domingo, 28 de abril de 2019

Quem Pensa, Quem Sofre, Quem Ama

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"Meu pensar, meu sofrer, meu amor tem um efeito. São parte de um movimento que põe em marcha algo, ocasionando-lhe uma mudança, impulsionando-o para avançar ou freando, detendo--o. Meu pensar, meu sofrer, meu amor estão enlaçados com um movimento, que tanto para mim, como para os demais, é significativo. Portanto, nunca são estritamente pessoais. Dependem de algo maior. Têm efeitos que ultrapassam nossos desejos, nossa vontade, nossos temores e nosso poder; e cuja envergadura não podemos nem estimar, nem determinar, nem represar, nem deter – seja para nós, ou seja para os demais.

Quem pensa, então, quando pensamos? Quem ou o que sofre quando sofremos? Quem ou o que ama quando amamos? Como ficamos quando tomamos consciência de que algo mais pensa quando pensamos, algo que nos supera de longe? Como ficamos quando lhe deixamos pensar do jeito que quiser? Quando lhe permitimos nos envolver com seu pensar, seja o que for, pensar em nós e com nós, entregando-nos a ele e agindo conjuntamente com ele no que pensa com e em nós; como ficamos, então? Por acaso precisamos nos preocupar em saber para onde nos leva este pensar? Por acaso precisamos nos preocupar com o modo como nos torna a seu serviço, diferente do que teríamos arriscado e podido, caso este pensar surgisse de nós?

E o que acontece com nosso sofrer? Por acaso dominamos seus efeitos? Quando nos alcança, assim como a outros, e nos faz ser razoáveis, por exemplo? Ou nos ajuda, levando-nos a refletir, ou nos obriga a mudar de pensamento, levando-nos a um pensar mais criativo? Por acaso controlamos para onde nos leva nosso sofrer, assim como aos outros? Trata-se apenas de um sofrer pessoal ou está a serviço de um poder maior, assim como nosso pensar? Um poder do espírito, para o qual apenas representa uma transição para metas mais elevadas e distantes?

Como manejar nossa dor em sintonia com estas forças condutoras? Ora, nos deixamos guiar por nossa dor para uma realização. Nos deixamos tomar pela mão por este sofrer em um movimento que reordena algo para nós e para outros. Neste caso, é apenas nossa dor, uma dor pessoal? Ou está a serviço de um movimento que, através da nossa dor, consegue algo para muitos ao mesmo tempo?

Portanto, olhemos além de nosso sofrer, para este potente movimento, deixemo-nos guiar por ele, para onde vá. Este movimento pensa através da nossa dor e, com ela, nos faz voltar à razão.

De que razão se trata, antes de tudo? Nosso sofrer nos obriga a pensar de outra forma. Nos obriga a pensar de outra forma nos demais, em sua dor, por exemplo, ou em sua culpa e a nossa. Mas, acima de tudo, nos obriga a pensar distintamente com respeito àquela força espiritual cujo pensar traz tudo para a existência, tal como é, e que leva tudo para sua meta, que ainda permanece oculta para nós.

Além disso, este movimento nos mostra algo: está dirigido a tudo igualmente, sem favorecer nada. Já que, em função de qual critério poderia dar a preferência a outro, posto que tudo tem que ser como ele o concebe e quer?

Mas, pelo visto, nós achamos que podemos preferir um em detrimento do outro, e que temos o direito de considerá-lo melhor ou pior. E nos outorgamos a possibilidade de excluir ou eliminar algo a favor de outra coisa, como se pudéssemos ou tivéssemos a permissão para isso.

Se o fazemos, qual é o resultado ou as consequências? Ora, é o sofrimento. Através do sofrimento estamos reconectados com o que, a nosso parecer e ao parecer do nosso grupo, não deveria estar ali, aquilo que não tem permissão para esta ali, como nós, como aqueles dos quais dependemos e aos quais estamos entregues.

Quem sofre, então? Nós sofremos. Mas sofremos para que algo retorne com o objetivo de que possamos nos completar graças a isso e, por conseguinte, no curar. Sofremos porque uma força nos leva a esta dor, mas por um caminho que abre para nós e para os demais.

Ao serviço do que, então, se encontra o sofrer? A serviço do amor.

Algo mais se destaca aqui. O amor desta força criadora ama de modo diferente do qual nós podemos amar. Pelo menos, no começo do nosso amor e até que nos encontremos envolvidos amorosamente por este outro amor. Que amor é este? É o amor para tudo, tal como é.

Quando amamos, então, quem ama neste amor? É este poder que atua por trás de tudo, que abarca tudo de igual maneira em seu movimento, em um movimento de amor para todos. Por acaso somos nós que amamos ainda? Ou nos abandonamos, com nosso eu, a este amor?"
Revista Hellinger Sciencia, março 2008

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