domingo, 2 de fevereiro de 2020

Gota no oceano


Para o budismo a ideia não é exatamente que, quando morremos, a gota volta para o oceano. A compreensão é a de que a gota nunca sai do oceano.

Nós somos oceano e cada vida nossa é como se fosse uma onda. Essa onda que nós geramos com a nossa vida, quando termina naquela mar ou linha à beira-mar, dá origem a outra onda, mas não a mesma. O budismo não fala de alma, mas diz que esse ser que termina naquela marola, no corpo que não serve mais, cria causas e condições para outra onda se formar. Não é a mesma onda, embora tenha uma conexão profunda com a primeira.

O que acontece após a morte é que podemos ir para inúmeros universos, dependendo do carma que produzimos durante a vida: se fizemos coisas boas, médias ou más. Os resíduos cármicos produzem uma tendência de nascimento - e não se fala em reencarnação - em determinado nível, que pode ser de sofrimento ou de alegria. Voltamos então ao mais importante ensinamento budistas: onde quer que você tenha nascido e onde quer que você esteja agora, estará sempre no momento de transformação do seu carma. A partir da morte, corpo e mente se desintegram, mas os resíduos cármicos causam uma continuidade de consciência que reverbera em uma mente nascente em outro ser.

Portanto, seres renascidos não são completamente distintos nem completamente iguais a seus ancestrais. E esse é um contraste com o conceito induísta de atman (do sânscrito, " alma"), um "eu" transcendente que reencarnar, a ideia de uma alma fixa e permanente, imutável, que passa de uma vida a outra, como se não modificasse. Xaquiamuni Buda, porém, veio a desvendar que tudo é transformação em movimento, ou seja, anatman (em páli, anata), literalmente, "não eu". Significa que não existe um eu permanente e imutável nos elementos que compõem universo. Tudo está em constante transformação, em estado de fluxo, estamos todos interligados e interdependentes, não somos personalidades independentes e imutáveis.

Aliás, para o budismo, a noção de um eu permanente é uma das principais causas das guerras e conflitos na história humana. Sobre a noção de anatta, "não eu", podemos ir muito além dos anseios mundanos. Resumindo, hinduísmo e budismo entendem que a continuidade entre vidas, mas o hinduísmo considera um e o que reencarna imutável (atman), enquanto o budismo conclui que existe apenas tendências e processos mentais que renasce (anatman).

O budismo compreende que, por 49 dias após a morte, o espírito está em processo incessante de transformação. Esse período é como uma segunda metade de uma circunferência - a primeira metade do tempo de vida, não importando se o ser teve apenas dias de vida, se morreu ainda dentro do útero ou centenário. Para o budismo a outra metade compreende 49 dias, e celebra-se o 49º dia de falecimento, pois é nesse dia que se completam ciclo vida/morte. No budismo tibetano, são 49 bardos(etapas) pelos quais se tem de passar para poder ter um renascimento, para terminar esse ciclo de vida/morte.

Não existe um inferno eterno nenhum céu eterno. Tudo é transitório. Para o budismo japonês, a morte é um renascer. E você vai renascer de acordo com suas tendências cármicas. Ou seja, não é mais você, mas essa outra vida que se transforma está baseada nas impressões deixadas pela última.
Monja Voen- Revista Bons Fluidos 
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A única pergunta que suscita aqui é: O que estou deixando/criando para os futuros membros de minha família?

Podemos aprender com culturas diferentes sobre os ciclos da vida e momentos que marcam os inícios de uma jornada. Basta dedicar um olhar mais atento ao que a vida vem nos mostrando como determinante para a renovação...

Na verdade, estar "aberto" pra tudo o que há... pois as respostas estão sempre a nossa frente, nós é que não as vemos porque estamos cheios de crenças e verdades absolutas.
Assim como a vida e a natureza, as nossas verdades também são impermanentes, mas queremos sempre o definitivo, para que possamos nos "acomodar"... afinal é sempre incômodo empreender uma mudança. 
Quando ouço ou percebo algo novo e que vem ao encontro daquilo que necessito...não é o outro... sou eu que me abri pra ver/ouvir. As respostas sempre estiveram aí!
Boa semana
Tais

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