domingo, 27 de setembro de 2020

Não dá para acreditar: eu sou feliz

"Meu médico insistiu para que eu viesse vê-lo', disse o paciente ao psiquiatra. 'Não sei o porquê - pois eu sou feliz no casamento, tenho segurança no meu trabalho, muitos amigos, nenhum problema...' 'Hmmmm,' disse o psiquiatra, procurando por seu caderno de anotações, 'e há quanto tempo você vem se sentindo assim?'

"Felicidade não é algo fácil de se acreditar. Parece que o homem não pode ser feliz. Se você falar sobre sua tristeza, depressão e miséria, todo mundo irá acreditar. Isso parece ser natural. Mas se você falar sobre a sua felicidade, ninguém acreditará em você - isso parece ser não-natural.
Sigmund Freud, depois de quarenta anos de pesquisas a respeito da mente humana, trabalhando com milhares de pessoas, observando milhares de distúrbios mentais, chegou à conclusão de que a felicidade é uma ficção: o homem não pode ser feliz. No máximo, nós podemos fazer coisas um pouco mais confortáveis, e isso é tudo. No máximo, nós podemos tornar a infelicidade um pouco menor, e isso é tudo. Mas, feliz, o homem não pode ser.
Isso parece ser muito pessimista, mas se olharmos para o homem moderno, veremos que é exatamente assim; parece que isso é um fato.

Buda diz que o homem pode ser feliz, tremendamente feliz. Krishna canta canções sobre a felicidade suprema - satchitanand. Jesus fala a respeito do Reino de Deus. Mas como você pode acreditar em tão poucas pessoas, as quais podemos contar nos dedos, contra toda a massa, milhões e milhões de pessoas ao longo dos séculos, que permanecem infelizes, caminhando mais e mais em direção à infelicidade. Toda a vida dessas pessoas é uma história de miséria e nada mais. E depois vem a morte! Como acreditar naquelas poucas pessoas?

Ou elas estão mentindo, ou elas estão enganadas. Ou elas estão mentindo por algum motivo, ou elas são meio malucas, enganadas pelas próprias ilusões. Elas devem estar vivendo para satisfazer um desejo. Elas queriam ser felizes e começaram a acreditar que elas eram felizes. Mais do que um fato, isso parece uma crença, uma crença desesperada, Mas como aconteceu dessas poucas pessoas se tornarem felizes?
Se você deixar o homem de lado, se você não prestar muita atenção ao homem, então Buda, Krishna, Cristo irão parecer que são mais verdadeiros. Se você olhar para as árvores, se você olhar para os pássaros, se você olhar para as estrelas, então verá que tudo está vibrando em tremenda felicidade. Parece que a felicidade é a matéria-prima com a qual a existência é feita. E somente o homem é infeliz.

No fundo, alguma coisa está errada.

Buda não está enganado, nem está mentindo. E eu digo isso a você, não com base na autoridade da tradição; eu digo isso a você com base na minha própria autoridade. O homem pode ser feliz, mais feliz que os pássaros, mais feliz que as árvores, mais feliz que as estrelas, porque o homem tem algo que nenhuma árvore, nenhum pássaro, nenhuma estrela tem. O homem tem consciência.
Mas quando você tem consciência, então duas alternativas são possíveis: ou você pode tornar-se infeliz, ou você pode tornar-se feliz. A escolha é sua. As árvores simplesmente estão felizes porque elas não podem ser infelizes. A felicidade delas não é liberdade; elas têm que ser felizes. Elas não sabem como ser infelizes, não existe outra alternativa.
Esses pássaros gorjeando nas árvores, eles são felizes. Não porque eles tenham escolhido ser felizes; eles simplesmente são felizes porque eles não conhecem outra maneira de ser. A felicidade deles é inconsciente. Ela é simplesmente natural.

O homem pode ser tremendamente feliz, e tremendamente infeliz. Ele é livre para escolher. Essa liberdade é um risco. Essa liberdade é muito perigosa, porque você se torna responsável. E algo aconteceu com essa liberdade. Alguma coisa está errada. O homem está, de uma certa maneira, de cabeça para baixo.
Você veio até a mim, procurando por meditação. A meditação é necessária somente porque você não escolheu ser feliz. Se você tivesse escolhido ser feliz, não haveria nenhuma necessidade de meditação. 

A meditação é medicinal: se você está doente, então o medicamento é necessário. Os Budas não precisam de meditação. Uma vez que você começou a escolher a felicidade, uma vez que você decidiu que você tem que ser feliz, então nenhuma meditação é necessária. A meditação começará a acontecer naturalmente, por ela mesma.
A meditação é uma função do estar feliz. A meditação segue o homem feliz como uma sombra: em qualquer lugar que ele for, qualquer coisa que ele estiver fazendo, ele estará meditativo. Ele estará intensamente centrado.

A palavra 'meditação' e a palavra 'medicação' têm a mesma raiz; e isso é muito significativo. A meditação também é medicinal. Você não carrega vidros de remédios nem receitas médicas se você estiver com saúde. Naturalmente, quando você não está com saúde, você tem que ir ao médico. Ir ao médico não é uma grande coisa para ficar fazendo alarde. A pessoa deve se sentir feliz se o médico não for necessário.

Existem muitas religiões, porque existem muitas pessoas infelizes. Uma pessoa feliz não precisa de religião. Uma pessoa feliz não precisa de templo, nem de igreja, porque para uma pessoa feliz, todo o universo é um templo, toda a existência é uma igreja. Uma pessoa feliz não tem nada parecido com uma atividade religiosa, porque toda a sua vida já é religiosa.

Qualquer coisa que você fizer com felicidade será uma prece; seu trabalho se tornará um culto, a sua própria respiração terá um esplendor, uma graça. Não que você repita constantemente o nome de Deus - somente as pessoas tolas fazem isso - porque Deus não tem nome algum, e por repetir algum suposto nome você simplesmente tornará estúpida a sua mente. Por repetir o Seu nome você não irá a lugar algum. Um homem feliz simplesmente vê Deus em todo lugar. E você precisa de olhos felizes para ver Deus.

Se você quer ser feliz, então comece a fazer escolhas naturais. Há muitas ocasiões em que você terá que ser desobediente - seja! Haverá muitas ocasiões em que você terá que ser rebelde - seja! Não há nenhum desrespeito implícito nisso. Seja respeitoso com seus pais. Mas lembre-se de que a sua mais profunda responsabilidade é com o seu próprio ser.
Todo mundo está sendo empurrado e manipulado. Ninguém sabe qual é o seu destino. O que você realmente sempre quis fazer, foi deixado de lado. E como você pode ser feliz? Alguém que poderia ter sido um poeta, tornou-se simplesmente um emprestador de dinheiro. Alguém que poderia ter sido um pintor, tornou-se um médico. Alguém que poderia ter sido um médico, um belo médico, é agora um homem de negócios. Todo mundo está fora do lugar. Todo mundo está fazendo alguma coisa que nunca quis fazer; daí a infelicidade.

A felicidade acontece quando a sua vida se encaixa com o que você é, quando se encaixa tão harmoniosamente que qualquer coisa que você fizer será pura alegria. Então, de repente, você descobrirá que a meditação segue você. Se você ama o trabalho que está fazendo, se você ama a maneira como está vivendo, então você está meditativo. Então nada irá desviar você. Quando você se desvia de certas coisas, isso simplesmente demonstra que você não está realmente interessado naquelas coisas.

Nós temos nos desviado por motivos não naturais: dinheiro, prestígio, poder. Ouvir o pássaro cantar não vai lhe dar dinheiro. Ouvir o pássaro cantar não vai lhe dar poder e prestígio. Observar uma borboleta não irá ajudá-lo economicamente, politicamente, socialmente. Essa coisas não lhe trarão remuneração, mas essas coisas irão fazê-lo feliz.

Uma pessoa verdadeira tem coragem de se voltar para as coisas que a fazem feliz. Se com isso ela permanecer pobre, ela permanecerá pobre; ela não reclamará disso, ela não guardará nenhum rancor. Ela dirá: 'Eu escolhi o meu caminho, eu escolhi o cantar dos pássaros e as borboletas e as flores. Eu posso não ser rico, tudo bem, mas eu sou rico porque eu sou feliz.'
Esse tipo de homem não necessita de qualquer método para se centrar, por que não é preciso, ele está centrado. Seu centramento está por toda a sua vida. Vinte e quatro horas por dia ele está centrado.

Em qualquer lugar que você vê dinheiro, você já não é mais você mesmo. Em qualquer lugar que você vê poder e prestígio, você já não é mais você mesmo. Em qualquer lugar que você vê respeitabilidade, você já não é mais você mesmo. Imediatamente você esquece tudo - você esquece os valores intrínsecos de sua vida, a sua felicidade, a sua alegria, o seu deleite.
Você sempre escolhe algo do lado de fora, e você barganha com algo do lado de dentro. Você perde o interior e ganha o lado de fora. Mas o que você vai fazer com isso? Mesmo se você tiver todo o mundo aos seus pés, mas se você tiver perdido a si mesmo; mesmo se você tiver conquistado todas as riquezas do mundo, mas se você tiver perdido seu próprio tesouro interior, o que você fará com tudo aquilo? Essa é a miséria.

Se você puder aprender uma coisa comigo, então que essa coisa seja: esteja alerta, consciente a respeito de seus próprios motivos mais internos, a respeito de seu próprio destino mais interno. Nunca perca você mesmo de vista, de outra maneira você será infeliz. E quando você estiver infeliz, as pessoas irão dizer: 'medite e você se tornará feliz!' Elas dirão: 'Esteja centrado e você se tornará feliz; ore e você se tornará feliz; vá ao templo, seja religioso, seja um cristão ou um hindu, e você será feliz'. Tudo isso é tolice.

Seja feliz! e a meditação virá em seguida. Seja feliz, e a religião virá em seguida. Felicidade é a condição básica. As pessoas se tornam religiosas somente quando elas estão infelizes; então a religião delas é falsa. Tente entender porque você está infeliz.
Muitas pessoas vêm a mim e dizem que elas são infelizes, e elas querem que eu lhes dê alguma meditação. Eu digo: primeiro, a coisa básica é compreender porque vocês estão infelizes. E se vocês não removerem todas as causas básicas de sua infelicidade, eu posso lhes dar uma meditação, mas isso não vai ser de grande ajuda, porque as causas básicas permanecem aí.

Um certo homem poderia ter sido um grande e belo dançarino, mas ele está sentado num escritório arquivando fichas. Sem qualquer possibilidade para a dança. O homem poderia ter curtido dançar sob as estrelas, mas ele segue simplesmente acumulando contas bancárias. E ele diz que está infeliz: 'me dê alguma meditação.' Eu posso dar a ele, mas o que essa meditação irá fazer? O que se espera que ela possa fazer? Ele vai permanecer o mesmo homem: acumulando dinheiro e sendo competitivo no mercado. A meditação poderá ajudar da seguinte maneira: poderá fazer com que ele fique um pouco mais relaxado para seguir fazendo essas tolices, e de uma maneira ainda melhor.

Então, o meu chamado é somente para aqueles que são realmente ousados, aqueles que desafiam o demônio, aqueles que estão prontos para mudar os seus próprios padrões de vida, aqueles que estão prontos para apostar tudo - porque na verdade você nada tem para apostar: somente a sua infelicidade, a sua miséria. Mas as pessoas se agarram até mesmo a isso.
O que mais você tem para apostar? Só a miséria. E o único prazer que você tem é falar a respeito dela. Observe as pessoas falando a respeito de suas misérias: quão felizes elas se tornam! Elas pagam por isso: elas vão aos psicanalistas para falar a respeito de suas misérias - e elas pagam por isso! Alguém as escuta atentamente, e elas se sentem felizes.

As pessoas seguem falando a respeito de suas misérias, repetidamente. Elas até mesmo exageram, elas enfeitam, elas fazem com que as suas misérias pareçam ainda maiores. Elas fazem com que elas pareçam maiores do que a duração de suas vidas. Por que? Você nada tem para apostar. Mas as pessoas se apegam ao conhecido, ao que é familiar. A miséria é tudo o que elas têm conhecido; isso tem sido a vida delas. Nada têm a perder, mas com tanto medo de perder...

Comigo, a felicidade vem primeiro, a alegria vem primeiro. A atitude celebrativa vem primeiro. Uma filosofia afirmativa de vida vem primeiro. Curta! E se você não puder curtir o seu trabalho, mude. Não espere! Porque todo o tempo que você está esperando, você está esperando por Godot. E Godot nunca vem. A pessoa simplesmente espera, e desperdiça sua própria vida. Por quem e por que você está esperando?

Se você puder ver o ponto, que você está miserável dentro de um certo padrão de vida, e que todas as velhas tradições dizem: Você está errado. Eu gostaria de dizer que o padrão é que está errado. Tente entender a diferença na ênfase: Você não está errado! É só o seu padrão, a maneira de viver que você aprendeu é que está errado. As motivações que você aprendeu e aceitou como suas, não são suas. Elas não irão realizar o seu destino. Elas vão contra a sua essência, elas vão contra o que lhe é elementar.

Lembre-se disso: ninguém mais pode decidir por você. Todos os mandamentos deles, todas as ordens deles, todas as moralidades deles, são simplesmente para matar você. Você tem que decidir ser você mesmo. Você tem que tomar sua vida em suas próprias mãos. De outra maneira a vida vai seguir batendo em sua porta e você nunca estará lá; você estará sempre em algum outro lugar.

Se você tinha que ser um dançarino, a vida virá por aquela porta, porque ela pensa que você é um dançarino. Ela bate na porta, mas você não está lá; você é um bancário. E como a vida vai saber que você se tornou um bancário? Deus vem a você da maneira que ele quer você seja; ele conhece apenas aquele endereço. Mas você nunca é encontrado lá, você está sempre em algum outro lugar, escondendo-se atrás da máscara de alguém que não é você, com os trajes de alguém que não é você e usando o nome de alguém que não é você.

Como você espera que Deus possa encontrá-lo? Ele segue procurando por você. Ele sabe o seu nome, mas você abandonou aquele nome. Ele conhece o seu endereço, mas você nunca morou lá. Você permitiu que o mundo desviasse você.

Por que na cabeça de todo mundo surge essa idéia de que a meditação traz felicidade? De fato, sempre que eles encontram uma pessoa feliz, eles encontram uma mente meditativa, essas duas coisas estão associadas. Sempre que eles encontram uma bela atmosfera meditativa circundando um homem, eles sempre descobrem que ele estava tremendamente feliz; vibrante com a alegria, radiante. Essas coisas se tornaram associadas. E eles pensam que a felicidade vem quando você está meditativo. E é exatamente o oposto: a meditação é que vem quando você está feliz.

Mas ser feliz é difícil e aprender a meditar é fácil. Ser feliz significa uma drástica mudança em sua maneira de viver, uma mudança abrupta, porque não há nenhum tempo a perder. Uma mudança súbita, um repentino estrondo de trovão (a sudden clash of thunder), uma descontinuidade.

Isso é o que eu entendo por sânias: uma descontinuidade com o passado. Um repentino estrondo de trovão, e você morre para o velho e então, revigorado, você recomeça do bê-a-bá. Você nasce de novo. Você começa de novo a sua vida, como você começaria se os padrões não tivessem sido impostos a você pelos seus pais, pela sociedade, pelo Estado; como se ninguém tivesse desviado você. Mas você foi desviado. 

Você tem que deixar de lado todos os padrões que foram impostos a você, e você tem que encontrar a sua própria chama interior.
Não se preocupe muito com o dinheiro, porque ele é o maior desvio da felicidade. E a ironia das ironias é que as pessoas pensam que elas serão felizes quando elas tiverem dinheiro. Dinheiro nada tem a ver com felicidade. Se você é feliz e você tem dinheiro, você pode usá-lo para a felicidade. Se você é infeliz e tem dinheiro, você usará aquele dinheiro para mais infelicidades. Porque o dinheiro é simplesmente uma força neutra.

Eu não sou contra o dinheiro, lembre-se. Não me interprete mal. Eu não sou contra o dinheiro, eu não sou contra nada. Dinheiro é um meio. Se você for feliz e você tiver dinheiro, você se tornará mais feliz. Se você for infeliz e tiver dinheiro, você se tornará mais infeliz, por que o que você fará com o seu dinheiro? O dinheiro vai realçar o seu padrão, seja qual ele for. Se você for miserável e tiver poder, o que você fará com o seu poder? Você irá envenenar a si próprio ainda mais com o seu poder, você se tornará mais miserável.

Mas as pessoas seguem atrás do dinheiro como se o dinheiro fosse trazer felicidade. As pessoas seguem procurando por respeitabilidade como se respeitabilidade fosse lhe dar felicidade. As pessoas estão prontas a qualquer momento, para mudar os seus padrões, para mudar os seus caminhos, desde que haja mais dinheiro disponível em algum outro lugar.
Uma vez que o dinheiro esteja ali, então de repente você não é mais você mesmo, você está pronto para mudar.

Esse é o caminho do homem mundano. Eu não digo que pessoas mundanas são aquelas que têm dinheiro. Eu chamo de pessoas mundanas aquelas que mudam os seus motivos por causa do dinheiro. Eu não digo que as pessoas que não tem dinheiro não sejam mundanas. Elas podem ser simplesmente pobres. Eu digo que as pessoas não são mundanas quando elas não mudam seus motivos por causa de dinheiro. Só por ser pobre não equivale a ser espiritual. E só por ser rico não é equivalente a ser um materialista. O padrão materialista de vida é aquele em que o dinheiro predomina acima de tudo. A vida não materialista é aquela em que o dinheiro é simplesmente um meio; a felicidade predomina, a alegria predomina, a sua própria individualidade predomina. Você sabe quem você é, e para onde está indo, e você não está se desviando. Então, de repente, você vê que a sua vida adquiriu uma qualidade meditativa.

Mas em algum ponto do caminho, todo mundo se perdeu. Você foi educado por pessoas que não se realizaram. Você foi educado por pessoas que não tinham saúde. Você pode sentir pena delas. Eu não estou lhe dizendo para ser contra elas. Eu não as estou condenando, lembre-se. Simplesmente sinta compaixão por elas. Os pais, os professores do colégio e da universidade, os chamados líderes da sociedade, eles foram pessoas infelizes. Eles criaram um padrão infeliz em você.

E você ainda não assumiu a sua própria vida. Eles viveram segundo uma interpretação errada, e essa foi a miséria deles. E você também está vivendo segundo uma interpretação errada.
A meditação ocorre naturalmente a uma pessoa feliz. A meditação ocorre naturalmente a uma pessoa alegre. A meditação é muito simples para uma pessoa que pode celebrar, que pode curtir a vida. Mas você tem tentado isso de uma outra maneira, e assim não é possível.

                                                                                       OSHO - A Sudden Clash of Thunder
                                                                                          (Tradução: Sw. Bodhi Champak)
Copyright © 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça.
Instituto Osho -    E-mail: oshoinstituto@uol.com.br
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domingo, 20 de setembro de 2020

Trecho da biografia de Bert Hellinger


..."A essa situação dei o nome de “movimento interrompido precocemente em direção à mãe”.

O que esse movimento interrompido em direção à mãe significa para o indivíduo? A vida vem até nós passando primeiro pela mãe. Assim como aceitamos nossa mãe, aceitamos nossa vida.

Seja o que for que tenhamos a criticar em nossa mãe, temos a criticar também em nossa vida. Quem se afasta da própria mãe, afasta-se da vida. 
Por isso, o primeiro êxito da vida se dá em nosso relacionamento com nossa mãe. Quem aceitou a própria mãe transmite alegria, é amado e logo atrai outras pessoas. A harmonia com a mãe é a chave para a felicidade.

No entanto, para muitos, ao ato de aceitar a própria mãe opõe-se uma experiência prévia. Até o quinto ano de vida, geralmente no período de três a quatro anos, são separados de sua mãe.

 É o caso, por exemplo, de uma criança que é entregue para outra pessoa por um período ou que ficou doente e a mãe não pôde visitar, ou ainda quando a mãe precisou se recuperar após ter adoecido. A separação é vivida pela criança como uma grande dor. “Onde ela está? Estou perdida?”, pergunta-se interiormente.

 Esse é um trauma, pois o movimento necessário não é possível. O desamparo de estar sem a mãe e o desespero de não poder ir até ela quando ela é tão necessária conduzem a criança a uma decisão interior. De repente, ela tem outra imagem interior da mãe, que está vinculada à dor e a uma crítica. Muitas vezes, a dor da separação também se transforma em raiva ou desespero. Nesse caso, a criança pensa: “Vou desistir dela”. “Vou ficar sozinha”. “Vou manter distância dela”. “Vou me afastar dela”. “Vou me
retrair; ninguém está realmente disponível para mim; estou por conta própria”.

Depois disso, a criança muda. Quando a mãe retorna, a criança a rejeita ao lembrar-se da dor e se retrai. Por exemplo, já não permite que a mãe a toque, fecha-se diante dela e de seu amor. Quando a mãe tenta aproximar-se e tomá-la nos braços, a criança a rejeita interior e muitas vezes também externamente. A  mãe acha, então, que fez algo errado e acaba por também se retrair. 
Assim, ambas já não conseguem se entender bem.

Isso também exerce influência na vida posterior. Muitas vezes, até mesmo como adulto uma criança como essa tem medo de proximidade. Ao se aproximar de alguém, lembra-se da dor do passado e interrompe o movimento.

No relacionamento de casal, por exemplo, em vez de procurar o outro, espera que o outro a procure. No entanto, a proximidade costuma ser pouco tolerada. Em vez de receber o outro com alegria, rejeita-o de diversas maneiras. Embora sofra com esse tipo de trauma, a pessoa reluta em se abrir e, quando o faz, geralmente é por pouco tempo.

Muitas vezes, passa por situação semelhante até mesmo com seu próprio filho. Não obstante todo o medo, quando a pessoa retorna à situação de separação e recupera o movimento interrompido interiormente ou em uma constelação familiar, ela consegue resolver esse tipo de trauma tanto no sentimento quanto na lembrança. 

Apesar da dor crescente, da decepção e da raiva do passado, com pequenos passos, caminha até a mãe e chega ao amor, até cair em seus braços, ser abraçada e segurada por ela e finalmente tornar a unir-se a ela."
Bert Hellinger - Meu trabalho , minha vida
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Aqui Bert narra uma parte de sua história, quando seus pais decidiram deixá-lo com os avós e permanecerem com seus dois irmãos, por razões que ele ignorava, e supunha ser para que os avós não sentissem demais quando ele partisse de sua cidade natal, para estudar.

Situação similar que acontece das mais diversas formas em muitas vidas, e com consequências tão dolorosas. Mas aqui não cabe questionamentos, suposições, nada... apenas a gratidão por termos ganho a vida de nossos pais - como eles são...com todas as histórias, erros e acertos. 

E é surpreendente , como ao nos conscientizarmos das Leis do Amor, e buscarmos a compreensão profunda das relações...tudo muda!
Bom início de semana para nós
Tais

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

A relação entre a integridade e o autoconhecimento

O conceito de integridade é definido no dicionário Priberam como: “qualidade de íntegro; caráter daquilo a que não falta nenhuma das suas partes”. Em sentido figurado, aparece também como sinônimo de retidão e honradez.

Assim, o primeiro significado diz mais respeito à chamada integridade física, que se refere ao estado físico de objetos e até mesmo de pessoas. É comum, por exemplo, ouvirmos dizer que a desatenção ao trânsito pode colocar em risco a integridade física das pessoas, como é o caso de um acidente.

No entanto, o foco deste artigo consiste mais no segundo significado de integridade, que diz respeito à chamada integridade moral. Uma pessoa é considerada íntegra quando age com ética e respeito, mantendo essa retidão de caráter por onde passe. A integridade de alguém é a mesma onde quer que esteja, pois, se alguém demonstra integridade no trabalho, mas não em casa, por exemplo, já deixou de ser íntegro.

Uma pessoa é ou não é íntegra. Não há como ser mais ou menos. A integridade de uma pessoa é composta por diferentes qualidades que serão explicadas nos próximos parágrafos. Além disso, se você deseja compreender a relação entre a integridade e o autoconhecimento, é só continuar lendo este artigo. Vamos lá?

Os 7 pilares da integridade

1. Respeito
O respeito é o primeiro e mais óbvio traço de caráter de alguém que é íntegro. Ele consiste em agir com consideração, deferência e estima pelas pessoas. Isso é válido para todas as pessoas de nosso convívio, como familiares, amigos e colegas de estudo e de trabalho.

Respeitar alguém é não invadir o espaço do outro, não agir com o outro de uma maneira que você não gostaria que agissem com você, ou mesmo fazer pelo outro algo que você gostaria que fizessem por você.

Ser gentil, educado, dizer “por favor” e “obrigado”, não falar mais alto do que o necessário, não interromper a tarefa de outra pessoa, bater à porta antes de entrar e jamais entrar num assunto que deixe a pessoa desconfortável são alguns dos comportamentos mais básicos do respeito, que devem ser aprendidos ainda na infância.

2. Moral e ética
O conceito de moral diz respeito aos costumes e hábitos de uma determinada cultura. Se alguém trabalha numa empresa com alta consciência ecológica, por exemplo, imprimir dezenas de páginas desnecessariamente é uma conduta que está fora da moral daquela empresa. Pessoas íntegras procuram respeitar esses hábitos, de acordo com o local em que estejam. Época, país e religião são alguns dos fatores que promovem mudanças na moral de uma sociedade para outra.

A ética, por sua vez, tem um caráter mais universal e permanente, e consiste numa reflexão mais profunda. Agir com ética significa agir de uma maneira que não interfira negativamente na sociedade como um todo e que, ao mesmo tempo, não interfira na individualidade dos outros.

Não se apropriar do que não te pertence e não prejudicar o outro em benefício próprio são atitudes de alguém com moral, ética e, consequentemente, integridade.

3. Tolerância
Ao mesmo tempo em que as pessoas íntegras têm fortes princípios éticos e morais que norteiam suas ações, elas sabem que também é preciso ser tolerante. Tolerância é a capacidade de aceitar as diferenças e entender que há pessoas que nem sempre vão concordar conosco ou agir da mesma forma.

Tolerar é permitir que cada um seja do jeito que é, evitando julgamentos, já que cada pessoa é dona de seu próprio ponto de vista. Contudo, a tolerância não deve ser confundida com a permissividade, que consiste em consentir ou omitir-se diante de atitudes sabidamente prejudiciais.

4. Humildade
A tolerância anda de mãos dadas com outro princípio básico da integridade: a humildade. Ser humilde não significa humilhar-se nem inferiorizar-se às outras pessoas. Ter humildade é reconhecer que cada pessoa tem o seu valor e que ninguém é melhor do que ninguém.

A pessoa íntegra e talentosa não precisa afirmar-se a todo instante sobre seus feitos e qualidades. Suas próprias atitudes demonstram isso de modo natural. As pessoas íntegras são livres de arrogância e vaidade e estão dispostas a ajudar o próximo e a pensar coletivamente, sem sombra de egoísmo.

5. Desapego
Outro aspecto muito importante das pessoas íntegras é o desapego. Há pessoas que acreditam que a felicidade está nas posses de bens materiais. No entanto, faz parte da integridade reconhecer que as posses são instrumentos que nos auxiliam a ter uma vida mais feliz e de mais qualidade, mas não são eles o significado da felicidade.

Pessoas íntegras valorizam muito mais as experiências e pessoas que fazem parte de seu convívio do que as coisas. Objetos são passageiros, e até mesmo algumas pessoas passam por nossas vidas e se vão. Assim, o desapego evita as nossas frustrações e permite que saibamos conduzir a vida com mais leveza.

6. Altruísmo
Altruísmo significa pensar no outro e em suas necessidades, deixando de tomar a si mesmo como a única pessoa que importa. É o antônimo do egoísmo. Pensar no outro, ser solícito e até mesmo solidário também são marcas de integridade, seja na vida pessoal, seja no ambiente de trabalho.

O altruísmo traz consigo outro importante componente da integridade que é a empatia, ou seja, não apenas a capacidade de pensar no próximo, como também de realmente colocar-se no lugar dele. É um traço dos íntegros pensar nas dores, nos problemas e nas necessidades do outro, procurando auxiliá-lo de alguma maneira.

7. Gratidão
Por fim, a pessoa íntegra sabe ser grata. É grata a todos aqueles, de que alguma maneira, lhe ajudaram, colocando-se também à sua disposição para retribuir o favor. Além disso, a pessoa íntegra sabe reconhecer o valor das coisas simples da vida – a natureza, o ar, a água, o alimento, a moradia, o emprego, o estudo, enfim, cada pequena conquista que, no fim das contas, constrói uma história de sucesso.

Quando agradecemos por tudo aquilo que possuímos, é como se comunicássemos ao universo que estamos prontos para receber mais e conduzir nossas vidas a um novo patamar. Por isso, pessoas íntegras sempre agradecem por suas conquistas, das pequenas às grandes. É assim que conquistam a prosperidade.
Por que o autoconhecimento nos torna mais íntegros?

O autoconhecimento é um exercício diário de observação e análise de nossos próprios comportamentos, atitudes, traços de personalidade, pontos fortes e pontos a serem melhorados.

Toda vez que uma pessoa faz essas autoavaliações, ela se compromete a dar continuidade àquilo que está indo bem e também a melhorar e aprimorar o que pode ser desenvolvido. Ou seja, é um exercício que estimula a humildade, a ética, o respeito, a gratidão, enfim, todos os itens citados que compõem o caráter de uma pessoa íntegra.

Conhecer a si mesmo é investir em nossa própria integridade. Dessa forma, o autoconhecimento é um ponto de partida para quem deseja tornar-se uma versão melhor de si mesmo a cada dia. Esta é a grande preocupação dos íntegros: nós não precisamos ser melhores do que as outras pessoas, mas apenas sermos melhores hoje do que fomos ontem – o que, com certeza, já não é pouca coisa.

E você, quais dos traços acima são os pontos fortes de sua integridade? Quais são aqueles que você sente que ainda precisa desenvolver mais? Deixe suas respostas nos comentários abaixo e não se esqueça também de compartilhar este artigo com quem mais possa se beneficiar dele.
Jose Roberto Marques - https://www.jrmcoaching.com.br/blog
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domingo, 6 de setembro de 2020

A sintonia

Entramos em sintonia com o movimento direcionado para a frente, contínuo. Portanto, também nos movimentamos para frente com ele, afastando-nos de algo que deixamos para trás, de algo que já passou. Nessa sintonia atingimos a calma, porém uma calma que está em movimento.

Ficamos calmos, porque dentro desse movimento somos bem sucedidos em algo. Somos bem sucedidos por irmos com esse movimento, mais precisamente, por sermos levados por ele.

Nem sempre experimentamos essa sintonia, pois frequentemente aquilo para onde as sintonias nos leva causar-nos medo. Para permanecermos em sintonia, necessitamos de toda nossa coragem. A sintonia nos solicita uma total entrega e todo o amor, o amor por tudo da maneira como é.

  • Na sintonia nos tornamos altruístas e totalmente puros. 
  • Na sintonia estamos unidos a tudo da maneira como é. 
  • Na sintonia tudo vem ao nosso encontro da maneira como é.

Abre-se para nós e modifica-se para nós, por estarmos em sintonia com isso. Somente no momento em que entramos em sintonia com o movimento do espírito no outro também entramos em sintonia com o movimento do espírito em nós.
O Amor do Espírito - Bert Hellinger-Ed Atman

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Para mim quando se fala em sintonia, em movimento do espírito, isso equivale a estar aberto e atento para o meu EU interior, para aquele feeling de temos de vez em quando - como resposta à algo. 

Se estou presente ouço as respostas. Se estou presente não me identifico. Se estou presente compreendo as leis de causa e efeito e aceito tudo como é, como foi.

Quando escrevo "como foi", isso se refere a minha ancestralidade também...e não somente minha vida atual.

Como assim?

Pensemos:
Tudo o que somos hoje é graças aos nossos pais e antepassados. Eu tenho certeza absoluta desta verdade. Recebemos deles (DNA, históricos familiares, evolução das aprendizagens, facilidades, dificuldades, etc...)

Como explicar a facilidade de um bebê ao manipular um celular nos dias de hoje? Muitos que vieram antes já passaram por situações e abriram os caminhos para os seus descendentes. Por isso a gratidão deve estar sempre presente em nosso coração - isto é o movimento do espírito. Algo começou há muito tempo e passou por muitos... e agora, chega até nós.

Sem julgamento, crítica ou idealizações.

Assim como as dificuldades que existem hoje em minha vida ou as facilidades - são elas que levarei adiante , aos que virão depois...

Partindo deste princípio, como posso permanecer sem gratidão e sem olhar para o que é necessário nesta vida? Aqui muitas coisas a pensar, sentir, e soltar.

Boa semana.
Tais