domingo, 26 de abril de 2015

A crença do "direito à felicidade"


"A crença de que a felicidade é um direito tem tornado despreparada a geração mais preparada.


Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.

Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.

Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.

Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.

Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.

É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?

Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.

Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.

Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.

A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.

Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.

Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.

Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.

Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.

O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.

Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.

Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.

Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.

Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba."
Eliane Brum
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Certamente, a educação não tem significado, a menos que ela auxilie a compreender a vasta expansão da vida com todas as suas sutilezas, com sua extraordinária beleza, tristezas e alegrias. Poderão os jovens obter diplomas, acrescentar títulos ao nome e ter um bom emprego. Mas e depois? Aos que "chegam lá" qual o objetivo se durante o processo se a mente ficar embotada, esgotada, limitada?
Certamente a inteligência é a capacidade de pensar livremente, sem medo, sem fórmula, para que comecem a descobrir o que é real, o que é verdadeiro; mas se o jovem estiver amedrontado nunca será inteligente. Qualquer forma de ambição, espiritual ou mundana, gera ansiedade e medo. Portanto não ajuda a formar uma mente clara, limpa, simples, direta, portanto, inteligente.
Prepará-los para buscar suas coisas sozinhos é imprescindível para propiciar coragem, segurança e sabedoria diante das dificuldades. Frustrar-se também é crescimento para a vida.
Uma boa semana à todos vocês!
Tais

domingo, 19 de abril de 2015

"Por que tudo acontece comigo?"-A representação dos excluídos da familia



O DIREITO DE SOCIEDADE
"Um princípio fundamental aplica-se a um sistema familiar que determina que todos os membros têm um direito igual de lhe pertencer. Em muitas famílias e clãs, determinados membros foram excluídos, um tio por exemplo, que era a ovelha negra da família, ou um filho ilegítimo sobre quem ninguém falava. 

Ou alguns membros podem dizer, "eu sou Católico e tu és Protestante, e como Católico tenho um direito maior de pertencer do que tu." Ou o reverso, "como um Protestante, eu tenho um direito maior de pertencer, porque eu pertenço à fé verdadeira. Tu és menos fiel do que eu, então tu tens menos direito de pertencer." A religião não é tão importante como era hábito, mas outras coisas são ainda, como a profissão, nacionalidade, cor da pele, gênero. 

Ou, às vezes quando um filho morre em criança, os pais dão ao filho seguinte o mesmo nome. Dizem efetivamente à criança falecida, "você já não pertence. Nós temos um substituto para ti." A criança falecida não pode mesmo manter o seu próprio nome. Em muitas famílias tais crianças nem são contadas entre os filhos, nem são mencionadas. O seu direito fundamental de pertencer é ferido e negado. 

Muitos chamam moralidade, especialmente quando alguns membros acreditam que são melhores do que os outros e colocam-se acima deles, é realmente a mensagem, "nós temos mais direito de pertencer do que tu." Ou quando falamos mal de outros membros e os tratamos como se fossem maus, nós estamos a dizer, "tu tens menos direito de pertencer do que eu." Em tais situações, "bom" somente quer dizer que eu tenho mais direito de pertencer e "mau" significa que tu tens menos direito de pertencer. 

OS MEMBROS EXCLUÍDOS SÃO REPRESENTADOS 
A dinâmica fundamental num sistema familiar é que todos os membros têm um direito igual de pertencer e não é tolerado ferir. Sempre que alguém num sistema familiar é excluído, gera-se uma necessidade de compensação. Esta dinâmica de compensação leva a que o membro excluído ou desdenhado seja representado por um membro mais novo da família, que está inconsciente de, e sem poder fazer nada contra essa identificação. 

Por exemplo, um homem casado apaixona-se por outra mulher e diz à sua esposa que não quer ter mais nada com ela. Inventa razões superficiais e caprichosas para justificar as suas ações, compondo a injustiça feita à sua esposa. Mais tarde teve filhos com a sua nova companheira, mas a sua filha enfrenta-o por nenhuma razão aparente. Verifica-se que a filha representa inconscientemente a sua primeira esposa e sente pelo pai o mesmo ódio que a sua primeira esposa deve ter sentido, mesmo não sabendo da existência da primeira mulher. Nisto, podemos ver o trabalho de uma invisível e sistemática força compensatória, vingando a injustiça feita ao anterior membro através da utilização inconsciente de um membro mais novo. 

Muito sérias disfunções em distúrbios no comportamento familiar nas crianças, mas também as doenças, tendência a acidentes e comportamentos suicidas ocorrem quando as crianças representam inconscientemente uma pessoa excluída para satisfazer a necessidade de restituição dessa pessoa. Isto mostra uma segunda característica da consciência do sistema familiar. Assegura justiça para os membros mais antigos e causa injustiça para os mais novos. 

SOLUÇÃO 
Os membros mais novos da família podem ser libertados de tais enredos quando a ordem fundamental é restabelecida; quando os membros excluídos são novamente aceitos na família e recebem o devido respeito. Por exemplo, a segunda esposa pode dizer à primeira, "eu tenho este homem e tu pagaste o preço; respeito a tua perda e reconheço que te foi feita uma injustiça; peço-te que, por favor, sejas amigável para mim e para os meus filhos." Quando são sinceramente ditas, tais frases nomeiam honestamente o que aconteceu e prestam à primeira esposa o devido respeito. Nas constelações familiares observamos frequentemente como a face da primeira esposa amacia e como se torna amigável porque é respeitada. A sua reação demonstra que também pertence à família. 

A solução requer também que a criança que representa a primeira esposa lhe diga, "eu pertenço somente ao meu pai e à minha mãe. O que quer que esteja entre vocês não é nada comigo." Pode também dizer ao seu pai, "você é o meu pai e eu sou a sua filha. Olhe por favor para mim, como sua filha." Estas frases, ditas com sinceridade, também restauram a ordem fundamental. O pai pode olhar para a sua filha e não necessita de ver nela a sua primeira esposa, e não necessita encontrar nela o ódio e a dor que a sua primeira esposa deve ter sentido. E se amar ainda a sua primeira esposa, não necessita ver a sua amada, na filha. Pode olhá-la, e ver, e amar a sua filha. A filha é libertada para ser meramente uma filha, e o pai, um pai. 

A filha pode também dizer-lhe, "esta é a minha mãe; eu não estou relacionada com a tua primeira esposa; eu reclamo e quero a minha mãe; é única para mim". E pode dizer à sua mãe, "eu não estou relacionada com a outra mulher; eu não estou conectada com ela de forma alguma." Tal como a representante da primeira esposa, a mãe pode inconscientemente ver a outra mulher nela, e começar um conflito uma com a outra como se fossem rivais. Quando a filha diz, "você é minha mãe e eu sou sua filha; eu não tenho nenhuma ligação com a outra mulher; eu quero-te como minha mãe. Por favor, aceita-me como tua filha", ela restaura a ordem básica. 

Ofensas ao direito igual de pertencer são também a causa de enredos muito mais sérios. Por exemplo, quando uma criança morre jovem numa família, as outras crianças tendem a sentirem-se culpadas porque estão ainda vivas quando o seu irmão ou irmã estão mortos. É como se acreditassem que estão em vantagem porque estão vivos e o seu parente está em desvantagem porque está morto. Inconscientemente tentam compensar procurando falhar, ficando doentes, ou em casos extremos, querendo morrer, embora não saibam porquê. 

Em situações como esta, algumas crianças puderam restaurar a ordem do amor dizendo ao seu parente falecido, "você é meu irmão (ou irmã). Eu respeito-o como meu irmão (irmã). Você tem um lugar no meu coração. Eu curvo minha a cabeça perante ti e o teu destino, qualquer que seja, e aceito o meu destino conforme ele vier." Estas frases prestam respeito ao parente falecido, e a criança viva pode voltar à sua vida, sem culpa. 

SISTEMAS MÁGICOS DE OPINIÃO E SUAS CONSEQUÊNCIAS 
Para além da necessidade de reciprocidade que causa a doença, um sistema mágico de opinião trabalha o seu infortúnio. Nomeadamente, nós podemos libertar aqueles que amamos do seu sofrimento e infortúnio quando aceitamos carregar com eles. Por exemplo, a alma do filho diz frequentemente à sua mãe doente terminal, "eu prefiro ficar doente, do que vê-la a sofrer. Prefiro eu morrer do que vê-la morrer." Ou quando uma mãe está a ser afastada da vida por forças sistêmicas, acontece às vezes que um filho comete o suicídio na opinião mágica de que o seu sacrifício proporcionará a liberdade suficiente para a mãe ficar. 

A anorexia tem frequentemente esta dinâmica. Uma criança anoréxica definha lentamente, até que morre. É frequente o caso das almas de tais crianças anoréxicas, que estejam a dizer ao seu pai ou à sua mãe, "é melhor eu desaparecer do que tu partires." Isto é um amor profundo, inocente, mas quando a criança morre, o que é que realiza ela? 

Quando eu trabalho com uma criança anoréxica, eu deixo-a falar em voz alta estas frases da alma. Podem olhar os representantes da mãe ou do pai nos olhos e dizer-lhes, "prefiro desaparecer do que deixar-te partir." Quando uma criança olha a sua mãe ou o seu pai até que os veja realmente, não consegue dizer as frases, porque vê que os seus pais ficarão devastados com a sua morte. O sistema mágico da opinião da criança ignora totalmente o fato de que os pais também amam, e que rejeitariam veementemente tal sacrifício. E ignora também o fato de que tal sacrifício seria inútil. 

Quando uma mãe morre no parto, o seu filho passa um tempo difícil para abraçar inteiramente a vida. Ajuda quando tal criança olha para a sua mãe nos olhos e diz "mãe, eu vejo o preço terrível que pagás-te para que eu pudesse viver; aceito a vida que me des-te, e farei algo de bom com ela; descansa em paz, sabendo que eu viverei de modo que o teu sacrifício não tenha sido em vão." Aceitar a vida desta maneira é amor num nível mais elevado do que o amor cego que tem a criança-alma que diz, "mãe, eu não posso viver totalmente porque tu morreste; sinto-me demasiado culpado." O amor num nível mais elevado exige que nós abandonemos a opinião mágica que podemos mudar o curso das vidas dos nossos pais para melhor quando nos sacrificamos. Exige que nós transformemos o amor cego que cria e perpetua o sofrimento, num amor que cura. 

Os sistemas mágicos de opinião e o amor-criança que segue com eles são aliados a um sentimento presunçoso de poder e superioridade. Um filho acredita realmente que as suas doenças e morte podem libertar o pai ou a mãe da doença e da morte. A verdadeira humildade é o que torna possível diminuir essa presunção."

Bert Hellinger
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Veja quantas dificuldades podem ser trabalhadas nas Constelações Familiares.
O mais significativo é que o que aparece através dos representantes é a manifestação do inconsciente ( da alma )...onde o cliente não tem controle. E ele pode olhar e sentir a liberação que isto proporciona.
Acontece, às vezes, do cliente não aceitar, não acreditar naquilo que "aparece" e não direcionar-se para a solução apresentada e aí, ele permanecerá no mesmo lugar.
Mas as Constelações realmente são libertadoras, propiciando ao cliente "ir para a vida e tomá-la verdadeiramente".
Por isso que sugiro - participe de um grupo de Constelação, sinta o quanto mudam as compreensões, pratique em sua vida. É libertador!!!!!
Estarei Constelando em grupo no próximo dia 25 de abril de 2015, na rua Capitão Souza Franco 881- 15 andar às 10 horas (sábado).
Não há custo para assistir ou representar. Para constelar entre em contato (41 9962-3302) para obter informações.
Boa semana
Tais 

domingo, 12 de abril de 2015

Os filhos têm direito a tudo que é dos pais?

"Além de nos darem a vida, os nossos pais dão-nos também outras coisas. Alimentam-nos, animam-nos, cuidam de nós, e muito mais. Isto funciona bem quando a criança aceita o que lhe é dado, tal como lhe é dado. Regra geral, as crianças só aceitam o que necessitam, do que lhes é oferecido. Naturalmente há as excepções que nós todos compreendemos, mas regra geral, o que os pais dão aos seus filhos é o suficiente. Os filhos não podem ter tudo o que querem e nem todos os sonhos são realizados, mas normalmente, os filhos recebem bastante.

É consistente com as ordens do amor quando os filhos dizem aos seus pais, "vocês deram-me bastante, e é suficiente. Eu aceito isso de vós com apreciação e amor." Um filho que sinta isso, sente-se cheio e próspero, não importa o que pode ter ido antes. Tal filho poderia adicionar, "eu cuidarei do resto." Esta também é uma bonita experiência. E o filho poderia adicionar, "agora deixo-os em paz." O efeito destas frases é muito profundo. Os filhos têm os seus pais, e os pais têm os seus filhos. São simultaneamente separados e tornam-se independentes. Os pais terminaram o seu trabalho, e os filhos são livres para viver as suas vidas com respeito para com seus pais, sem serem dependentes deles.

Mas sinta o que se passa na alma quando você imagina os filhos a dizerem aos seus pais, "o que vocês me deram, primeiro, não foi a coisa certa, e segundo, não foi o suficiente. Vocês ainda me devem." O que é que os filhos recebem dos seus pais quando sentem desta maneira? Nada. E o que é que os pais recebem dos seus filhos? Também nada. Tais filhos não podem separar-se dos seus pais. Suas acusações e pedidos amarram-nos aos seus pais de modo que, embora estejam limitados a eles, não têm nenhum progenitor. Sentem-se então vazios, necessitados e fracos.

Esta é a segunda Ordem do Amor, que os filhos tomem o que os seus pais lhes dão para além da vida como ela é.

MEDIDA DO FILHO
Adicionalmente à vida que os pais dão aos seus filhos, e ao que quer que seja que lhes dão enquanto os criam, há também os presentes que os pais dão, do que acumularam com os seus próprios esforços. Por exemplo, uma mãe é uma prendada pintora que pinta os quadros mais maravilhosos. Isto pertence a ela e não aos seus filhos. Se os seus filhos ficarem decepcionados porque não conseguem pintar quadros tão belos - embora não tenham o seu talento e não trabalhassem tão arduamente como ela - eles violam as Ordens do Amor. Não é assim que a vida funciona. O mesmo aplica-se à riqueza material. Os filhos que se sentem herdeiros da riqueza dos seus pais, e ficam decepcionados quando não o são, danificam o amor. Se herdarem a riqueza, então o amor estará bem servido quando a tratam puramente como uma dádiva.

Isto é importante porque se aplica também à culpa pessoal dos nossos pais. A culpa pessoal dos nossos pais pertence-lhes a eles, sozinhos. Acontece frequentemente que os filhos, sem o amor de seus pais, tomam a culpa deles e tentam carregá-la. Mas isto viola as Ordens do Amor. Tais filhos tentam presunçosamente fazer algo que não têm direito nenhum de fazer. Por exemplo, quando os filhos tentam expiar os erros dos pais, colocam-se acima de seus pais e tratam-nos como se os pais fossem crianças de que necessitam de tomar conta, e como se os filhos fossem os pais.

Não há muito tempo havia uma mulher num grupo cujo pai era cego e a mãe surda. Eles compensavam-se um ao outro muito bem. Mas a mulher sentiu que necessitava de cuidar dos pais, e quando nós construímos a sua constelação familiar, o seu representante agiu como se fosse grande e seus pais pequenos. Na constelação, a mãe disse-lhe que, "até que o teu pai queira, eu posso cuidar dele sozinha." E o pai disse-lhe que, "a tua mãe e eu estamos bem sozinhos. Não necessitamos de ti." Mas a mulher ficou mais decepcionada do que aliviada. Foi reduzida ao tamanho de filha, de criança.

Não conseguia dormir nessa noite. De fato, sofria de insonias. No dia seguinte, perguntou-me se eu a poderia ajudar. Eu disse, "as pessoas que não conseguem dormir às vezes acreditam que necessitam de vigiar algo." Então eu contei-lhe uma história de Borchert sobre um menino em Berlim após a guerra. Ele vigiava dia e noite o corpo morto do irmão para que os ratos não o comessem. Embora estivesse completamente esgotado, estava convencido que era obrigado a manter-se de vigia. Um homem caridoso veio ter com ele e disse-lhe, "de noite os ratos dormem." Então o menino caiu adormecido. Nessa noite, a mulher também dormiu.

A terceira Ordem do Amor entre pais e filhos é que respeitamos o que pertence aos nossos pais pessoalmente, e permitimos que façam o que somente eles, podem e devem fazer.

TOMANDO E DESAFIANDO
A quarta Ordem do Amor entre pais e filhos é que os pais são grandes e os filhos são pequenos. É apropriado que os filhos aceitem e os pais dêem. Porque os filhos recebem tanto, têm necessidade de balançar a conta. Faz-nos sentir incômodos quando aceitamos daqueles que amamos sem poder retribuir. Com os nossos pais nunca podemos corrigir o desequilíbrio porque eles dão sempre mais do que nós podemos retribuir.

Alguns filhos fogem da pressão da reciprocidade, da sensação de obrigação ou de culpa. Então dizem, "eu prefiro não receber nada e sentir-me livre da culpa e obrigação." Tais filhos fecham-se aos seus pais e sentem-se vazios e empobrecidos. O amor seria melhor servido se eles dissessem, "aceito tudo o que me derem com amor." Então poderiam olhar amorosamente para os seus pais, e os pais poderiam ver como os seus filhos eram felizes. Esta é uma maneira de aceitar, que consegue equilibrar, porque os pais sentem reconhecimento por este tipo de aceitação, com amor. E dão ainda de maior boa vontade.

Quando os filhos exigem, "vocês devem dar-me mais", então os corações dos pais fecham-se. Porque os filhos exigem, os pais não podem mais inundá-los voluntariamente de amor. É tudo o que essas exigências conseguem, elas proíbem o fluxo natural do amor. E os filhos exigindo, mesmo quando conseguem algo, não lhe dão valor.

RECIPROCIDADE
Entre pais e filhos, a reciprocidade em dar e receber é conseguida dando uns aos outros o que recebemos. Isto faz os pais muito felizes quando os filhos dizem, "eu recebo tudo o que me dás, e quando for grande, passá-lo-ei para os meus filhos." Os filhos não olham para trás quando dão desta maneira, eles olham em frente. Foi o que os seus pais fizeram, eles receberam dos próprios pais e deram aos seus filhos. Porque receberam tanto, sentem-se pressionados para dar abundantemente, e podem fazer isso.

É isto o que eu quero dizer sobre as Ordens do Amor entre pais e filhos."
Bert Hellinger 
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É impressionante o que nos acontece quando fazemos a compreensão destas Ordens do Amor. 
Respeitar os pais como eles são, sem reivindicações, exigências...nos torna grande e próspero em todas as areas de nossas vidas ( familiar, profissional, financeiro etc...) 
Sempre que temos dificuldades financeiras , por exemplo, é devido a falta de gratidão à tudo que temos e recebemos.
Poucas pessoas agradecem ao corpo que têm, ao perfeito funcionamento dele e de seus órgãos.
Nas Constelações aparece muito como origem de problemas de relacionamento, por exemplo, a falta de gratidão/aceitação dos pais.
Pense nisso....e boa semana!
Tais

domingo, 5 de abril de 2015

Aceitar a vida como ela é...


Muita gente supõe que se nós amarmos bastante, o amor triunfará e tudo se transformará em bem. A experiência demonstra que isto não é verdade. Às vezes os pais vêem, desesperadamente, como os seus filhos, embora profundamente amados, tornam-se diferentes do que eles esperavam, por vezes ficando doentes, viciados em drogas ou suicidas. Tais experiências mostram que, para além do amor, é necessário algo mais para que o amor seja bem sucedido. O que o amor requer é que nós compreendamos e sigamos as escondidas Ordens do Amor.
ORDEM E AMOR

O Amor completa-se com o conteúdo das Ordens.
O Amor é água, as Ordens são o seu jarro.

As Ordens são a terra arrendada,
Permitindo que o Amor flua.

Ordem e Amor cooperam:
Tal como a melodia e suas harmonias,
Assim é o Amor com as suas Ordens.

Tal como nossos ouvidos são arranhados pela dissonância,
Mesmo quando explicada,
Também a nossa alma adapta-se com dificuldade
Ao Amor sem ordem.

Alguns tratam as Ordens como se elas
Fossem opiniões que possamos
Ter ou mudar à vontade.

Mas elas são como são.
Trabalham, mesmo quando não as compreendemos.
Nós não as criamos, descobrimo-las.
Concluímos então, como Desígnio e Alma,
Do seu efeito.

Muitas destas ordens estão escondidas e nós não podemos observá-las diretamente. Trabalham profundamente na alma, e tendemos a obscurecê-las com as nossas crenças, objecções, desejos ou ansiedades. Necessitamos de entrar profundamente na alma se quisermos tocar as Ordens do Amor.

ACEITAR A VIDA COMO ELA É
Gostaria de começar dizendo algo sobre as Ordens do Amor entre pais e filhos, partindo da perspectiva do filho. Estas observações são tão fundamentais e óbvias que eu hesito completamente em mencioná-las, mas não obstante elas são frequentemente esquecidas.

Quando os pais dão a vida, agem de acordo com o mais profundo da sua humanidade, e dão-se enquanto pais aos seus filhos exatamente como são. Não podem adicionar qualquer coisa ao que são, nem podem deixar qualquer coisa de fora. Pai e mãe, consumando o seu amor um pelo outro, dão aos seus filhos tudo o que são. Assim, a primeira das Ordens do Amor é que os filhos tomam a vida como ela lhes é dada. Uma criança não pode deixar qualquer coisa de fora da vida que lhe é dada, nem o desejo de que ela seja diferente vai mudar alguma coisa.

Uma criança É dos seus pais. O Amor, se for para ter sucesso, requer que um filho aceite os pais tal como são, sem medo e sem imaginar que poderia ter pais diferentes. Afinal de contas, pais diferentes teriam filhos diferentes. Nossos pais são os únicos possíveis para nós. Imaginar que qualquer outra coisa seja possível é uma ilusão.

Aceitar nossos pais tal como são é um movimento muito profundo. Implica o nosso acordo com a vida e o destino, exatamente como nos são apresentados pelos nossos pais; com as limitações que são inerentes a isso. Com as oportunidades que damos a nós próprios. Com o enredo no sofrimento, má sorte e culpa da nossa família, ou sua felicidade e boa sorte, tal como pode acontecer.

Esta afirmação de nossos pais tal como são é um ato religioso. Expressa a nossa prontidão a dar falsas expectativas, que excedem ou caem de acordo com a vida que os nossos pais nos deram realmente. Esta afirmação religiosa estende-se para além dos nossos pais, e assim, ao aceitar os nossos pais, devemos olhar para além deles. Devemos ver para além deles à distância, de onde a própria vida vem, e devemos curvarmo-nos perante o mistério da vida. Quando aceitamos os nossos pais tal como são, reconhecemos o mistério da vida e submetemo-nos a ele.

Você pode testar o efeito desta aceitação na sua alma: 
Imagine-se profundamente curvado perante os seus pais e dizendo lhes, "a vida que vocês me deram veio para mim ao preço total que vos custou, e o preço total foi o que custou. Eu aceito-a com tudo o que vem com ela, com todas as suas limitações e oportunidades." No momento em que estas frases são sinceramente ditas, nós reconhecemos a vida como ela é e nossos pais como são. O coração abre-se. Quem quer que controle esta afirmação sente-se pleno e em paz.

Compare o efeito desta afirmação com o seu oposto: 
Imagine-se a afastar-se de seus pais, dizendo, "eu quero pais diferentes. Não gosto de como os meus são." Que ilusão, como se fosse possível sermos nós próprios e ter pais diferentes. Aqueles que falam em segredo estas frases afastam-se da vida como ela é, e sentem-se vazios, sem apoio, e não encontram paz com eles próprios.

Algumas pessoas temem que se aceitarem os seus pais tal como são, devem também aceitar o lado mau deles, e agem como se pudessem escolher somente a parte da vida que preferem. Temendo aceitar a totalidade da vida, também se perde o que é bom. Aceitando os nossos pais como são, aceitamos também a plenitude da vida, tal como ela é.
Bert Hellinger
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