domingo, 12 de abril de 2015

Os filhos têm direito a tudo que é dos pais?

"Além de nos darem a vida, os nossos pais dão-nos também outras coisas. Alimentam-nos, animam-nos, cuidam de nós, e muito mais. Isto funciona bem quando a criança aceita o que lhe é dado, tal como lhe é dado. Regra geral, as crianças só aceitam o que necessitam, do que lhes é oferecido. Naturalmente há as excepções que nós todos compreendemos, mas regra geral, o que os pais dão aos seus filhos é o suficiente. Os filhos não podem ter tudo o que querem e nem todos os sonhos são realizados, mas normalmente, os filhos recebem bastante.

É consistente com as ordens do amor quando os filhos dizem aos seus pais, "vocês deram-me bastante, e é suficiente. Eu aceito isso de vós com apreciação e amor." Um filho que sinta isso, sente-se cheio e próspero, não importa o que pode ter ido antes. Tal filho poderia adicionar, "eu cuidarei do resto." Esta também é uma bonita experiência. E o filho poderia adicionar, "agora deixo-os em paz." O efeito destas frases é muito profundo. Os filhos têm os seus pais, e os pais têm os seus filhos. São simultaneamente separados e tornam-se independentes. Os pais terminaram o seu trabalho, e os filhos são livres para viver as suas vidas com respeito para com seus pais, sem serem dependentes deles.

Mas sinta o que se passa na alma quando você imagina os filhos a dizerem aos seus pais, "o que vocês me deram, primeiro, não foi a coisa certa, e segundo, não foi o suficiente. Vocês ainda me devem." O que é que os filhos recebem dos seus pais quando sentem desta maneira? Nada. E o que é que os pais recebem dos seus filhos? Também nada. Tais filhos não podem separar-se dos seus pais. Suas acusações e pedidos amarram-nos aos seus pais de modo que, embora estejam limitados a eles, não têm nenhum progenitor. Sentem-se então vazios, necessitados e fracos.

Esta é a segunda Ordem do Amor, que os filhos tomem o que os seus pais lhes dão para além da vida como ela é.

MEDIDA DO FILHO
Adicionalmente à vida que os pais dão aos seus filhos, e ao que quer que seja que lhes dão enquanto os criam, há também os presentes que os pais dão, do que acumularam com os seus próprios esforços. Por exemplo, uma mãe é uma prendada pintora que pinta os quadros mais maravilhosos. Isto pertence a ela e não aos seus filhos. Se os seus filhos ficarem decepcionados porque não conseguem pintar quadros tão belos - embora não tenham o seu talento e não trabalhassem tão arduamente como ela - eles violam as Ordens do Amor. Não é assim que a vida funciona. O mesmo aplica-se à riqueza material. Os filhos que se sentem herdeiros da riqueza dos seus pais, e ficam decepcionados quando não o são, danificam o amor. Se herdarem a riqueza, então o amor estará bem servido quando a tratam puramente como uma dádiva.

Isto é importante porque se aplica também à culpa pessoal dos nossos pais. A culpa pessoal dos nossos pais pertence-lhes a eles, sozinhos. Acontece frequentemente que os filhos, sem o amor de seus pais, tomam a culpa deles e tentam carregá-la. Mas isto viola as Ordens do Amor. Tais filhos tentam presunçosamente fazer algo que não têm direito nenhum de fazer. Por exemplo, quando os filhos tentam expiar os erros dos pais, colocam-se acima de seus pais e tratam-nos como se os pais fossem crianças de que necessitam de tomar conta, e como se os filhos fossem os pais.

Não há muito tempo havia uma mulher num grupo cujo pai era cego e a mãe surda. Eles compensavam-se um ao outro muito bem. Mas a mulher sentiu que necessitava de cuidar dos pais, e quando nós construímos a sua constelação familiar, o seu representante agiu como se fosse grande e seus pais pequenos. Na constelação, a mãe disse-lhe que, "até que o teu pai queira, eu posso cuidar dele sozinha." E o pai disse-lhe que, "a tua mãe e eu estamos bem sozinhos. Não necessitamos de ti." Mas a mulher ficou mais decepcionada do que aliviada. Foi reduzida ao tamanho de filha, de criança.

Não conseguia dormir nessa noite. De fato, sofria de insonias. No dia seguinte, perguntou-me se eu a poderia ajudar. Eu disse, "as pessoas que não conseguem dormir às vezes acreditam que necessitam de vigiar algo." Então eu contei-lhe uma história de Borchert sobre um menino em Berlim após a guerra. Ele vigiava dia e noite o corpo morto do irmão para que os ratos não o comessem. Embora estivesse completamente esgotado, estava convencido que era obrigado a manter-se de vigia. Um homem caridoso veio ter com ele e disse-lhe, "de noite os ratos dormem." Então o menino caiu adormecido. Nessa noite, a mulher também dormiu.

A terceira Ordem do Amor entre pais e filhos é que respeitamos o que pertence aos nossos pais pessoalmente, e permitimos que façam o que somente eles, podem e devem fazer.

TOMANDO E DESAFIANDO
A quarta Ordem do Amor entre pais e filhos é que os pais são grandes e os filhos são pequenos. É apropriado que os filhos aceitem e os pais dêem. Porque os filhos recebem tanto, têm necessidade de balançar a conta. Faz-nos sentir incômodos quando aceitamos daqueles que amamos sem poder retribuir. Com os nossos pais nunca podemos corrigir o desequilíbrio porque eles dão sempre mais do que nós podemos retribuir.

Alguns filhos fogem da pressão da reciprocidade, da sensação de obrigação ou de culpa. Então dizem, "eu prefiro não receber nada e sentir-me livre da culpa e obrigação." Tais filhos fecham-se aos seus pais e sentem-se vazios e empobrecidos. O amor seria melhor servido se eles dissessem, "aceito tudo o que me derem com amor." Então poderiam olhar amorosamente para os seus pais, e os pais poderiam ver como os seus filhos eram felizes. Esta é uma maneira de aceitar, que consegue equilibrar, porque os pais sentem reconhecimento por este tipo de aceitação, com amor. E dão ainda de maior boa vontade.

Quando os filhos exigem, "vocês devem dar-me mais", então os corações dos pais fecham-se. Porque os filhos exigem, os pais não podem mais inundá-los voluntariamente de amor. É tudo o que essas exigências conseguem, elas proíbem o fluxo natural do amor. E os filhos exigindo, mesmo quando conseguem algo, não lhe dão valor.

RECIPROCIDADE
Entre pais e filhos, a reciprocidade em dar e receber é conseguida dando uns aos outros o que recebemos. Isto faz os pais muito felizes quando os filhos dizem, "eu recebo tudo o que me dás, e quando for grande, passá-lo-ei para os meus filhos." Os filhos não olham para trás quando dão desta maneira, eles olham em frente. Foi o que os seus pais fizeram, eles receberam dos próprios pais e deram aos seus filhos. Porque receberam tanto, sentem-se pressionados para dar abundantemente, e podem fazer isso.

É isto o que eu quero dizer sobre as Ordens do Amor entre pais e filhos."
Bert Hellinger 
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É impressionante o que nos acontece quando fazemos a compreensão destas Ordens do Amor. 
Respeitar os pais como eles são, sem reivindicações, exigências...nos torna grande e próspero em todas as areas de nossas vidas ( familiar, profissional, financeiro etc...) 
Sempre que temos dificuldades financeiras , por exemplo, é devido a falta de gratidão à tudo que temos e recebemos.
Poucas pessoas agradecem ao corpo que têm, ao perfeito funcionamento dele e de seus órgãos.
Nas Constelações aparece muito como origem de problemas de relacionamento, por exemplo, a falta de gratidão/aceitação dos pais.
Pense nisso....e boa semana!
Tais

2 comentários:

  1. Seu post foi muito pertinente ao momento que vivo com minha mãe de 82 anos. Muitas vezes eu a trato como criança, porém ao desistir da vida eles entregam suas vidas aos filhos de tal maneira que nos vemos na condição de Pais deles . Obrigada pelo post. Vou ler e reler com carinho.

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  2. Obrigada...
    Podemos cuidar dos pais sem fazê-los crianças, com amor, respeitando esta ordem. Quando desrespetamos esta ordem acarretamos consequencias para nós mesmos...Bom dia

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