domingo, 17 de março de 2019

O tomar e o soltar a vida

                                       

A vida vem de longe e nós não sabemos onde é a sua nascente. Ela flui de longe para nós. Não que a tenhamos. Ela  nos toma a serviço e nos deixa cair de volta a origem, seja ela qual for.

A alma conhece a origem e a procedência da vida. E ela tem uma ânsia de voltar a origem-depois de algum tempo. Assim como a vida nos captura, sentimo-nos carregados por ela e sabemos, ao mesmo tempo, que ela está suspensa por um fio de seda. Esse fio se rompe depois de algum tempo - e nós submergimos de volta a origem.

A alma não tem medo desse movimento. O eu, às vezes, tem medo. Menos do voltar a submergir do que é da dor da transição. Quem está em harmonia com esse movimento, comporta-se de acordo com aquilo que apoia vida. Pois a vida, quando nos captura, exige de nós também aceitação desse movimento. Assim, estamos tanto em harmonia com a vida como também com o fim, quando chegar hora.

Existe um tempo e uma ordem adequados para esse movimento à vida e, então, de volta à origem. Existem, por exemplo, algumas que renunciam a vida antes do tempo, quando o movimento ainda não está realizado. Fazem isso a partir de um movimento interno que é pretensioso. Se, por exemplo, uma criança perde cedo um de seus pais, então tem ânsia de ir para o pai e mãe ou, também para um irmão que morreu precocemente. Ela acha que se ceder a esse movimento os reencontrará de uma maneira que corresponde a experiência da vida. 

Essa ideia é infantil. Frequentemente, a criança tem nisso ainda a ideia de que o(a)morto (a)se alegra se ele (a)vier ter com ele (a), assim como se existisse um reencontro familiar. Todas essas ideias menosprezam que os mortos já não vivem, pelo contrário, tornam a submergir.

Em Tristão e Isolda, Wagner chama isso de eterno esquecimento original. Seria a origem. Lá não existem mais relacionamentos no sentido daqueles da vida. Se alguém tiver a ideia de que possa rever os mortos, então menospreza a profundeza e o definitivo desse movimento.

Freqüentemente, com isso está ligada a ideia de que se poderia não somente alegrar os mortos, mas, talvez, ainda salvá-los. Essa ideia é, frequentemente, uma das predisposições importantes para uma doença séria. A solução seria reencontrar o caminho de regresso ao grande contexto e deixar se recapturar e carregar pela vida, tanto quanto a vida queira e permita. Então, esta-se em harmonia. Disso resulta frequentemente algo benéfico para a doença e o tempo que resta é prolongado.

Esse é um lado. Mas existe um outro lado. Alguns seguram a vida para além do tempo, embora já tenha terminado. Então, eles perturbam o movimento da alma. Demasiado tratamento intensivo é uma tentativa de parar esse movimento, apesar de que, no fundo, tudo tenha terminado. Muitos médicos e terapeutas são até obrigados a fazê-lo, interferindo no movimento para a morte.
A fonte não precisa perguntar pelo caminho - Bert Hellinger
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Muitos acreditam que os mortos permanecem ao nosso lado por um tempo e se afastam lentamente. Por isso a importância de "fazer o luto", respeitar a dor por um período.

Existem aqueles que fazem por um período longo, ou seja, passam uma vida cultivando a dor da perda ( choram, não se colocam na vida, permanecem tristes, não os respeitam, esquecem, etc). Estes não querem saber nada deles ou se tem medo.
Porém, quando o luto, a dor... alcança seu objetivo, e somente aí, respeitamos e honramos os mortos , e eles podem se retirar.
Então a vida terminou para eles, e podem se retirar.

Se liberamos os mortos, eles atuam sobre nós positivamente, sem que nos incomodem, sem que seja necessário um esforço especial de nossa parte.
Ufa...profundo isso!
Ficarei com a reverberação deste texto em meu íntimo, por esta semana.
Tais

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