Fiz minha Formação em Sistêmica com a professora Solange, e esta possibilidade me abriu um mundo novo. Este artigo dela foi publicado em maio na Revista Caras e achei que seria um oportunidade de reflexão aos casais e pais. Bom proveito!
Casal que define bem os papéis na relação cria filhos mais equilibrados
Solange Maria Rosset
Famílias formadas por casais funcionais, ou seja, que sabem bem quais são os limites e as funções de cada um tanto no relacionamento quanto na vida em comum, tendem a ser mais eficientes na formação de adultos saudáveis e maduros. Quando a relação dos pais não funciona como deveria, o desenvolvimento dos filhos tem grande chance de ser afetado.
Quando ficamos sabendo de atrocidades cometidas por pessoas jovens, como a que ocorreu em abril no Rio de Janeiro, é inevitável pensar sobre a importância da família na construção de adultos saudáveis e maduros. Muito se discute sobre o assunto e sabe-se que certas famílias realmente são mais bem-sucedidas que outras nessa tarefa. A base de seu sucesso se firma na relação dos casais que as formaram.
Uma família funcional é mais propensa a formar indivíduos funcionais, ou seja, capazes de desempenhar suas funções na família e na sociedade. Funcional é a família que cria os filhos de forma firme, porém flexível, dependendo das circunstâncias, e que incentiva um processo constante de tomada de consciência, aprendizagem e crescimento. O casal que sabe lidar com suas funções é que passa essa habilidade para os demais integrantes da família e define se ela será mais ou menos funcional.
Uma das formas de avaliar a funcionalidade de um casal é observando as suas fronteiras, aquele limite virtual que define e protege o espaço e as tarefas de cada um, sem prejuízo do intercâmbio, do contato e das aprendizagens com outros casais e famílias. Quando as fronteiras dentro do casal não são bem definidas, é possível que um filho venha a desempenhar uma função que não deveria ser sua, mas do pai ou da mãe. Isso perturba o desenvolvimento da criança.
A seguir, listo alguns outros itens do funcionamento do casal que podem interferir na funcionalidade da família.
* Limites. Implica direitos e deveres, regras, orientação e contratos. Sentir que existem limites claros dá à criança a certeza de ser amada, cuidada e orientada. Na falta deles, ela tem a sensação de estar à deriva, de não ter com quem contar, de desamor.
* Abertura e fechamento. O que é público e o que é privado; o quanto o casal pode se abrir e aprender com outras pessoas e famílias. E o quanto deve se fechar para manter a identidade, a estrutura e o aconchego familiar.
* Equilíbrio dinâmico. Flexibilidade para lidar com questões conjugais e familiares adequando-se às mudanças, aos momentos do ciclo vital familiar, aos imprevistos.
* Trocas afetivas. A capacidade de se conectar com os próprios sentimentos e sensações e expressá-los; e de ser continente do afeto e dos sentimentos dos outros, sejam os ditos positivos – amor, carinho – sejam os chamados negativos – raiva, medo, mágoa.
* Desenvolvimento de auto estima. O processo de descoberta e treinamento das competências reais. Pressupõe aprender a lidar com as diferenças e com a valorização de cada um. É aprender a lidar com solidão, rejeição, privacidade.
* Tarefas. Todos devem cooperar na manutenção da vida familiar, dentro da sua capacidade e competência.
* Autonomia. Definir que tarefas cada um pode desempenhar sozinho, no que precisa de supervisão e o que não tem idade/habilidade/competência para fazer.
* Independência. Deve ser concedida a partir de prova de competência e responsabilidade. E isso os pais só saberão definir se tiverem essa habilidade como indivíduos e como casal.
O assunto é inesgotável, mas os itens discutidos servem para ampliar a reflexão tanto dos casais quanto dos pais.
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