Muita gente supõe que se nós amarmos bastante, o amor triunfará e tudo se transformará em bem. A experiência demonstra que isto não é verdade. Às vezes os pais vêem, desesperadamente, como os seus filhos, embora profundamente amados, tornam-se diferentes do que eles esperavam, por vezes ficando doentes, viciados em drogas ou suicidas. Tais experiências mostram que, para além do amor, é necessário algo mais para que o amor seja bem sucedido. O que o amor requer é que nós compreendamos e sigamos as escondidas Ordens do Amor.
ORDEM E AMOR
O Amor completa-se com o conteúdo das Ordens.
O Amor é água, as Ordens são o seu jarro.
As Ordens são a terra arrendada,
Permitindo que o Amor flua.
Ordem e Amor cooperam:
Tal como a melodia e suas harmonias,
Assim é o Amor com as suas Ordens.
Tal como nossos ouvidos são arranhados pela dissonância,
Mesmo quando explicada,
Também a nossa alma adapta-se com dificuldade
Ao Amor sem ordem.
Alguns tratam as Ordens como se elas
Fossem opiniões que possamos
Ter ou mudar à vontade.
Mas elas são como são.
Trabalham, mesmo quando não as compreendemos.
Nós não as criamos, descobrimo-las.
Concluímos então, como Desígnio e Alma,
Do seu efeito.
Muitas destas ordens estão escondidas e nós não podemos observá-las diretamente. Trabalham profundamente na alma, e tendemos a obscurecê-las com as nossas crenças, objecções, desejos ou ansiedades. Necessitamos de entrar profundamente na alma se quisermos tocar as Ordens do Amor.
ACEITAR A VIDA COMO ELA É
Gostaria de começar dizendo algo sobre as Ordens do Amor entre pais e filhos, partindo da perspectiva do filho. Estas observações são tão fundamentais e óbvias que eu hesito completamente em mencioná-las, mas não obstante elas são frequentemente esquecidas.
Quando os pais dão a vida, agem de acordo com o mais profundo da sua humanidade, e dão-se enquanto pais aos seus filhos exatamente como são. Não podem adicionar qualquer coisa ao que são, nem podem deixar qualquer coisa de fora. Pai e mãe, consumando o seu amor um pelo outro, dão aos seus filhos tudo o que são. Assim, a primeira das Ordens do Amor é que os filhos tomam a vida como ela lhes é dada. Uma criança não pode deixar qualquer coisa de fora da vida que lhe é dada, nem o desejo de que ela seja diferente vai mudar alguma coisa.
Uma criança É dos seus pais. O Amor, se for para ter sucesso, requer que um filho aceite os pais tal como são, sem medo e sem imaginar que poderia ter pais diferentes. Afinal de contas, pais diferentes teriam filhos diferentes. Nossos pais são os únicos possíveis para nós. Imaginar que qualquer outra coisa seja possível é uma ilusão.
Aceitar nossos pais tal como são é um movimento muito profundo. Implica o nosso acordo com a vida e o destino, exatamente como nos são apresentados pelos nossos pais; com as limitações que são inerentes a isso. Com as oportunidades que damos a nós próprios. Com o enredo no sofrimento, má sorte e culpa da nossa família, ou sua felicidade e boa sorte, tal como pode acontecer.
Esta afirmação de nossos pais tal como são é um ato religioso. Expressa a nossa prontidão a dar falsas expectativas, que excedem ou caem de acordo com a vida que os nossos pais nos deram realmente. Esta afirmação religiosa estende-se para além dos nossos pais, e assim, ao aceitar os nossos pais, devemos olhar para além deles. Devemos ver para além deles à distância, de onde a própria vida vem, e devemos curvarmo-nos perante o mistério da vida. Quando aceitamos os nossos pais tal como são, reconhecemos o mistério da vida e submetemo-nos a ele.
Você pode testar o efeito desta aceitação na sua alma:
Imagine-se profundamente curvado perante os seus pais e dizendo lhes, "a vida que vocês me deram veio para mim ao preço total que vos custou, e o preço total foi o que custou. Eu aceito-a com tudo o que vem com ela, com todas as suas limitações e oportunidades." No momento em que estas frases são sinceramente ditas, nós reconhecemos a vida como ela é e nossos pais como são. O coração abre-se. Quem quer que controle esta afirmação sente-se pleno e em paz.
Compare o efeito desta afirmação com o seu oposto:
Imagine-se a afastar-se de seus pais, dizendo, "eu quero pais diferentes. Não gosto de como os meus são." Que ilusão, como se fosse possível sermos nós próprios e ter pais diferentes. Aqueles que falam em segredo estas frases afastam-se da vida como ela é, e sentem-se vazios, sem apoio, e não encontram paz com eles próprios.
Algumas pessoas temem que se aceitarem os seus pais tal como são, devem também aceitar o lado mau deles, e agem como se pudessem escolher somente a parte da vida que preferem. Temendo aceitar a totalidade da vida, também se perde o que é bom. Aceitando os nossos pais como são, aceitamos também a plenitude da vida, tal como ela é.
Bert Hellinger
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