Um deles era o grande Orfeu. Inventara a cítara, precursora da guitarra, e quando dedilhava suas cordas e cantava, a natureza em torno ficava enfeitiçada. Animais ferozes e deitavam mansamente a seus pés, as altas árvores se curvavam para ele. Nada podia resistir a seus cantos, como era tão grande, cortejou a mais bela mulher. Depois começou declínio.
Enquanto ainda celebrava as bodas, morreu sua bela Eurídice, e a taça cheia partiu-se no momento em que era brindada. Mas, para o grande Orfeu, a morte ainda não era o fim. Valendo-se de sua arte requintada, encontrou a entrada do mundo subterrâneo, desceu ao reino das sombras, atravessou o rio do esquecimento, passou pelo cão dos infernos, apresentou-se vivo ante o trono do deus da morte e o comoveu com seu canto.
A morte liberou Eurídice, porém sob uma condição. Orfeu estava tão feliz que não percebeu o ardil oculto por trás do favor. Retomou o caminho de volta, ouvindo atrás desse os passos da mulher amada. Passaram ilesos pelo cão dos infernos, atravessaram o rio do esquecimento, começaram a subida em direção a luz, e já avistaram ao longe.
Então, Orfeu ouviu um grito - Eurídice tropeçara. Virou-se horrorizado, ainda viu a sombra desaparecendo na noite, e ficou só. Fora de si pela dor, cantou sua canção de despedida: "Ai de mim, eu a perdi, toda minha felicidade se foi! "
Ele próprio retornou a luz, mas no reino dos mortos passara a estranhar a vida. Quando algumas mulheres ébrias quiseram levá-lo à festa do vinho novo, ele recusou, e elas o despedaçaram em vida.
Tão grande foi a sua desgraça e tão inútil foi sua arte. Porém todo mundo o conhece!
O outro Orfeu era o pequeno. Era apenas um músico ambulante que se apresentava em pequenas festas tocava para gente humilde, alegravam pouco e se divertia com isto. Como não podia viver de sua arte, aprender um ofício comum, casou-se com uma mulher comum, teve filhos comuns, pecou eventualmente, foi feliz de uma forma totalmente comum, morreu velho insatisfeito com a vida.
Mas, ninguém o conhece - exceto eu!
No Centro Sentimos a Leveza- Bert Hellinger
**********
"As histórias podem dizer o que não pode ser expresso de outra forma, pois também sabem ocultar o que mostram.Encaramos a sua verdade como pressentimos, por trás de um véu, o rosto de uma mulher.
Quando as ouvimos nos sentimos como se entrássemos numa catedral. Estando na obscuridade, vemos os vitrais iluminados. Mas, quando as luzes se acendem, só percebemos a moldura."
Nunca vi uma explicação melhor para as histórias... uma metáfora que nos ajuda a olhar para aquilo que está oculto!
A felicidade nos parece sedutora e enganosa, atraente e perigosa. Pois, muitas vezes, o que desejamos nos traz desgraça, e o que tememos nos deixa felizes. Às vezes, preferimos nos apegar à desgraça, por nos parecer segura ou maior, ou porque a consideramos como inocência ou como merecimento, ou porque vemos como um penhor da felicidade futura.
Então. talvez, desprezemos a felicidade como corriqueira ou como transitória e fugaz. Ou então a temamos como culpa e traição, como uma afronta ou como prenunciadora de desgraça...
Pensemos!
Boa semana. Se cuidem, se protejam da melhor forma possível. Tenho visto muita imprudência na cidade: abraços, máscaras abaixo do queixo, nariz fora da proteção (oi?), etc...
Trabalhe e saia, se necessário, mas proteja-se.
Tais
Nenhum comentário:
Postar um comentário