domingo, 17 de dezembro de 2017

Final de ano e os filhos: importantíssima reflexão

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Final de ano é hora de colocar na balança as conquistas e o que ficou por trabalhar. Nas escolas é o momento dos conselhos de classe, relatórios e boletins. Chegou a hora, enfim, das decisões importantes.

Se as avaliações ocorreram processualmente, ao longo do ano letivo, família, escola e aluno podem olhar para os resultados como uma consequência natural de suas ações.

No entanto, quando no balanço de fim de ano observa-se que as coisas na vida escolar do aluno não ocorreram como deviam, um sentimento de fracasso toma conta de pais e professores e uma pergunta inevitavelmente se coloca: afinal, de quem é a culpa?

Antigamente, não havia dúvida a esse respeito: pais e mestres, cientes de seu dever cumprido, castigavam e reprovavam as crianças e os jovens, sem maiores discussões. Aqueles que insistiam em ser maus alunos, muitas vezes, eram retirados da escola por seus familiares e colocados no mercado de trabalho, para exercer funções condizentes com o grau de escolarização que haviam conseguido atingir. Ou as escolas os expulsavam.

Nos dias atuais, no entanto, nos parece que o desempenho escolar preocupa mais as famílias (por não terem cumprido corretamente o seu papel, sendo assim, reprovados, socialmente, na função paterna e materna) e as escolas (por não terem conseguido ensinar adequadamente, apesar das inúmeras revisões de planejamento, das diversas formas de intervenções individualizadas, das reuniões com os especialistas, etc.), do que os próprios alunos que, em tese, deveriam ser os maiores interessados.

Desse modo, enquanto os adultos ficam à procura de motivos para descobrir quem é o culpado, algumas crianças e jovens lavam as mãos, retirando-se de cena, como se aquela situação não tivesse nada a ver com eles, com sua postura frente aos estudos e ao futuro.

Esse quadro remete provavelmente à nossa dificuldade em permitir que as crianças e os adolescentes sofram as consequências de suas ações que, muitas vezes, implicam perda, sofrimento e dor.

Decidir sobre a aprovação ou reprovação de um aluno não é tarefa fácil para ninguém. Até porque, nos dias atuais temos claro que o processo de aprendizagem é algo complexo que não deve ser medido somente pelas notas obtidas nas provas.

No entanto, como foi dito no inicio do texto, se o processo de avaliação foi pautado em ações do cotidiano escolar, deixando claro para o aluno o que precisava aprender e produzir ao longo do ano letivo, ele poderá perceber que, apesar dos pais e dos professores estarem envolvidos e desejando sinceramente auxiliá-lo nessa etapa de vida, há uma parte nesse caminho que só ele pode realizar.

Carla uma exuberante adolescente de 15 anos, muitos amigos, garota popular, agenda lotada com baladas e eventos. No decorrer do ano letivo, esse excesso de exuberância e diversão, começou a atrapalhar sua vida escolar: lições não entregues, trabalhos negligenciados, notas baixas nas provas.

A escola, percebendo, que essa euforia de Carla poderia lhe acarretar sérias consequências, passou a sinalizar tanto para ela quanto para os seus pais a necessidade de se colocar limites para que lhe sobrasse energia para os estudos.

Nessas conversas podia-se observar a dificuldade que seu pai e sua mãe tinham em contrariá-la em seus desejos adolescentes, sempre tão fortes e urgentes:

…. como assim? É a festa da minha melhor amiga;

… todo mundo vai, mano! Só vocês que não me deixam;

…não estou entendendo…vocês vão me impedir de ir nesse lugar maravilhoso???? Nunca mais vai rolar isso na minha vida!!!

…mãe, hoje não vou estudar, lembra? Eu falei sim! Combinei com todas as minhas amigas que a gente ia ver a roupa para a festa…claro que eu avisei…tenho culpa que você não presta atenção.

Como previsto, Carla ao finalizar o ano, pegou muitas recuperações e estava na eminência de ser reprovada. Os pais mais do que depressa providenciaram uma agenda lotada de aulas particulares. Em algumas matérias, no entanto, não obteve a nota necessária, indo para conselho de classe, sendo reprovada pela maioria dos seus professores.

A reação tanto dos pais quanto da menina, diante de tal resultado, foi de surpresa, indignação e vergonha. O pai e a mãe, por sua vez, ao verem a filha entristecida queriam arrancá-la desse estado emocional o mais rápido possível, desse modo, foram à escola conversar com o coordenador e o diretor, na busca aflita de reverter esse quadro; posto que não aguentavam ver a filha naquele estado de tristeza. Optaram, então, por uma reavaliação em outra instituição que a promoveu para o ano seguinte.

Será que tirá-la rapidamente da dor e da tristeza foi a melhor solução? Será essa uma forma adequada de nós adultos ajudarmos as crianças e adolescentes a se implicarem em sua própria vida e com as consequências de seus atos?

No sensível filme da cineasta Anna Muylaert, A que horas ela volta?, exibido nas telas de cinema, em 2015, Fabinho um adolescente pertencente a uma família abastada, ao não passar na primeira fase do vestibular, apesar de todas as condições externas favoráveis para obter sucesso nessa empreitada, diante de seu sofrimento, os pais aliviam a frustação do filho ofertando-lhe um intercambio fora do país.

Temos assistido cada vez mais cenas parecidas como essa mostrada no filme, pois vivemos um bombardeio midiático que busca enaltecer a necessidade de se evitar qualquer vestígio de infelicidade ou frustração de nossas vidas ou da dos nossos filhos. Somos escravizados, assim, pela tirania dos nossos desejos, que nem sempre consideram a realidade, nos tornando seres humanos frágeis, insatisfeitos e pouco resilientes. Seres humanos com pouco espaço interno para pensar, refletir e construir conhecimentos, atos, esses, pessoais e intransferíveis, tão necessários para o enfrentamento complexidade da vida.



Maria Cristina Labate Mantovanini e Patricia Torralba Horta
https://reflexaoedigestao.wordpress.com
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Questões profundas..como as crianças e jovens podem descobrir quem são sem a ajuda dos pais e professores?
A criança descobrirá a si própria se o ambiente no qual ela vive ajudá-la a fazê-lo. Se os pais e professores estiverem realmente preocupados que essa jovem pessoa descubra quem ela é, eles não a forçarão; criarão um ambiente no qual ela poderá vir a se conhecer.
Se sentirem que é importante para a criança descobrir sobre si mesma e que ela não o conseguirá se for dominada por uma autoridade, vocês não ajudariam  a formar um ambiente propício? Trata-se, novamente, da conhecida atitude: diga-me o que fazer e eu farei: Não falamos: "Vamos resolver juntos." O problema de como criar um ambiente no qual a criança possa ter o conhecimento de si mesma preocupa todos - pais , professores e as próprias crianças. Mas o autoconhecimento não pode ser imposto, a compreensão não pode ser forçada;  e se isso for um problema vital para vocês, para pais e professores, então juntos criarão escolas adequadas. 

Mas lembremos: a educação inicia-se em casa.
A função da educação é ajudá-los desde a infância a não imitar alguém, mas, sim, a ser vocês mesmos o tempo todo. E isso não é fácil de ser feito. Se são feios ou bonitos, invejosos ou ciumentos, sejam sempre o que são, porém com consciência. Ser vocês mesmos é muito difícil, porque se consideram desprezíveis, e pensam que se não puderem simplesmente transformar o que são em algo nobre seria maravilhoso; mas isso nunca acontece. porém se olharem para o que realmente são e compreenderem isso, então ocorrerá nessa compreensão uma transformação. 

Portanto a liberdade não está em tentar ser algo diferente, em fazer aquilo que gostariam, em seguir  um exemplo de tradição, de seus pais, do seu guru, mas em compreender o que vocês são a cada momento.
Essas mudanças inicia-se nos pais, e que, por consequência, manifestar-se-á nos filhos. Afinal os filhos são filhos de quem? De que família? De que histórias?
Pensemos ... 
Boa semana
Tais


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