domingo, 18 de outubro de 2015

Prazer e dor - a eterna gangorra da Vida


"Como lidar com isso que parece tão difícil de mudar? Essa dinâmica na vida de experimentar prazer e dor, inclusive, nas mesmas situações. Em um momento nos alegramos, é tudo o que queremos; em outro, queremos fugir, acabar com tudo, desaparecer. A mesma pessoa, o mesmo vínculo é capaz de nos causar essas emoções tão antagônicas e não conseguimos deter esse processo. Prazer e dor são energias conflitantes, que se reforçam mutuamente. Quanto mais prazer, mais apego ao que gostamos. Isso leva inevitavelmente ao medo e ao sofrimento de perder esse “bem precioso”. Uma vez que nada dura para sempre, é questão de tempo. A mudança chega e traz a dor com ela, pois as circunstâncias da vidas mudam a todo momento e não podemos detê-las. Aí vem a aversão, a fuga, o não querer sentir, a raiva, as compulsões e tentativas de se livrar daquilo que nos machuca. 

Um dia amor, outro dia ódio, um dia alegria, outro tristeza. E vamos seguindo nessa gangorra da vida, nesses altos e baixos, sendo arrebatados pelos ventos e tempestades emocionais, sem conseguir atracar em lugar seguro. Quanto mais a intenção de conter essa dinâmica, mais preso se torna a ela. Como esse mecanismo é parte da vida, do fluir e contrair, do nascer e morrer de todas as coisas, é impossível dominá-lo e tentar deter. O que nos resta é aceitar o que vem, aceitar o que vai. Assim como as ondas do mar, contemplar a natureza da vida e encarar os fatos com mais naturalidade ao invés de querer mudar o que é. Isso traz um profundo sentimento de paz interior. Aceitar as coisas como são é sinal de amadurecimento emocional e espiritual. Abrir mão do controle e do desejo de ter as coisas do seu próprio jeito é uma forma de exercitar a tolerância e aceitação dos movimentos da vida, do ritmo e escolha do outro, do jeito de ser de cada um, do tempo de despertar que está ao alcance de todos, apesar de ser muito distante para a grande maioria.

Isso é um fato: nossa condição humana revela exatamente onde estamos. Não há a quem cobrar essa fatura pois somos nós que nos colocamos onde estamos. Transferir o problema para o outro é ilusão e perda de tempo. O problema é interno e cabe a cada um olhar, entender, assimilar, reconhecer e transmutar. É um eterno caminhar, pois a consciência tem graus infinitos; a cada passo, um novo desafio, pois eles são muitos. Querer saltar os obstáculos da vida para fugir da dor não resolve. Eles permanecem guardados, arquivados e virão à tona no devido tempo. E o que é pior, chegam causando estragos! O que se reprime, torna-se sombra. Àquilo que resiste, persiste. Essa combinação da sombra com as repetições dos padrões comportamentais e emocionais formam cristalizações difíceis de serem dissolvidas. Por isso dizemos o que queremos, mas não praticamos essa intenção. Há uma tremenda distância entre entender mentalmente o problema e o que precisa ser mudado e a mudança em si. De teoria o mundo está cheio. O treinamento vai além das palavras, rótulos, repetições verbais. Um passo, depois outro, pensar diferente, fazer diferente, ser diferente, sentir, falar e agir diferente. Assim a mudança acontece. Falar apenas, não adianta.

Daí, se a mesma situação surgir, veja claramente as emoções e sentimentos que ela causa. Se é prazer, desfrute-o no momento presente, viva-o, sinta-o, mas não pense no outro dia, como será, o que vai acontecer depois... Você não tem o outro dia, você só tem o agora. Então, fique aqui com ele, sem querer fugir. Se conseguir fazer assim, boa parte do sofrimento desaparece. Muito da dor tem a ver com a mente projetada no passado ou futuro, querendo respostas e garantias de que o que é bom vai durar para sempre e o que é ruim nunca mais vai acontecer. Isso é ingenuidade, pois o controle não existe quanto se trata da existência. Nem ao menos conseguimos controlar nossa própria respiração. A maioria do tempo ela acontece alheia à nossa vontade. Quando dormimos, nem ao menos nos damos conta que respiramos e temos um coração batendo. Estamos literalmente sonhando o tempo todo. E dentro do sonho, também sonhamos que não vamos sofrer, que vamos atravessar o rio da ignorância para a sabedoria sem passar pelas tormentas e angústias que fazem parte do despertar. Se a tristeza chega, ela traz em si um ensinamento. Então, aceite-a também pois ela pode ser uma bela amiga quando lhe revela algo importante a respeito de si mesmo. Sinta a dor sem preferências, sabendo que assim como os bons ventos passam, as tempestades e tormentas também vão passar. Nada dura para sempre, lembra?

Aceite o que vem, aceite o que vai. Ontem lá em cima, agora aqui em baixo. É assim, um eterno surgir e desaparecer. Vida e morte juntas, no mesmo momento. É tão natural isso quando olhamos a natureza, as árvores, o mar, o rio, o sol, a lua. Somos tudo isso também, não somos algo separado de tudo o que nos cerca. E contemplando a trajetória do sol desde o alvorecer ao entardecer, é possível perceber a naturalidade desse movimento. Assim também pode ser conosco. Brilhar, aparecer, crescer, apagar, desaparecer e voltar a brilhar. Não prazer, não dor, não apego não aversão. Apenas aquilo o que é, no aqui e agora."
Valeria Bastos
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Quando algo que consideramos trágico acontece, nós ou resistimos ou nos resignamos. Há pessoas que se tornam amargas ou muito ressentidas, enquanto outras se mostram mais solidárias, sábias e afetuosas. A resignação significa a aceitação interior do que aconteceu. Ficamos abertos à vida. A resistência é uma contração interior, um endurecimento da concha do ego. Permanecemos fechados. Seja qual for a ação que adotemos num estado de resistência interior (que podemos também chamar de negativismo), ele criará também mais resistência externa, e o universo não estará do nosso lado, a vida não nos beneficiará. Se as persianas estiverem fechadas, o sol não conseguirá entrar. Quando nos submetemos internamente, ou seja,  no momento em que nos entregamos, uma nova dimensão da consciência se abre. Caso uma ação seja possível ou necessária, essa atitude será alinhada com o todo e apoiada pela inteligência criativa,  a consciência incondicional com a qual nos unificamos num estado de receptividade interior. As circunstância e pessoas então se tornam favoráveis, cooperativas. Coincidência acontecem. Se nenhuma ação for possível, repousaremos na paz e no silêncio interior que acompanham a resignação. Descansaremos em Deus.
Tais

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