domingo, 20 de setembro de 2015

Você tem queixas ou ressentimentos?

Queixas e ressentimentos

          "Queixar-se é uma das estratégias prediletas do ego para se fortalecer. Cada reclamação é uma pequena história que a mente cria e na qual acreditamos inteiramente. Não importa de ela é feita em voz alta ou apenas em pensamento. Alguns egos que talvez não tenham muito mais com o que se identificar sobrevivem apenas com queixas, Quando estamos presos a um ego assim, reclamar, sobretudo de alguém, é algo habitual e, é claro, inconsciente, o que mostra que não sabemos o que estamos fazendo. Uma atitude tópica desse padrão é aplicar rótulos mentais negativos às pessoas, seja na frente delas ou, como é mais comum, falando sobre elas com alguém ou até mesmo pensando nelas. Xingar é o modo mais rude de atribuir esses rótulos e de mostrar a necessidade que o ego tem de estar certo e triunfar sobre os outros: "idiota", "desgraçado", "prostituta", todas essas afirmações definitivas contra as quais não se pode argumentar. No nível seguinte, descendo pela escala, estão os gritos. Não muito abaixo disso se encontra a violência física.

          O ressentimento é a emoção que acompanha a queixa e a rotulagem mental dos outros. Ele acrescenta ainda mais energia ao ego. Ressentir-se significa ficar magoado, melindrado ou ofendido. Costumamos nos sentir assim em relação à cobiça das pessoas, à sua desonestidade, à sua falta de integridade, ao que estão fazendo no presente, ao que fizeram no passado, ao que disseram ou deixaram de dizer, à atitude que deviam ou não ter tomado. O ego adora isso. Em vez de detectar a inconsciência nos outros, nós as transformamos em sua identidade. Quem é responsável por isso? Nossa própria inconsciência, o ego. Algumas vezes, a "falta" que apontamos em alguém, nem mesmo existe. Ela pode ser um erro total de interpretação, uma projeção feita por uma mente condicionada a ver inimigos e a se considerar sempre certa ou superior. Em outras ocasiões, a falta pode ter ocorrido; contudo, se nos concentrarmos nela,, às vezes excluindo todo o resto, nós a tornamos maior do que é. E dessa maneira fortalecemos em nós mesmos aquilo a que reagimos no outro.

          Não reagir ao ego das pessoas é uma das maneiras mais eficientes de não só suportarmos nosso próprio ego como também dissolver o ego coletivo. No entanto, só conseguimos nos abster de reagir se somos capazes de reconhecer o comportamento de alguém como originário do ego, como uma expressão do distúrbio coletivo da espécie humana. Quando compreendemos que não se trata de nada pessoal, a compulsão para reagir desaparece.  Não reagindo ao ego, muitas vezes podemos fazer aflorar a sanidade nos outros, que é a consciência não condicionada em oposição à consciência condicionada. Em determinadas ocasiões, talvez precisemos tomar providências práticas para nos proteger de pessoas profundamente inconscientes. Isso é algo que temos condições de fazer, sem torná-las nossas inimigas. Nossa maior defesa, contudo, é sermos conscientes. Alguém passa a ser um inimigo para personalizarmos a inconsciência que é o ego. A não reação não é fraqueza, mas força. Outra palavra da não reação é perdão. Perdoar é ver além, ou melhor, é enxergar através de algo. É ver, através do ego, a sanidade que há em cada ser humano como sua essência.

          O ego adora reclamar e se ressente não só de pessoas como de situações. O que podemos fazer com alguém também conseguimos fazer com uma circunstância: transformá-la num inimigo. Os pontos implícitos são sempre: isso não devria estar acontecendo, não quero estar aqui, o tratamento que estou recebendo é injusto. E, é laro, o maior inimigo do ego acima de tudo isso é o momento presente, ou seja, a vida em si.

          Não confunda a queixa coma atitude de informar alguém de uma falha ou de uma deficiência para que elas possam ser sanadas. Alem disso, abster-se de reclamar não corresponde necessariamente a tolerar algo de má qualidade nem um mau comportamento. Não há interferência do ego em dizermos ao garçom que a comidas está fria e precisa ser aquecida - desde que nos atenhamos aos fatos, que são sempre neutros. "Como você se atreve a me servir uma sopa fria?" Isso é se queixar. Nessa situação existe um "eu"que adora  se sentir pessoalmente ofendido pela comida fria e ele aproveitará esse fato ao máximo, um "eu" que aprecia apontar um erro de alguém. A reclamação a que me refiro está a serviço do ego, e não da mudança. Algumas vezes fica obvio que o ego não deseja que algo se modifique para que possa continuar se queixando.

          Veja se você consegue capturar, ou melhor, perceber, a voz na sua cabeça - talvez no exato instante em que ela esteja reclamando de algo - e reconhecê-la pelo que ela é: a voz do ego, não mais um padrão mental condicionado, um pensamento. Sempre que a observar, compreenderá que você não é ela, e sim aquele que tem consciência dela. Na verdade, você é a consciência que está consciente da voz. Atras, em segundo plano, está a consciência. À frente, se situa a voz, aquele que pensa. Dessa maneira você está se libertando do ego, livrando-se da mente não observada. No momento em que você tornar consciente do ego, a rigos ele não será mais o ego, e sim um velho padrão mental condicionado. O ego implica em inconsciência. Ele e a consciência não conseguem coexistir. O velho padrão mental, ou hábito mental, pode sobreviver e se manifestar por um tempo porque tem impulso de milhares de anos de inconsciência humana coletiva atras de si. No entanto, toda vez que é reconhecido, ele se enfraquece."
Eckhart Tolle - O despertar de uma nova consciência
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Este texto lembrou-me de muitas pessoas que preferem a condescendência mútua, achando que isto sim é compreensão e perdão! Doce ilusão...isto é apenas a força do ego.
Mudar padrão não é fácil, mas também não é impossível; basta perceber e querer modificar-se.
A grande questão é: "Eu quero?" Às vezes a pessoa prefere manter o padrão (muitas vezes inconscientemente), pois assim estará segura das consequências, mesmo que sejam más. 
Mas a pergunta é: "Eu quero um mundo novo? Pode parecer que minhas pequenas mudanças não irão mudar o mundo...mas não é assim! Experimente e sinta o prazer de poder modificar-se, de sentir uma resposta melhor à sua volta - das pessoas da família e das suas relações em geral.
Boa semana!
Taís 

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