"Existe na alma uma profunda necessidade de livrar-se das culpas. Uma necessidade muito profunda. Muitos problemas surgem quando pensamos que seria possível nos esquivarmos à culpa. Mas isso não é possível. Começa com algo bem simples, por exemplo, reconhecendo que se vive à custa dos outros.
Pensem sobre o que nossos pais fizeram por nós, começando com a gravidez da mãe, o nascimento e os riscos que assumiu, nesse cuidado e preocupação anos a fio, não é fácil encarar e ver o que isso significa para para cada um de nós. Então, alguns se esquivam da culpa, aqui, no sentido de transformar a culpa em obrigação do outro e se tornam duros perante os pais. Fazem reivindicações e talvez se sintam grandes e superiores. Isso tudo é defesa contra essa culpa.
Contudo, grande é aquele que encara essa culpa, olha para seus pais nos olhos e vê tudo aquilo que eles fizeram por ele. E quando ainda vê atras deles os avós com o seu amor e cuidado e diz: "Sim, eu tomo isso agora; agora como uma criança, agora sou neto; tomo tudo e também pelo preço total que lhes custou", assim a alma fica ampla e grande e, principalmente, plena de força.
Entretanto não se pode ficar com essa força consigo, é preciso passá-la adiante. Os filhos fazem isso se tornando pais; passando para adiante a seus próprios filhos ou a outros. E quando essa culpa é reconhecida, vem dela uma benção para muitos. Esse é um dos pontos.
Outro ponto é que vivemos à custa de outros, só podemos viver desse modo. E também precisamos saber que outros vivem à nossa custa de várias maneiras e que também estamos enredados aí, em seus emaranhamentos e, ainda, que se exige de nós que soframos por algo pelo qual, no fundo, não somos culpados. Isto é, que soframos por algo que os outros nos afligiram, e estes tornam culpados em relação a nós.
Entretanto, quando temos isso em vista e tudo aquilo que vem ao nosso encontro - o de estarmos emaranhados nessa alternância de culpa e inocência, de dar e receber, de ser exigido - então podemos nos submeter a isso da maneira que der e vier.
Naturalmente existem situações em que alguém através de uma leviandade provoca algo terrível e por medo não diz que foi o culpado ou que partiu dele. Então, alguém precisa sofrer por isso. Quando um dos descendentes sente essa culpa e pensa que no final das contas é responsável por tudo isso, é um engano. Ele não pode fazer isso e não compete a ele.
Embora, algumas vezes, aparentemente pareçamos ser ofensores, existimos num contexto maior no qual atuam outras forças que também tomam os culpados a seu serviço, sem que os alivie da sua culpa. Podemos observar que as vezes o pai não faz nenhuma censura em relação ao filho. Os mortos percebem que aí atua outra coisa. Então, cessam todas as ideias: "Se ele não tivesse feito isso, então não seria assim". A realidade como foi, pode ser vista e deixada em paz. Os mortos ficam então, entre eles."
Bert Hellinger - A fonte não precisa perguntar pelo caminho
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