domingo, 23 de fevereiro de 2020

Constelações - coletânia de textos 2

Resultado de imagem para imagem constelação familiar e organizacional
O OLHAR SISTÊMICO

A Constelação Familiar e Sistêmica é um conhecimento que olha para influências pessoais que surgem do vínculo a um grupo, seja ele familiar, profissional ou de qualquer outro tipo.

Considerar o sistema e suas atribuições significa que o todo NÃO pode ser explicado a partir da análise separada de cada elemento.

Na verdade, na inter-relação entre seus integrantes, uma realidade maior surge, estando esta além para a simples soma da contruibuição individual de cada integrante.

Esta análise é especialmente válida no trabalho da Consultoria Organizacional Sistêmico-Dinâmica, onde o conhecimento da Constelação Sistêmica é aplicado para análise de emaranhamentos profissionais.

Em uma empresa, a simples identificação do indivíduo que acarreta o problema e a aplicação de uma solução direcionada geralmente não resolve a dificuldade. O olhar precisa ampliar para encontrar o motivo sistêmico que permite a manifestação de um sintoma empresarial.

É nesse novo olhar, que a Constelação Organizacional auxilia no diagnóstico e na busca de soluções.

“O todo é mais do que a soma dos elementos. As propriedades sistêmicas são mais – e pode-se até dizer que são algo distinto – do que a mera adição de seus elementos. As propriedades de um sistema não podem ser concluídas a partir da análise dos respectivos elementos, elas só são acessíveis quando o sistema como um todo é considerado na inter-relação entre as suas partes.” (trecho de Klaus Grochowiak e Joachim Castella, no livro “Constelações Organizacionais – Consultoria Organizacional Sistêmico-Dinâmica).
Sobre as informações que surgem e as que permanecem ocultas no trabalho da Constelação Familiar.

Por Bert Hellinger, No livro “A fonte não precisa perguntar pelo caminho”.

“A família tem uma memória. O que dela vem à luz nos é presenteado. Mas ainda estão presos a ela o escuro e o oculto do qual vêm.

Isto é, o seu essencial nos permanece oculto, por exemplo, o seu “de onde” e o “para onde”.

Não só nos permanece somente oculto, mas também em segurança, isto é, subtraído ao nosso acesso. Por isso, podemos e nos é permitido dispor dele somente quando se mostra, e nós paramos aí, onde nos é ocultado.

Por isso, o que veio à luz não trai o oculto e nem aquilo que está em segurança, somente nos é mostrado por ele de maneira limitada.

Nossas opiniões se colocam na frente do que vem à luz, encobrindo-o. A opinião, tão logo a tenhamos formado, nos permite permanecer no subjetivo e por isso bloqueia o conhecimento.

Ao contrário, o que veio à luz nos força ao desconhecido, insólito e novo. Quando nos concentramos neste trabalho, então nos concentramos naquilo que permanece oculto, atrás do que quer vir à luz.

Nós nos submetemos não somente ao que vem à luz, mas também àquilo que permanece oculto e a tudo aquilo que se manifestou e que volta a imergir.

Por isso, estamos em harmonia com os dois movimentos e nos submetemos a ambos. Este trabalho deixa aparecer o essencial e, por isso, não se limita ao que está em primeiro plano, por exemplo, à cura de uma doença.

Por isso, ele é em sua essência mais do que simples psicoterapia.”

CONSTELAÇÕES FAMILIARES: FILOSOFIA APLICADA

“Vou esclarecer com um exemplo:
Um cliente reclama de seus pais ou reclama do que ele ou ela vivenciou de ruim na infância.

Originalmente tínhamos pena desse cliente e pensávamos: ‘Vamos ajudá-lo’. Mas se penso filosoficamente, através do espírito, não existe nada de ruim. Isso não pode existir.

Se atrás de tudo atua uma força criativa, não existe nada que possa contradizer isso.

Portanto, agora olho filosoficamente para essa situação e peço ao cliente que ele também veja a sua situação filosoficamente e que diga: ‘Não importa o que tenha sido: obrigado. Tomo isso como uma força. Eu tomo esses pais como pais especiais, que me dão forças especiais e essenciais para a minha vida’.

De repente, tudo o que aconteceu se transfigura.
Fica preciso.

Como o terapeuta se comporta então?
Ele já não é mais um terapeuta, é agora, na verdade, um filósofo.
Ele não tem nenhum pesar.
Pelo contrário, concorda também com aquilo que é ou que foi.
Com isso são liberadas forças que ultrapassam a psicoterapia”.

PARA ENTENDER A CONSTELAÇÃO FAMILIAR

Algumas pessoas estranham o termo “Constelação Familiar” e isto é bem natural.

Aqueles que não conhecem os estudos de Bert Hellinger sobre os relacionamentos humanos e as influências do sistema familiar sobre os seus integrantes, acham que se trata de algo místico.

Por isso, geralmente é um desafio falar da Constelação Familiar de Hellinger para aqueles que nunca participaram de uma vivência.

Então, para fim de explicação e buscando facilitar o entendimento, vamos usar aqui neste post um termo mais diretamente relacionado com o objeto deste trabalho. Usaremos “Posicionamento Familiar” no lugar de Constelação Familiar.

O “Posicionamento Familiar” (Constelação Familiar) é uma dinâmica terapêutica com o objetivo de observar como membros de uma família se relacionam em um sistema.

Dadas algumas regras que regem o sistema familiar, como descobriu o psicoterapeuta Hellinger, ao fazer o “Posicionamento familiar” com base numa questão trazida pelo cliente, é possível verificar onde está a possível fonte da identificação do cliente com seu sistema e que se manifesta como dificuldade em sua vida.

Essa dinâmica fica clara para o cliente, servindo como um rápido diagnóstico e incitando mudanças. Como é uma experiência que se manifesta em seu corpo, a compreensão é muito mais rápida e efetiva, diferente por exemplo, da terapia onde o cliente fala sobre suas questões.

Outras teorias também se propõem a explicar outros resultados da Constelação, que vão para além do trabalho com o cliente.

Como estas informações que transparecem no “Posicionamento Familiar” advém do inconsciente familiar do cliente, este também é impactado, gerando movimentos em todo o sistema.

O trabalho de Hellinger é impressionante e tem encontrado resultados expressivos em todo o mundo, já sendo aplicado há mais de 40 anos.

Hoje, este conhecimento se expande para todo local onde há relações sistêmicas, como na Administração, na Saúde, na Pedagogia e no Direito.

Lembre-se: “Posicionamento Familiar” é um sinônimo de “Constelação Familiar”.

Neste texto apenas mudamos para auxiliar uma compreensão mais racional, sem a barreira “mística” (e inexistente) que o nome original em português as vezes desperta nas pessoas que não o conhecem.

CONSTELAÇÃO FAMILIAR: UMA TERAPIA BREVE
Por Bert Hellinger

“Terapias breves se destacam porque, partindo da multiplicidade do possível, direcionam-se ao essencial.

Chegam direto ao assunto, ao centro, à raiz.

Com efeito, as constelações familiares também são terapias breves porque trazem à luz, em poucos passos, o que estava, até então, oculto e, assim, as soluções com frequência emergem, espontaneamente.

Uma constelação familiar dura, via de regra, de 20 a 50 minutos.

Isto é bem breve, quando se pensa o quanto vem à luz e quão amplos são os resultados.

Entretanto, ela traz toda a família para seu campo de visão, incluindo muitas pessoas na solução.

Trata-se de soluções no sentido literal ou de um movimento interrompido em direção à mãe ou ao pai que estava impedido ou interrompido, até aquele momento; ou trata-se de olhar para uma realidade até então não percebida, porque se tinha medo dela. Aqui, o terapeuta deixa o cliente ver sem rodeios essa realidade e deixa que ela mostre a solução.”

A REPETIÇÃO COMO FORMA DE EXPIAR ALGO DIFÍCIL
por Bert Hellinger, no livro “Ordens do amor”

“A expiação é uma forma de compensação, e por sinal, uma compensação cega. Existe uma lei natural que busca sempre compensar um desequilíbrio.

Essa lei atua igualmente na psique, onde também busca sempre compensação. Assim, a expiação é uma tentativa de compensar alguma coisa instintivamente.

Muitas vezes ela funciona de um modo que escapa do controle do indivíduo.

Há, porém, uma forma de libertar-se do contexto instintivo e de compensar de acordo com uma ordem superior, que chamo de ordem do amor.

Ela se encontra em um nível superior e leva a compensar de uma forma que dispensa a expiação.”

A forma de cessar a expiação é olhando para a realidade com respeito, lidando com a responsabilidade que lhe cabe. Assim, nos liberamos e liberamos os outros em relação a este acontecimento.

Coletânea de textos que professores do Ipe Roxo escreveram e compartilharam -  https://iperoxo.com/
**********
Os conteúdos da Constelação Sistêmica Familiar são profundos e somente a prática, o centramento do constelador e a permissão do sistema do cliente é que nos permite " olhar  para o que há".
Obtive uma resposta muito positiva com relação aos dois textos que republiquei do Ipe Roxo, em meu blog.
Sempre me sinto realizada quando vem à tona a compreensão aos que me seguem, embora em quase nada dependa de mim ( e sim do cliente e de seu sistema). Eu apenas colaboro.
Uma ótima semana com um carnaval da forma que lhe for melhor.
Tais


domingo, 16 de fevereiro de 2020

Constelações- coletânia de textos 1

Resultado de imagem para terapeuta e cliente constelação individual
O LUGAR DE CADA UM NO SISTEMA FAMILIAR
Cada integrante de nosso sistema familiar, quando nasce, garante naquele momento seu lugar na familiar. Este lugar é bem claro: ele é depois de todos que vieram antes e antes de todos os que virão depois.

Este lugar não pode ser trocado em hipótese nenhum. Da mesma forma, este lugar não pode ser ocupado por outros de nenhuma maneira.

Ainda assim, o movimento de quebra da ordem familiar é um dos mais comuns observados na Constelação Familiar.

E como se quebra a ordem?

Quando me julgo superior aos pais, quando interfiro nos problemas dos outros, quando me intrometo em assuntos que não me pertencem.

Hellinger escreveu em seu livro “Ordens do amor”: “Quando alguém atenta contra a ordem de origem, quando, por exemplo, um filho se arroga o direito de saber e julgar o que se passa entre os pais, ele se coloca acima deles.

Sempre que acontecem processos trágicos em sistemas, como acidentes graves, suicídios e coisas semelhantes, trata-se de consequências da transgressão da ordem. Alguém em posição posterior colocou-se no lugar de alguém em posição anterior, e consequentemente reage com uma necessidade inconsciente de fracassar, ficar infeliz ou morrer.”

Permanecer em seu lugar, assumindo suas responsabilidade, limites e também sua própria liberdade resulta em uma vida leve. E nisso, a Constelação Familiar pode ajudar.

CONSTELAÇÃO FAMILIAR NÃO É MÁGICA

Há um componente muito importante para os bons resultados de uma Constelação Familiar: a responsabilidade pessoal.

É através dela que o cliente consegue se apropriar do que foi visto na Constelação e partir para a ação e para as possibilidades que se abrem após um trabalho com as Constelações Familiares.

Mas isso também tem um custo: sair do papel de vítima e dizer sim aos erros, e também aos acertos. É ver a realidade, com tudo que a compõe.

Isso dá força, algo muito próprio que nos direciona para uma vida mais leve e madura.

A Constelação Familiar encontra aqui também um desafio: a medida que este conhecimento se difunde, muitas pessoas chegam nele querendo terceirizar essa responsabilidade.

Sim, há ação do campo familiar e há reflexos em todo o sistema. Mas sem uma postura realmente madura diante da própria realidade em relação às dores, aos insucessos, ao que é difícil, os efeitos verificados na Constelação se perdem.

Isso porque, ainda que inconsciente, somos os maiores agentes de acontecimentos (bons e ruins) em nossa vida. E se não tomarmos a possibilidade de mudança como nossa responsabilidade, nós iremos, novamente, criar o ambiente para que certos situações difíceis voltem a acontecer.

Constelação Familiar não é mágica. É uma chance de ver e aceitar o nosso lugar e nosso papel no nosso sistema familiar. Com a postura certa, nos auxilia a assumir a responsabilidade que nos pertence e assim tomar as atitudes necessárias para caminhar adiante.

O QUE FAZER COM A IMAGEM DE UMA CONSTELAÇÃO FAMILIAR?

Pergunta para Bert Hellinger e sua resposta no livro “A fonte não precisa perguntar pelo caminho”

Um PARTICIPANTE perguntou à HELLINGER: “Você sempre traz à luz que estamos metidos em certas lealdades no seio de nossa família. Tem-se, nesse ponto, aonde essas lealdades vem à luz, uma chance de se liberar delas, quando se reconhece que não são boas para si?”

HELLINGER então o responde: “Nem sempre. Às vezes, a lealdade é tão forte que a solução não é possível. A solução exige uma despedida da família e a disposição de ser independente.

Isso está ligado a um sentimento de solidão. Por isso, o passo é tão grande. É necessária, portanto, uma transformação interna, um processo de amadurecimento, frequentemente, também algo assim como uma consumação espiritual em direção a algo maior.

Então, isso tem êxito. Quem não tem antenas para isso, quem, por exemplo, quer fazê-lo mecanicamente, não tem êxito. Funciona melhor quando se olha aquilo que vem à luz, concorda-se com isso assim como é e, então, deixa-se que a própria alma dirija, sem ser muito ativo.”

Este é um dos desafios após uma constelação. Temos que aceitar o tempo do nosso centramento ao mesmo tempo que assumimos a responsabilidade por nossas ações.

A Constelação Familiar não é mágica. Ela exige bastante mudanças daqueles que chegam até ela. Porém, os resultado tem se mostrado muito eficiente para todos aqueles que desejam e se comprometem realmente consigo mesmo no movimento das mudanças.

PORQUE REPETIMOS?

Você sabe porque repetimos as situações difíceis do nosso sistema familiar?

O conhecimento trazido pela constelação fala de como recebemos influências dos acontecimento difíceis de nossa rede familiar, mesmo de pessoas que sequer tivemos convivência.

Isso acontece pelo nosso vínculo familiar, pela lealdade e amor (muitas vezes inconscientes) que temos com todos aqueles que pertencem ao nosso sistema, em especial em um espaço de 4 gerações.

Hellinger, pioneiro neste conhecimento, escreveu no livro “Ordens do Amor”:

“Na comunidade de destino, constituída pela família e pelo grupo familiar, reina portanto, em razão do vínculo e do amor que lhe corresponde, uma necessidade irresistível de compensação entre vantagens de uns e as desvantagens de outros, entre a inocência e a sorte de uns e a culpa e a desgraça de outros, entre a saúde de uns e a doença de outros, e entre a vida de uns e a morte de outros.

Em razão dessa necessidade, se uma pessoa foi infeliz, uma outra também quer ser infeliz; se uma ficou doente ou se sente culpada, uma outra, saudável ou inocente, também fica doente ou se sente culpada; e se uma morreu, outra, próximo a ela, também deseja morrer.”

Nesse movimento inconsciente, somos levados à repetição do que é difícil. Porém, entrar em contato com esta identificação e olhar com amor e respeito para o que foi difícil nos permite liberar do amor cego e seguir para uma vida mais leve.

É isso que a Constelação Familiar oferece. Um conhecimento que nos auxilia a seguir adiante para além das dificuldades.

A FORÇA DO VÍNCULO
Por Bert Hellinger

Por efeito do vínculo, os membros subsequentes e mais fracos da família querem segurar os antecedentes e mais fortes para que não se vão, ou pretendem segui-los se já partiram. Também por efeito do vínculo, os membros que obtiveram vantagem querem assemelhar-se aos que ficaram em desvantagem.

Assim, filhos saudáveis querem assemelhar-se a pais doentes e filhos inocentes a pais culpados. O vínculo faz ainda com que membros da família com boa saúde se sintam responsáveis por membros doentes, inocentes por culpados, felizes por infelizes e vivos por mortos. Assim, pessoas que se sentem em vantagem se dispõem também a arriscar e oferecer sua saúde, inocência, vida ou felicidade pela saúde, inocência, vida ou felicidade dos outros. Pois alimentam a esperança de que, renunciando à própria vida e à própria felicidade, poderão assegurar ou salvar a vida e a felicidade de outros membros dessa comunidade de destino, restituindo e recuperando a vida e a felicidade deles, mesmo que tenham sido perdidas.

Na comunidade de destino, constituída pela família e pelo grupo familiar, reina, portanto, em razão do vínculo e do amor que lhe corresponde, uma necessidade irresistível de compensação entre a vantagem de uns e a desvantagem de outros, entre a inocência e a sorte de uns e a culpa e a desgraça de outros, entre a saúde de uns e a doença de outros, e entre a vida de uns e a morte de outros. Em razão dessa necessidade, se uma pessoa foi infeliz, uma outra também quer ser infeliz; se uma ficou doente ou se sente culpada, uma outra, saudável ou inocente, também fica doente ou se sente culpada; e se uma morreu, outra, próxima a ela, também deseja morrer.

Dessa maneira, no interior dessa estreita comunidade de destino, o vínculo e a necessidade de compensação levam ao equilíbrio e à participação na culpa e na doença, no destino e na morte de outros. Com isso, tenta-se pagar a salvação do outro com a própria desgraça, a cura do outro com a própria doença, a inocência do outro com a própria culpa ou expiação, e a vida do outro com a própria morte.
Coletânea de textos do Ipe Roxo ( https://iperoxo.com/ )
********
Muitos textos já foram publicados aqui no blog, mas sempre é bom relembrar... e aos que estão chegando agora e tomando contato com este trabalho amoroso e transformador, esclarecerá.
Boa semana à todos.
Tais

domingo, 2 de fevereiro de 2020

Gota no oceano


Para o budismo a ideia não é exatamente que, quando morremos, a gota volta para o oceano. A compreensão é a de que a gota nunca sai do oceano.

Nós somos oceano e cada vida nossa é como se fosse uma onda. Essa onda que nós geramos com a nossa vida, quando termina naquela mar ou linha à beira-mar, dá origem a outra onda, mas não a mesma. O budismo não fala de alma, mas diz que esse ser que termina naquela marola, no corpo que não serve mais, cria causas e condições para outra onda se formar. Não é a mesma onda, embora tenha uma conexão profunda com a primeira.

O que acontece após a morte é que podemos ir para inúmeros universos, dependendo do carma que produzimos durante a vida: se fizemos coisas boas, médias ou más. Os resíduos cármicos produzem uma tendência de nascimento - e não se fala em reencarnação - em determinado nível, que pode ser de sofrimento ou de alegria. Voltamos então ao mais importante ensinamento budistas: onde quer que você tenha nascido e onde quer que você esteja agora, estará sempre no momento de transformação do seu carma. A partir da morte, corpo e mente se desintegram, mas os resíduos cármicos causam uma continuidade de consciência que reverbera em uma mente nascente em outro ser.

Portanto, seres renascidos não são completamente distintos nem completamente iguais a seus ancestrais. E esse é um contraste com o conceito induísta de atman (do sânscrito, " alma"), um "eu" transcendente que reencarnar, a ideia de uma alma fixa e permanente, imutável, que passa de uma vida a outra, como se não modificasse. Xaquiamuni Buda, porém, veio a desvendar que tudo é transformação em movimento, ou seja, anatman (em páli, anata), literalmente, "não eu". Significa que não existe um eu permanente e imutável nos elementos que compõem universo. Tudo está em constante transformação, em estado de fluxo, estamos todos interligados e interdependentes, não somos personalidades independentes e imutáveis.

Aliás, para o budismo, a noção de um eu permanente é uma das principais causas das guerras e conflitos na história humana. Sobre a noção de anatta, "não eu", podemos ir muito além dos anseios mundanos. Resumindo, hinduísmo e budismo entendem que a continuidade entre vidas, mas o hinduísmo considera um e o que reencarna imutável (atman), enquanto o budismo conclui que existe apenas tendências e processos mentais que renasce (anatman).

O budismo compreende que, por 49 dias após a morte, o espírito está em processo incessante de transformação. Esse período é como uma segunda metade de uma circunferência - a primeira metade do tempo de vida, não importando se o ser teve apenas dias de vida, se morreu ainda dentro do útero ou centenário. Para o budismo a outra metade compreende 49 dias, e celebra-se o 49º dia de falecimento, pois é nesse dia que se completam ciclo vida/morte. No budismo tibetano, são 49 bardos(etapas) pelos quais se tem de passar para poder ter um renascimento, para terminar esse ciclo de vida/morte.

Não existe um inferno eterno nenhum céu eterno. Tudo é transitório. Para o budismo japonês, a morte é um renascer. E você vai renascer de acordo com suas tendências cármicas. Ou seja, não é mais você, mas essa outra vida que se transforma está baseada nas impressões deixadas pela última.
Monja Voen- Revista Bons Fluidos 
**********
A única pergunta que suscita aqui é: O que estou deixando/criando para os futuros membros de minha família?

Podemos aprender com culturas diferentes sobre os ciclos da vida e momentos que marcam os inícios de uma jornada. Basta dedicar um olhar mais atento ao que a vida vem nos mostrando como determinante para a renovação...

Na verdade, estar "aberto" pra tudo o que há... pois as respostas estão sempre a nossa frente, nós é que não as vemos porque estamos cheios de crenças e verdades absolutas.
Assim como a vida e a natureza, as nossas verdades também são impermanentes, mas queremos sempre o definitivo, para que possamos nos "acomodar"... afinal é sempre incômodo empreender uma mudança. 
Quando ouço ou percebo algo novo e que vem ao encontro daquilo que necessito...não é o outro... sou eu que me abri pra ver/ouvir. As respostas sempre estiveram aí!
Boa semana
Tais