mãe
Há, com certeza, algo especial em como um pai e uma mãe se complementam. Seus papéis podem variar, mas não existe um pai sem haver uma mãe e vice-versa. A concepção precisa destes dois papéis
Enquanto a mãe alimenta, o pai cuida da segurança. Num primeiro momento, o trabalho mais pesado é da mãe. É de quem o filho mais precisa nos primeiros anos.
Mas o tempo passa, e garantida a sobrevivência dos primeiros anos, será o pai que guiará o filho para o mundo, para a descoberta, para o vôo.
Pais são nossos referenciais para o masculino. Para um filho homem, é onde ele encontra a força para ser o que seu papel permite. Através da vivência com o pai, um garoto cresce e vive o que há de mais poderoso no mundo masculino, e aos poucos vai encontrando sua identidade e suas possibilidades.
O mesmo ocorre com a filha mulher, com a diferença que após os primeiros anos com a mãe, a filha deve ir para o pai, aprender a caminhar no mundo e então, voltar para a mãe, onde ela deve tomar todo o feminino que precisa para seguir adiante.
Nos dois casos, o pai é essencial para o bom desenvolvimento dos filhos e para que o movimento deles para o mundo seja realizado com sucesso."
https://iperoxo.com
O Pai, por Bert Hellinger
(trecho adaptado do material da Hellinger LebenSchule)
Dentro do sistema familiar, o homem e a mulher têm prioridades iguais. Eles criam a família juntos, eles são equivalentes.
Em relação aos filhos, o homem e a mulher são igualmente grandes. Porém é dentro da mãe que começa a vida. Dentro dela somos concebidos, dentro dela nós crescemos. Ela é tudo pra nós, com ela experienciamos a unidade, até que nascemos.
O que então ainda resta ao pai?
Bert Hellinger diz:
“Somente na mão do pai a criança ganha um caminho para o mundo. As mães não podem fazê-lo. O amor dele não é cuidadoso nesta forma como é o amor da mãe. O Pai representa o espírito. Por isso o olhar do pai vai para a amplitude. Enquanto a mãe se move dentro de uma área limitada, o pai nos leva para além desses limites para uma amplitude diferente.”
Para ajudar a compreensão, descrevemos aqui uma imagem sugerida pela consteladora do Ipê Roxo, Maria Inês Araujo Garcia da Silva em um dos nossos cursos de formação. Ela disse:
“Para percebermos a diferença da forma como o pai e a mãe lidam com o filho basta imaginar um passeio com as crianças num parque, por exemplo. A mãe, preocupada e cuidadosa, a todo o tempo fala para o filho: ‘não suba na árvore’, ‘cuidado para não cair’, ‘não corra’… E sim, desta forma realiza com grande eficiência seu trabalho de cuidar dos filhos. O pai, ao contrário, ao chegar em um ambiente assim, verifica os possíveis riscos e se coloca de uma forma a preservar o filho longe deste lugar perigoso. Atento, o deixa livre para explorar.”
Essa liberdade é necessária para que o filho possa perceber o mundo, e mais tarde caminhar para a vida de forma completa.
Por isso o progresso vem principalmente do pai. Quando a mãe quer manter os filhos longe do pai, ela os mantém longe do progresso. O movimento vai através da mãe para o pai e através do pai para o mundo. Assim o filho fica completo.
E os pais que nos foram difíceis?
“Eu não consigo aceitá-lo.”
Não aceitar ao pai é não aceitar a sua realidade, o que já compõe você. Nós como filhos, temos dificuldades de encarar os pais como os seres humanos que são. Imaginamos e esperamos deles coisas que atravessam o limite do justo e possível.
O pai, dentro do sistema familiar, tem o papel da ordem, da rigidez e da autoridade. No mundo, temos uma dificuldade de compreensão com esse papeis. Quando este assunto entra em nossa casa, na figura de um homem do qual esperamos somente o amor idealizado na nossa mente, o conflito se instala.
Um bom caminho de volta aos braços do pai é ver o que verdadeiramente o move. O Amor escondido em atos de humanidade. É dar a ele o tamanho devido, não imaginário.
Bert Hellinger nos instrui a deixar com os pais o que pertence ao destino deles, com tudo o que faz parte e tudo que faz falta. É necessário reconhecê-los como pessoas normais e comuns e que vieram de seus próprios emaranhamentos.
Aqui talvez valha olhar para si próprio e as dificuldades que não conseguimos resolver. Se estamos neste caminho de vida, em algum momento podemos nos tornar pai e mãe, e carregaremos para esta experiência o que nos compõe hoje, com todas as dores e amores. Nossos pais estiveram nesta mesma posição, por vezes influenciados por algo que não conseguiram escapar.
De uma coisa temos certeza: O filho que se alinha ao pai, independente do destino que lhe coube, é mais apto e leve para seguir adiante. Com o tempo as peças se ajustam e o nosso caminhar prospera com ele no coração.
Boa semana!
Tais
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